A CASTRADORA

A Castradora

Jorge Linhaça

Atentai, filhos de Baco

O perigo vos espreita

Não é lenda, é puro fato

Não venha m'encher o saco

depois da desgraça feita

Ouvi , filho da luxúria

Antes de ser vitimado

Por sinistra criatura

Que em meio a noite escura

Deixa ao teso castrado

Parece outra qualquer

Como tantas que já viste

Com encantos de mulher

Com ares de bem-me -quer

E os dentes sempre em riste

Espera ser penetrada

Pelo falo enrijecido

Logo depois da entrada

Cerra a dentuça afiada

Decepando o teu querido

Ela vagueia nas ruas

Com sua sensualidade

Com as formas semi-nuas

Procurando as criaturas

Quando a hora já vai tarde

Julgas ter o paraíso

Encontrado afinal

Faz-te perder o juízo

E já num golpe preciso

Decepa o membro coital

Filhos de Baco, cuidado

Vós que gostais da orgia

E andais sempre preparados

Com vossos membros armados

Procurando companhia

Filhos de Baco, tremei

Pois a lenda é real

Sejas pobre ou sejas rei

Ao aviso atendei

Antes do golpe fatal

Mas se não queres ouvir

a voz de quem vos ensina

Deixai-vos pois seduzir

Até que possas sentir

A dentada assassina

Quando em sangue te esvaires

E teu grito encher a noite

Não te verei a sorrires

E tão logo que partires

Serás entregue ao açoite

Já o demo te espera

Com seu riso infernal

Cercado por mil quimeras

E por mais mil outras feras

em seu antro infernal.

Teu pranto e ranger de dentes

Soará qual sinfonia

Entre outros penitentes

Que buscaram carnes quentes

e morreram na orgia.