Natasha- Parte 2
Então o Conde Drácula entrara no quarto e sentara na beira da cama. Disse que ela estava em seu castelo como sua hóspede, estava sob sua proteção e poderia ficar o tempo que quisesse. Explicou que ela agora era igual a ele, uma vampira bebedora de sangue, uma criatura da noite, que era imortal e seria jovem e bela para sempre. Natasha lembrava - com que amargura- que ficara muito feliz na época, apesar da perda de todos os seus entes queridos. Jamais doenças, nem velhice, nem morte. Drácula foi seu primeiro amante, tirou sua virgindade.
Depois Natasha saiu pela Europa a frequentar as cortes reais, pois todas as portas se abriam para seu sangue nobre e sua arrebatadora beleza. Tinha todos os homens aos seus pés, reis, príncipes, guerreiros famosos. Eles a cobriam de ouro e jóias, e ela bebia-lhes o sangue até matá-los.
Tinha seu próprio castelo, aquele castelo agora em ruínas, e era uma rainha poderosa em seus domínios.
Natasha debruçou-se na janela e continuou a recordar. Quantas coisas testemunhara naqueles oito séculos! Já tinha mais de 200 anos quando Colombo descobriu a América. Com sua fortuna e prestígio escapara da Santa Inquisição, que matara tantos de sua espécie nas fogueiras. Testemunhara a reforma protestante de Lutero, o surgimento da imprensa, o Renascimento, as Grandes Navegações, o surgimento de jovens e vastas nações como os Estados Unidos e o Brasil, a Revolução Francesa, as inúmeras modas de vestidos, infindáveis dinastias, e depois o século XX com a Revolução Russa e as invenções mais incríveis de que o homem fora capaz. Energia elétrica, antibióticos, vacinas, telefone, cinema, rádio, televisão... mas também as duas guerras mais mortíferas da história.
E então chegara ao século XXI e ao mundo globalizado, o reinado da Internet. Natasha suspirou. Chega um momento em que nada mais vale a pena... cansara de desfolhar os séculos entre os dedos como pétalas de rosa. Um século, uma rosa, qual a diferença? Ambos murcham e se desfazem...
Agora Natasha preferia ter morrido juntamente com sua família, a viver uma eternidade sem esperança, de vazio e maldição... de solidão. Cada vez tinha mais saudade de seus pais, de suas irmãs e irmãos, era como se os tivesse perdido ontem... e saudades de Dimitri.
Dimitri era um ano mais velho que ela. Olhos azuis, lindo e bom como um anjo, filho de um nobre amigo de seu pai. Ele morrera após quebrar o pescoço numa queda de cavalo, dias antes da peste vitimar sua família e ela se tornar uma vampira. Os dois se amavam, tinham planos, tinham sonhos. Vampira... de que adiantava ser imortal, se não podia trazer Dimitri nem seus familiares de volta? Natasha então decidiu que iria ao encontro deles.
O mundo era árido. Seduzir homens e morder-lhes o pescoço já não a atraía mais. Logo a tecnologia iria devorar aquele último canto remoto onde ela se refugiava. Não havia mais lugar para Natasha nesse mundo. Então ela lembrou da estaca de madeira ponteaguda que um caçador de vampiros deixara no castelo cerca de 100 anos atrás, mas fora morto por ela. Procurou pelos cantos empoeirados até encontrá-la.
Se já estava morta, que segredos a morte guardaria para ela? Natasha ergueu a estaca e mirou-a bem no meio do coração. Um grito terrível... espuma sangrenta... um corpo sensual que se desfaz em pó... e uma alma cheia de pecados voou, como um pássaro agourento, para as regiões tenebrosas do Hades.
FIM