666 - 3ª parte
Yuri e Maria Clara estavam sentados em suas camas, lado a lado. De frente, Ana e Will, na mesma situação. Aninha pediu para deitar no colo de seu amigo, estava cansada demais com toda aquela situação.
- O que... vamos... fazer... agora? – perguntou Maria Clara. Ainda tremia com medo daquele vídeo assustador.
Yuri deu de ombros.
- Alguma ideia, Will? – perguntou, para Will
- Só tem uma coisa que possamos fazer... – disse
- E isso seria exatamente o quê?
- Irmos aonde tudo ocorreu! Lá poderá estar respostas para essa confusão toda!
- E..Eu ia dar a ideia de sairmos daqui! – disse Aninha – Depois do que vi no vídeo, não quero ir aonde eu posso ser eviscerada viva!
- Assino embaixo! – disse Clarinha
- E para onde iremos debaixo da chuva e a pé, às quatro da manhã? – perguntou Will
Clara e Ana emudeceram-se. Por um instante, o silêncio reinou absoluto no recinto.
- É... – disse Yuri. Respirou fundo – Parece que não temos outra escolha. – parou um instante. Virou o foco do olhar para seu amigo – A responsabilidade está em suas mãos, Will!
Will abriu a porta. Carregava consigo a lanterna. Junto dele, caminhava Aninha, abraçada em seu amigo. Logo atrás, Maria Clara e Yuri. As garotas, principalmente Ana, tremiam de medo. Temiam sair novamente na escuridão da noite pelo prédio abandonado.
Caminharam a passos vagarosos pelo corre-dor. Como temiam qualquer manifestação sobrenatural, Will procurava por todos os lugares a fim de se certificar de que tudo estava nos conformes.
O ranger da madeira podre reinava absoluto e seu eco se transformava em algo assustador.
Caminharam, caminharam, caminharam... o
corredor parecia eterno. Rezavam para chegar o mais cedo possível ao local, mas caminhavam para que o local nunca chegasse. Mas chegou. Desceram as escadas focalizando a lanterna no primeiro andar. Estava completamente vazio.
Chegaram ao corredor do primeiro andar e viraram o corpo em direção à cozinha. Tinham absoluta certeza de que o corredor estava vazio, entretanto, ao dar as costas ao mesmo, sentiam um frio sobrenatural percorrer pelas espinhas, o coração disparava, aflito, a respiração ofegava. Sentiam como se o tempo congelasse, pareciam paralisados, agrilhoados àquele fenômeno causado pelo medo, o medo de passarem novamente por essa desagradável situação ocorrida no mesmo local, ou por virem a passar por situação análoga à do vídeo.
Will abriu a porta de correr da cozinha. O quarteto adentrou rapidamente no recinto e fecharam a porta.
- Sabe onde fica a passagem secreta? – perguntou Yuri
Will meneou positivamente a cabeça. Começou a procurar na parede, no exato ponto onde o cinegrafista abrira no vídeo. Sentia o coração bater violentamente, sentia o corpo tremendo violentamente. E se ocorresse com eles o mesmo que aconteceu com o cinegrafista, no vídeo? Todavia, veio à sua mente uma resposta mais racional, mais esperançosa. Se o cinegrafista morrera eviscerado neste lugar, e ele ficou fechado desde o fato, quem recuperou a fita gravada e colocou-o na internet? E, ao que tudo indica, houve outros casos de poltergeist, como possivelmente visto pelo historiador um ano depois, e outros, uma vez que o vídeo chamava-se “Vídeo do Primeiro Poltergeist no Prédio Sede do Blutrot”. Se o vídeo assim se chamava, era porque outros poltergeist aconteceram ulteriormente. Entretanto, o medo do sobre-natural tomava conta de seu corpo.
Will abriu a passagem secreta. Adentrou primeiro, seguido de Aninha. Em seguida, entraram Yuri e sua namorada.
O lugar estava estranhamente limpo, sem teias de aranha tomando o lugar, sem lodo tomando as paredes e chão, por mais úmidas que as primeiras estivessem.
Nas paredes, havia diversos quadros, todos retratando pessoas vestidas extremamente iguais – com os trajes característicos dos teilnehmer.
Will passou vislumbrando o lugar, enquanto o grupo descia as longas escadas que davam ao sub-solo.
Visualizando um dos diversos quadros representativos, sobressaltou-se ao perceber de este representava justamente o algoz dos Blutrot.
- Andrei Kazigarov! – Will leu os escritos sob o quadro
- É o nome do desaparecido e suspeito número 1 no assassinato do grupo. – disse Yuri
- E é o mesmo homem que aparece em meu pesadelo... – disse Will – E que disse meu nome... – continuou, em seus pensamentos. Ainda se perguntava quem era aquele homem e por que ele sabia seu nome.
Yuri faz sinal para que o grupo continuasse a caminhada. Partiram. Pouco depois, chegaram à curva da escada. Naquele instante, conseguiram visualizar todo o subsolo. Era um imenso espaço aberto, sem nenhuma parede central. Estava completamente mobiliado. No centro, um símbolo, idêntico ao do pesadelo de Will, com velas acesas em seu contorno. Logo atrás do símbolo, uma imensa cadeira, diferente das demais presentes.
- Parece que é aqui mesmo o refúgio dos Blutrot! – disse Yuri. O quarteto vislumbrava o subsolo enquanto descia os degraus da escada.
- É igual ao meu pesadelo... – pensou Will. Estava perplexo, tudo estava exatamente na mesma posição, o símbolo, a cadeira do Offen-Kaiser, as demais cadeiras...
O quarteto não havia se dado conta, mas não era apenas ao sonho de Will que o subsolo real estava exatamente igual...
Continuaram a descer as escadas. Repentina-mente, para surpresa de Will, Yuri e Clarinha, Ana desvencilhou-se de William e começou a andar na sua frente.
- Está tudo bem, Aninha? – perguntou Will
- Que a vela eterna da vida sobressaia à escuridão da morte! – respondeu a garota. Parecia divagar.
Aninha continuou a descer as escadas. Will sentiu seu peito queimar de preocupação, mesmo sem saber preocupação quanto a quê.
- Aninha... – disse
- Aninha... – chamou Yuri. Estava igualmente preocupado.
Aninha continuou a descer as escadas.
- Que rufem os tambores, e que a alma dos amaldiçoados seja a fonte que destrua as estruturas universais que separam os vivos dos mortos!
- Engraçado... – pensou Will – Eu já ouvi essa frase antes... – estava pensado. Repentinamente, sobressaltou-se ao se lembrar de onde ouvira essa frase. Do vídeo macabro!
- Merda! – gritou. Correu em direção a Aninha. Contudo, antes de chegar à garota, esta começou a flutuar, em direção ao centro do local.
O quarteto começou a ouvir barulhos de tambor ressoados no local. Apesar do espaço aberto, não houve ampliação do estranho som.
Yuri, Will e Clarinha entraram em desespero. O vídeo estava se repetindo, e o alvo naquele instante era Aninha.
- Eu falei que não era uma boa ideia vir para cá! – disse Yuri, irritado
- Depois reclame sobre isso. Ajude primeiro a salvar a Aninha! – Will descia as escadas tropeçando degraus. Largara a lanterna no meio da escada; pouco se importava com ela naquele instante.
O rapaz logo chegou ao piso do subsolo. Yuri tentou saltar para salvar sua amiga, entretanto, não obteve êxito, caindo sobre seu braço direito, nos últimos degraus da escada. Clarinha correu até seu namorado, perguntando-lhe:
- Você está bem, Yuri?
O rapaz meneou positivamente a cabeça. Levantou-se com dificuldades, sendo ajudado por sua namorada. Seu braço direito estava levemente inchado, com hematomas no cotovelo e adjacências.
- Só o Will mesmo pra nos colocar nessas roubadas... – reclamou. Seu braço doía horrores.
Will continuava correndo. Estava sob sua amiga, todavia, devido à altura da mesma, não poderia saltar para resgatá-la.
Os rufos tocavam mais intensamente. Junto deles, ouvia-se claramente vozes citando frases in-decifráveis, continuadamente. Naquele instante, as mobílias começaram a flutuar em volta de Aninha.
- Só há um jeito... Espero que dê certo! – disse. Correu mais rapidamente. Chegou ao símbolo central e apagou com um sopro uma das velas. O brilho que resplandecia o símbolo central apagou-se, não apagando, contudo, as velas que iluminavam o local. As mobílias caíram ao chão, os rufos e as vozes cessaram seus sons. Aninha começou a cair, inconsciente. Will correu para segurá-la e, dessa vez, conseguiu lograr êxito.
Tão logo segurara Aninha, levantou sua blusa na região do abdômen. Não havia nenhum corte superficial ou profundo. A garota estava salva.
- Graças a Deus... – disse, abraçando sua amiga com força. Parecia segurar para não derramar uma lágrima
- Você tem ideia de que foi você quem quase matou a Aninha, não tem? – perguntou Yuri. Estava visivelmente irritado com a situação. Segurava seu braço direito a fim de evitar dor ao se mexer.
- Yuri... – reclamou Maria Clara
- Deixe-me falar, Clarinha. – reclamou Yuri, com sua namorada. Clarinha emudeceu-se.
- Eu não fiz nada, Yuri. Não coloque a culpa em mim. – reclamou Will
- Você nos trouxe para cá. Sabia que essa ideia era ridícula, mas, mesmo assim, resolveu vir para cá!
- Era a única opção que tínhamos. Não sei se você sabe, mas não sou muito preparado para situações sobrenaturais! – reclamou Will. Ele e seu amigo discutiam gritando. – E você deu o aval!
- Deveríamos ter saído daqui o quanto antes, como a própria Aninha deu a ideia, ao invés de darmos uma de Sherlock Holmes! – reclamou Yuri
- E como iremos embora, às quatro da manhã, debaixo de chuva? E quem disse que sairmos daqui significa que estejamos fora do alcance dos poderes deste lugar?
- É claro que sim...
- No meu pesadelo, o tal do Andrei sabia meu nome e sobrenome... – disse Will. Cortou a fala de Yuri, emudecendo-o.
Clarinha e Yuri arregalaram os olhos diante de tanta surpresa.
- Era por isso que eu queria cortar o mal pela raiz!
- E por que não nos contou antes?
- Não queria preocupá-los. Poderia ser coisa supérflua, dada somente em um pesadelo, como sempre acontece.
Yuri respirou fundo; ainda estava irritado com seu amigo. Deu as costas a ele e partiu.
- Vamos, Clarinha. Vamos sair deste inferno antes que aqui pereceremos.
- Para onde iremos, Yuri? – perguntou Clarinha, caminhando logo atrás de seu namorado
- Qualquer lugar onde o Will não nos possa colocar em risco de vida!
Yuri subiu as escadas. Clarinha tentava acompanhar seus passos; todavia, seu namorado caminha-
va a passos largos, e ela não conseguia acompanhá-lo.
Yuri e Maria Clara saíram do lugar sussurrando uma conversa que Will não conseguia escutar. Yuri pegou a lanterna que se encontrava na escada e partiu com ela.
Tão logo o casal saiu do subsolo, Aninha abriu os olhos. Estava ligeiramente tonta.
- On...Onde estou?
- Graças a Deus! – Will apontou com força sua amiga. Estava a ponto de chorar.
Aninha enrubesceu-se ao perceber ser abraçada por seu amado. Seu coração disparara, apertado no peito.
- O que... aconteceu?
- Está tudo bem. Está tudo bem! – disse Will. Tentara segurar, mas não conseguiu: acabou soltando uma lágrima.
Yuri e Clarinha estavam saindo da cozinha do prédio e adentrando no corredor do primeiro andar.
- Eu não acredito que você vai largar a Aninha e o Will aqui sozinhos, depois do que acon-teceu... – reclamou Clarinha. Estava visivelmente irritada, situação igual à de Yuri
- Eu não fico mais nesse maldito prédio por nem mais um minuto, Clarinha! – esbravejava Yuri – Eu não vou ficar junto de alguém que quase coloca a vida dos outros em perigo!
- Mas tem a Aninha também. Ela não tem nada a ver com essa sua briga ridícula!
Yuri havia subido três degraus da escada que dava ao segundo andar, mas parou para continuar a discussão com sua namorada.
- A Ana estará sempre ao lado do Will, e você sabe muito bem disso, Clarinha...
- Você é muito egoísta, Yuri, só pensa em si mesmo...
- É claro que neste momento estou apenas pensando em mim, Clarinha. Estou correndo risco de vida. Quem seria besta o suficiente de pensar nos outros nessa situação?
Repentinamente, para surpresa geral, um sussurro veio do corredor. Ao escutarem, Yuri e Maria Clara pararam a discussão imediatamente, e viraram o foco do olhar para o corredor.
- Eu quase morri?! – perguntou Aninha – E foi você quem me salvou? – parecia atordoada ao saber dos fatos.
Will meneia positivamente a cabeça. Sorria de felicidade, e seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Obrigada por me salvar! – disse, em tom suave. Estava adorando a hipótese de estar no colo de seu amado
Ana abraçou Will.
- Obrigada! – disse, quase dentro de seu ouvido. O ar que saiu de sua boca, ao acertar a pele do pescoço de Will, arrepiou-o.
- De nada! – respondeu, feliz
Aninha separou seu corpo do de seu amigo, entretanto, ainda ficou com os braços entrelaçados nas suas costas. Fitou seu rosto, perto o suficiente para sentir sua respiração. Estavam enrubescidos. Chegaram a cabeça uma perto da outra. Estavam cada vez mais perto, mais perto... entretanto, sobres-saltaram, ao escutar um grito. A voz era conhecida.
- Yuri! – gritou Will. Aninha levantou-se em pulo. William levantou-se em seguida. Pegou uma vela, para iluminar seu caminho, e correram. Saltaram degraus da escada e chegaram à cozinha. Em dois ou três passos, chegaram ao corredor do primeiro andar.
Will percebeu uma iluminação vinda do início da escada. Ao que tudo indica, a fonte da iluminação se encontrava nos primeiros degraus.
Com receio, Will avançou. Andou encostado na parede oposta. Aninha ficou parada na entrada do corredor. Ao chegar de frente para a escada, sobres-saltou. Uma poça de sangue tomava conta do terceiro grau da escada, onde jazia uma lanterna mergulhada, e vazava nos degraus inferiores.
- O que... aconteceu... aqui? – perguntou, estarrecido
Ao perceber seu amigo parado de frente para a escada, Aninha caminhou. Surpreendeu-se ao ver a poça de sangue. Levou a mão à boca.
William percebeu que a poça de sangue fazia um caminho, adentrando no corredor. Deu sua vela a Aninha, pegou a lanterna, sacudiu-a no ar, limpando-a parcialmente e caminhou, seguindo a marca de sangue. Tinha certo receio do que poderia ocorrer. Ana seguiu seu amigo.
A marca de sangue adentrou sob a porta do primeiro quarto. Will parou em sua porta.
- Vai abrir? – perguntou Ana
William ficou parado, em total silêncio, por alguns poucos segundos.
- Sim! – respondeu. Estava criando coragem de prosseguir.
Will abriu a porta. O feixe da lanterna estava
apontado para o chão. Caminhou seguindo a marca de sangue.
Com receio de ficar sozinha no corredor, Aninha caminhou logo atrás de William.
O casal de amigos atravessou todo o quarto, passando pelo guardarroupa, à esquerda, e um par de camas, cada uma em um canto oposto.
Quando Will percebeu que o caminho de sangue terminava em uma poça de mesmo material, no canto oposto da parede, apontou o feixe de luz para a parede. Naquele instante, tanto ele quanto Ana sobressaltaram. Com o susto, a vela fora ao chão, apagando-se.
Yuri e Maria Clara jaziam sentados, escorados na parede, mergulhados no próprio sangue. No centro de seus peitos, uma fenda, de onde vertera o sangue. O casal perdera seus olhos, ficando apenas a órbita vazia. Das órbitas, vertia sangue, percorrendo os mesmos caminhos no rosto do casal que as lágrimas.
Diante do choque, Aninha caíra de joelhos no chão e postou-se a debulhar em lágrimas. Will ficou de pé e levou a mão aos olhos. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
- Isso não poderia... ter... acontecido! – disse Aninha, chorando
- Eu só faço merda! – reclamou, em seus pensamentos, Will. Cerrava os punhos de tal maneira que parecia que iam sangrar.
Tentava se conter, queria ser o apoio de Aninha, e não conseguiria ser se estivesse chorando. Segurando suas lágrimas, percebeu haver algo que primeiramente passou despercebido, tamanho o choque que Ana e ele sofreram. Na parede, logo acima de Yuri e Clarinha, havia uma marca de sangue, escondida pela escuridão que tomava conta do lugar. William enxugou os olhos e apontou o feixe de luz em direção à parede. Sobressaltou-se.
Estava escrito, a sangue, tomando conta de toda a parede, logo acima de Yuri e Clara:
“666
Os mortos voltarão para roubar a vida dos amaldiçoados”
William ficou estupefato diante do que lera. Olhou seu relógio de pulso. Sobressaltou-se nova-mente. Gritou, partindo em direção à saída do quarto:
- Vamos, Aninha, vamos!
Mesmo sem entender o que estava acontecendo, Ana levantou-se, pois percebeu que Will sabia de algo que poderia ameaçar suas vidas.
- O que está acontecendo, Will? – perguntou Ana
- Temos que correr. Os mortos logo voltarão a vida. Já são... – dizia Will, enquanto adentrava no corredor do primeiro andar. Iria prosseguir com sua fala, todavia, fora interrompido por um forte vento oriundo da cozinha
Caminhou lentamente, com receio, em direção à cozinha.
- O que aconteceu, Will? – perguntou Aninha, estranho a ação de seu amigo
William ficou em silêncio, porém fez sinal para Aninha esperar. A garota aliviou-se. Will não divagava, como acontecera consigo no subsolo; apenas focalizava profundamente a janela da cozinha.
O rapaz parou de frente à janela, vislumbrando perplexo o que acontecia fora do prédio sede dos Blutrot. A chuva caía violentamente, raios tomavam conta dos céus e davam brilho àquele findar de noite. Continuava escuro, por causa da forte nuvem que reinava majestosa. Ventos balançavam violenta-mente a copa das árvores, jogando folhas em todas as direções. Entretanto, o que deixou William temeroso foi o estranho gemido que tomou conta do cenário. Era horripilante e assustador, e fazia a espinha do rapaz tremer violentamente.
Os gemidos foram se tornando cada vez mais assustadores e mais intensos. Naquele instante, aconteceu o pesadelo de todo homem: as lápides começaram a se abrir, de dentro para fora! Will estava paralisado diante de tanto horror.
Focalizando o olhar no relógio de William, percebia-se claramente a hora: os ponteiros pequeno e grande estavam um sobre o outro, parados na mesma marca, logo abaixo do número 1. O ponteiro vermelho se encontrava sobre o número 1, mas, um segundo depois, ficou sobre os demais ponteiros. E não foram somente os três ponteiros de Will que se juntaram naquele segundo daquele dia; naquele instante, eis que mãos surgem vagarosamente, vindas do interior das lápides.
Aninha leva a mão à boca. Will estava furioso e temeroso diante a situação. Os mortos ganhavam vida!
O rapaz virou o corpo e correndo em direção à saída da cozinha, gritou:
- Corre, Aninha!
Ana começou a correr tão logo ouviu a
ordem proferida por seu amigo. Correram a toda velocidade possível pelo corredor do primeiro andar do prédio. Rapidamente, chegaram à porta de saída. Um alívio. Seria, de fato, se não fosse por um detalhe, que mudou todo o rumo daquela história: a porta estava trancada.
Will tentou abrir a porta, todavia, não obteve êxito. Girou a maçaneta novamente e, tentando fazer força, puxou novamente a porta para trás. Novamente, não obteve êxito. A porta tampouco se mexeu do lugar.
- O que aconteceu, Will? – perguntou Ana. Estava desesperada com a situação. Um bando de mortos ressuscitando no fundo do prédio, e a porta frontal estava emperrada
- Não quer abrir. – respondeu o rapaz, tentando abrir a porta pela terceira vez – Não parece estar emperrada. Parece ser trancada!
Aninha assustou-se.
- Trancada?! – perguntou – Não tem a menor possibilidade de estar trancada, Will. Não a trancamos quando chegamos!
- Claro que não... – disse Will. Naquele exato momento, lembrou-se de algo – Meu Deus! – disse, surpreso
- O que foi, Will? – Aninha não obteve resposta. Ficou desesperada – Will?! Will?! – chamava pelo seu amigo com mais intensidade
- E se quem trancou a gente foi o mesmo que matou Yuri e Clarinha?! – perguntou, virando-se para sua amiga
Ana ficou estarrecida diante a fala de Will. Não havia pensado naquela possibilidade.
Um barulho pôde-se ser ouvido vindo da cozinha. Will e Aninha visualizaram o local. Perceberam que eram os mortos-vivos tentando adentrar no prédio pela janela da cozinha. Estavam tendo certa dificuldade, mas poderia ser apenas momentânea.
- O que faremos agora, Will?! – perguntou Ana, no ápice de seu desespero
William fitava o prédio inteiro com rapidez, a fim de pensar em alguma coisa.
- Will?!
- Vamos por aqui! – disse, caminhando em direção à primeira porta à esquerda. Abriu-a.
- No quê está pensando, Will? – perguntou Aninha, seguindo seu amigo
O quarto estava mobiliado com um guardar-roupa no canto esquerdo e um par de camas no centro, posições estas semelhantes às do quarto aonde jaziam Yuri e Clarinha.
Will abriu a porta do guardarroupa, expulsou com as velhas roupas que lá se encontravam um ninho de ratos. Sem as roupas velhas e os ratos, o guardarroupa era bem espaçoso.
- Não está querendo dizer que... – disse Ana, temerosa
- É a única opção!
- Era o que eu temia! – disse, suspirando fundo
Will escutou passos vindos do corredor.
- Vamos! – disse. Ajudou Aninha a adentrar no guardarroupa e entrou em seguida. Fechou a porta do local e apagou a lanterna, ficando, assim, no silêncio e escuridão totais
O ranger da madeira do corredor se tornava cada vez mais intenso e o bater do coração de William e Ana acompanhavam a intensidade do ranger. Aninha estava com o coração apertado; parecia que alguém o espremia como se faz com uma laranja. A sensação era insuportável. E a cada ranger mais intenso, seu coração ficava mais apertado.
Will não estava em situação diferente da de Ana, entretanto, precisava demonstrar frieza diante a situação – e precisava ser frio, se quisesse pensar com razão -, para não passar insegurança à sua amiga. Era o homem da situação e precisava ser o amparo à garota.
Os passos foram se tornando mais intensos. Junto deles, ouvia-se claramente o abrir e o fechar das portas dos corredores. Naquele instante, o coração de Ana apertou a tal ponto que ela gemeu. Will virou o olhar para sua amiga. Não conseguia vê-la, portanto, não percebeu o seu lacrimejar. Levou a mão à cabeça de Aninha e afagou-a. Precisava ser seu amparo, e começou a realizar seu papel.
Will demonstrava segurança e frieza diante a situação, todavia, quando o ranger da madeira do corredor cessou em frente à porta do quarto onde se encontrava, seu coração apertou como o de Aninha. Não poderia demonstrar o desespero que tomava conta de seu corpo. Apertou sua cabeça em seus joelhos e entrelaçou suas mãos, abraçando suas pernas.
A porta do quarto se abriu. William se apertou com mais intensidade. Não percebera, mas Aninha fizera o mesmo. O silêncio reinou no local por alguns segundos, não se ouvia absolutamente nada – nem um ranger de madeira velha, nem um andar, nem uma voz, nem um sussurro, um suspiro, nada... parecia uma imagem travada naquela situação - Will e Aninha no ápice do desespero, com o coração apertado, segurando suas emoções, tremendo de medo; e a porta aberta, com alguém – sabe-se lá quem – fitando o interior do local.
A situação parecia eterna. Will e Aninha rezavam para que ela logo se resolvesse, mas ficou se arrastando por dolorosos segundos. Foram poucos, mas pareciam horas, dias, meses... aquela sensação de estar a um passo da morte distorcia a capacidade de saber exatamente as dimensões do tempo. Entretanto, para felicidade do casal de amigos, a porta se fechou, e o ranger da madeira afastou-se do local.
Will e Aninha aliviaram a tensão que causara aos músculos de seus respectivos corpos. O rapaz encostou-se no fundo do guardarroupa. Deixou escapar um suspiro.
- Pode haver alguém no recinto ainda, Will – cochichou Aninha, o mais baixo possível – E se um adentrou e os demais partiram?
Will não havia pensado nessa possibilidade; tentou se fazer do frio e racional e Aninha acabou fazendo esse papel naquele momento. Voltou a ficar tenso.
O rapaz acendeu a lanterna e, pelos espaços sem madeira da porta do guardarroupa, projetou a luz do objeto pelo quarto. Varreu o local. Estava completamente vazio.
- Está vazio... – disse, virando para sua amiga – Vamos?
Ana meneou positivamente a cabeça, e Will abriu a porta do guardarroupa. Desceu. Em seguida, ajudou Aninha a descer. Caminhou até a porta e abriu-a com cuidado, sem fazer o menor barulho.
- O que está fazendo, Will? – perguntou Aninha, tentando fazer o menor barulho possível
William fez sinal para Aninha ficar em silêncio. Espreitou o corredor. Totalmente vazio. Fechou a porta com extremo cuidado.
- Não há ninguém no corredor! - disse
- E agora? O que faremos? – perguntou Aninha.
Will deu de ombros.
- Deixe-me pensar por um minuto. – disse. Começou a andar pelo local, de um lado para o outro, evitando fazer barulho sobre a velha madeira do chão
- Temos que investigar como reverter essa maldição!
- Yuri e Maria Clara vão ressuscitar?! – perguntou Aninha, esperançosa
- Não quis dizer isso. – disse Will, retirando as esperanças de Aninha – Pode ser que aconteça, pode ser que não! - tentou consertar, ao perceber que frustrara a amiga - Estou dizendo em acabar com estes malditos mortos-vivos!
- Entendo... – Aninha frustrou-se, diante da hipótese de não ressurreição de seus amigos. Will percebeu o silêncio de sua amiga, e emudeceu-se. Não queria piorar a situação ao tentar consertá-la – E onde pesquisará? – Aninha perguntou, ao perceber que o reino do silêncio começava a se formar no local
- Não sei... agora que o notebook do Yuri foi quebrado, precisamos pensar em outros lugares!
- Poderíamos procurar no banheiro do primeiro andar!
Will surpreendeu-se com a fala de Aninha; foi uma surpresa alegre. Era uma hipótese plausível.
- Verdade! – disse, mais alegre – Vamos!
William abriu a porta do corredor sem fazer barulho e saiu do quarto, seguido de Aninha. Caminhou no centro do corredor de forma vagarosa, evitando, assim, fazer barulho com o ranger da madeira velha. O rapaz caminhava jogando o feixe de luz da lanterna em todos os cantos onde possivelmente poderia ter algum inimigo à espreita. Toda aquela segurança, a fim de evitar serem pegos, faziam-nos andar o mais devagar possível – seus passos eram vagarosos e a distância entre os pés no chão eram ínfimos.
Depois de uma quantidade alta de tempo gasta caminhando pelo corredor, Will chegou à frente da última porta do corredor, a que adentrava no banheiro do primeiro andar. Chegou de frente ao local e levou a mão à maçaneta para abri-la. Entretanto, para surpresa geral, ouviram uma voz, vinda da escada, logo atrás, dizer:
- Quem são vocês?
Naquele instante, os corações de William e Aninha sobressaltaram, e os músculos dos mesmos travaram. Viraram com extrema dificuldade. Perceberam um homem, portando um sobressalto preto, parado no alto da escada. A escuridão impossibilitava de que Will e Aninha visualizassem a parte superior de seu corpo.
- Corre! – gritou Will. Partiu em direção à cozinha. Sem titubear, Ana seguiu seu amigo. O estranho sobressaltou diante a reação do rapaz, e gritou, em alto e bom som:
- Invasores fugindo, em direção ao cemitério. Repito: invasores fugindo, em direção ao cemitério.
Will e Aninha corriam pelo lado externo do prédio, adentrando no macabro cemitério. Em poucos segundos sob a forte chuva, as roupas do casal estavam encharcadas e, consequentemente, pesadas, o que só os atrapalhavam a correr. Os raios caíam ameaçadoramente, ribombando nos céus e sobressaltando seus ouvintes. Os ventos batiam fortes nas copas das árvores que tomavam conta do cemitério, transformando o local em um cenário mais macabro do que originalmente já é.
Aninha não estava com fôlego para correr com mesmo pique que seu amigo, assim, Will a puxava pelo braço direito. Perceberam movimentação vinda do prédio atrás deles, todavia, não quiseram visualizar o que estava acontecendo, apenas fitavam o macabro corredor entre as lápides.
O que o casal de amigos não esperava foi a ponta de uma das lápides se encontrar justamente no caminho das pernas de Will. O rapaz tropeçou, largando Ana de pé e caindo de cabeça na lateral da lápide. Bateu com a parte esquerda da testa no local e caiu com o rosto no chão.
- Will? Você está bem? Will? – perguntou Aninha, preocupada
Will começou a tremer no chão, deitado de bruços. Parecia ter uma convulsão. Os músculos de seus braços tencionavam-se assustadoramente. Suas pernas se debatiam no ar.
- Will, Will, Will... – gritava constantemente Ana, enquanto tentava parar o ataque de seu amigo
Naquele momento, Will acordou em um devaneio. Estava em um cenário totalmente branco, junto de uma pessoa.
- Você é o escolhido! – disse a pessoa à sua frente. Will olhava em todas as direções, tentando saber onde se encontrava. Assim que a pessoa proferiu suas palavras, o rapaz virou o olhar para frente
- Você... – disse Will, chocado. Reconheceu a pessoa como sendo Andrei Kazigarov, o mesmo que assassinou todos os membros do Blutrot.
- William Kaihi, você é o escolhido! Só você pode acabar aquilo que era para eu ter feito cem anos atrás.
- Matar a todos?
Andrei meneia positivamente a cabeça.
- E como eu faço isso?
Naquele instante, no mundo real, Will levantou-se, em um só movimento. Ana ficou aliviada ao ver seu amigo bem.
- Graças a Deus... – disse. Escorria lágrimas de seus olhos
Will caminhava por entre as lápides a passos largos. Ana começou a segui-lo. A garota percebeu que Will adentrava no cemitério, ao invés de dele sair.
- Onde está indo, Will? A saída do cemitério não é por este lado! – perguntou, preocupada
Will não respondeu Ana. Por mais que seu corpo estivesse no mundo real, seus pensamentos ainda se encontravam em seus devaneios.
“Somente seu sangue vertendo no cerne do lugar mais nefasto reverterá a dor e a destruição”,
disse Andrei, na divagação de Wiliam
Will parou em um pequeno círculo. Ana não estava entendendo bulhufas. Deixou seu amigo agir, sem atrapalhá-lo. Achou melhor assim. Por mais que seus inimigos vinham velozes pelos corredores de tumbas, confiava em seu amigo. Ele não estaria agindo estranho se não tivesse um bom plano. Ela não sabia, mas o círculo delimitava o ponto central do cemitério.
“Recite”, ordenou Andrei. Will retirou um pequeno canivete do seu bolso e cortou superficial-mente sue pulso direito. Ana arregalou os olhos de surpresa, mas nada disse.
Sangue vertia de seu braço e caía no ponto central do cemitério. O rapaz largou o objeto, abriu os braços, fechou os olhos e abaixou a cabeça. Começou a recitar:
“666
O Número da Besta
O Número da Discórdia
Ó, aquele de nome impronunciável
A Besta do Meia Meia Meia
Leve teus soldados deste mundo
Tu, que és a Besta
Leve todos daqui
E mande-os queimar no Inferno
Tu, que és a sombra e o fogo
Soldado fiel daquele de nome impronunciável
Volte para o Reino dos Mortos
Caminhar entre os vivos já não mais pode
Tu, que causas a destruição e a dor
Tu, Rei dos Sujos
Leves seu povo deste mundo
Ó, ser ignóbil,
Volte para onde jamais deveria ter saído
Volte, volte
Volte ao teu mundo
E se esqueça do mundo dos humanos”
Will repetiu incontestáveis vezes a última estrofe, acelerando os versos. Aninha sentiu tudo rodopiar, tão logo a recitação iniciou-se. Vozes, vindas do nada, cantaram em volta, como em um rito, em uma linguagem indecifrável, e acompanhava rufos de tambores e ambos aceleravam na mesma proporção que o recitar do rapaz. Fogo surgiu em volta de Will e Ana, tão logo o primeiro acelerou a última estrofe da recitação, e fazia um imenso “666”.
Depois de recitar incontestáveis vezes a última estrofe, William começa a gritar, focalizando o céu. O rito de vozes desconhecidas e os rufos de tambores continuaram. Tudo rodopiava em extrema velocidade. Repentinamente, tudo parou. Will sentiu perder a consciência. Viu tudo se extinguir, antes de ir ao chão.
Will abriu os olhos. Viu um raiar de dia incrível. Não tinha nuvens no chão e o dia parecia ser lindo. Viu também uma silhueta conhecida, entretanto, estava embaçada. Escutou alguém, de voz conhecida, chamar por seu nome. Fechou os olhos nova-mente. Abriu-os, em seguida. Fechou-os, e, pela terceira vez consecutiva, abriu-os. Sua cabeça estava rodando. Conseguia, desta vez, enxergar Aninha de forma clara. A garota estava sentada ao seu lado.
- Onde estou? – perguntou o rapaz, ainda tentando focalizar em sua mente seu paradeiro
- Acabou... – respondeu Aninha.
Naquele instante, tudo voltou à sua mente. Ficou feliz por tudo ter acabado, e triste por não rever Yuri e Maria Clara vivos.
Will abraçou Aninha.
- É tão bom vê-la viva! – disse
A garota, a princípio, surpreendeu-se com a atitude de seu amigo, mas depois a aceitou, retribuindo o abraço.
Depois de algum tempo abraçados, William fitou o rosto de Aninha, próximo o suficiente para sentir sua respiração bater nas suas bochechas. Corou-se. Ana enrubesceu-se em seguida.
- Fico feliz por ter sobrevivido!
O coração de Ana batia mais rápido que o normal. Aninha abaixou a cabeça, de timidez.
Will repousou os dedos indicador e do meio juntos sob o queixo de Aninha, e levantou-o lenta-mente. A garota voltou a encarar seu amigo. Will estava rindo.
Para surpresa de Aninha, sem nada lhe dizer, Will lhe beijou. Seu coração começou a bater mais acelerado. Ficou alguns minutos parada no mesmo lugar, apenas curtindo o beijo de seu amado.
2 meses depois...
Naquela noite, estava ocorrendo o baile de formatura dos alunos do terceiro ano do Colégio Ihzaki. Aquele baile era especial dos demais. Em seu início, teve um culto, para celebrar a paz entre os povos e a fim de homenagear dois formandos que não mais ali se encontravam.
A diretora do colégio abriu o baile de for-matura, discorrendo:
- Prezados formandos, pais e amigos, hoje estamos aqui não apenas para comemorar essa data linda, a passagem de uma etapa da vida para outra, a saída de brilhantes alunos deste colégio para ganhar a vida, mas também para homenagearmos dois alunos que deveriam estar aqui hoje, participando deste baile de formatura, mas o destino lhes foi cruel. Yuri Kazini e Maria Clara Giarola eram alunos brilhantes, amigos de todos e que tinham um futuro promissor pela frente, porém um louco assassino – assim ficou a versão dada por Will e Aninha ao caso -, que a justiça ainda não pousou sua firme mão sobre ele, atravessou seus caminhos e mudaram todo o rumo de suas histórias. Que fique aqui a homenagem do Colégio Ihzaki a estes dois alunos que aqui estudaram.
Não só a diretora segurava as lágrimas, mas todos os presentes – principalmente os pais de Yuri e Clarinha, convidados especiais do baile, Will, Aninha e seus respectivos parentes, e os amigos do casal de modo geral. Houve uma chuva de pétalas de rosas sobre um tablado, onde se encontravam fotos do casal. Os alunos depositaram flores sobre o tablado.
Tão logo o culto findou-se, deu-se o início ao baile. Aninha acompanhava seu agora namorado William em uma valsa. Seus respectivos pais dançavam perto, junto dos demais alunos, no centro do local onde ocorria o baile. Ana estava impecável em um vestido dourado, enquanto Will parecia um segurança de famoso em seu smoking.
- Essa festa está incrível, não está, Will? – perguntou Ana. Depois que começou a namorar seu amado, a garota perdeu a vergonha de conversar com ele
- Está. Pena que o Yuri e a Clarinha não puderam participar! – disse. Apesar da aparente animação de todos na festa, era evidência uma melancolia em seus interiores. A melancolia no interior de Aninha apareceu em seu semblante.
- Então, temos que aproveitar dobrado essa festa... – disse, sorrindo. Ana surpreendeu-se com a fala de seu namorado – Eu tenho que aproveitá-lo por mim e pelo Yuri, e você por ti e pela Clarinha!
Ana abriu um sorriso, antes de o casal voltar a dançar algo mais elaborado do que “dois para lá, dois para cá”.
Cerca de vinte a trinta minutos depois, Will largou-se rapidamente de sua namorada para ir ao banheiro. Adentrou no local, que possuía uma fileira de boxes frontalmente a um gigantesco espelho e um sem-número de pias. O rapaz entrou no oitavo box, contados a partir da porta. Assim que fechou a porta do local, eis que a porta ao lado se abre. Will escutou barulho de água escorrendo da pia normalmente, e depois a mesma cessou-se. Escutou passos partindo do banheiro. Depois do que aconteceu no prédio sede dos Blutrot, percebeu ter ficado com a audição aguçada.
Terminou de usar o sanitário, fechou sua calça e abriu a porta do box onde se encontrava, se deslocando para fora do mesmo. Naquele instante, sobressaltou. No espelho, estava escrito, tomando conta de todo o espaço, a sangue:
“666”