A DEVORADORA

A Devoradora

Jorge Linhaça

Em uma pequena e pacata cidade um facho de luz desceu dos céus.

A população encheu-se de espanto curiosidade sobre o estranho fenômeno.

Vários de seus habitantes, na maioria homens jovens, acorreram ao local buscando o privilégio de talvez receber os holofotes da mídia quando a notícia se espalhasse.

À caminho do local várias teorias iam sendo formuladas pelos corajosos aventureiros;

- Foi um meteoro que caiu...diziam alguns

- Se fosse um meteoro ouviríamos um estrondo e sentiríamos a terra abalar-se... retrucavam outros

- Eu aposto que era um disco voador, como naqueles filmes ....

- Que nada, vai ver foi só um balão gigante que se incendiou e despencou ali adiante...

Quando chegaram ao local da ocorrência ímpar, não encontraram crateras de meteoritos e muito menos um disco voador...mas ficaram surpresos ao ver enormes partes de um tecido vermelho espalhadas pelo local...como se fossem faixas gigantescas de alguma publicidade ou se um enorme rolo de tecido tivesse sido ali desenrolado.

Já havia escurecido e a princípio foi apenas isso que suas lanternas e faróis puderam visualizar.

Movidos pela curiosidade premente e não acreditando em algum tipo de risco, adiantaram-se em direção ao tecido e pretenderam sentir-lhe o toque.

Não se parecia, ao toque, com nenhum tecido que conhecessem , era ao mesmo tempo suave a resistente.

Enquanto vários deles se entretiam em analisar a descoberta, uns poucos resolveram vasculhar o perímetro em busca de alguma explicação de como aquele tecido poderia ter chegado ali e qual seria a sua relação com a tal coluna de luz que viram lá do centro da cidade.

Subitamente um deles, ao dirigir o foco de sua lanterna para a origem do tecido, deu um grito de espanto proferindo um palavrão...Ca....que po...é esta?

Os olhares dos companheiros mais próximos voltaram-se para a origem do grito

dirigindo a luminosidade de seus instrumentos para a mesma direção de seu atordoado amigo. Uma massa biológica que em muito lembrava a pele humana parecia ser recoberta pelo tal pano desconhecido e ao continuarem a focar-lhe a luz foram aos poucos percebendo o contorno de uma perna feminina de proporções gigantescas.

O pavor e o espanto estamparam-se nas faces de cada um dos presentes e só não foi menor do que sentiram quando o tal tecido, como que a ganhar vida os fosse envolvendo e levantando-os pelo ar causando gritos e expressões impronunciáveis.

Tão logo deram por si e puderam ver o que parecia ser uma gigantesca mulher à sua frente, alta como um edifício coberta apenas com o tecido vermelho que agora os envolvia e aprisionava.

Por alguns instantes que pareciam horas, ela fitou-os uma a um com uma expressão de pura passividade e parecendo ignorar todos os gritos e apelos emitidos por eles, que se debatiam na esperança de libertar-se daquela armadilha imponderável.

A mulher parecia controlar os movimentos do tecido através de alguma espécie de telecinésia e aos poucos foi aproximando um dos pobre rapazes de seu rosto, examinando-o mais detidamente, até que em dado momento como que sentindo-se segura sobre as suas intenções, levou-o a boca, provando o gosto da carne humana misturada com o medo.

Os companheiros horrorizados , antevendo destino igual lutaram com todas as suas forças tentando em vão se libertarem do tecido que transformara-se em seus grilhões e, um a um, foram sendo devorados pela monstruosa mulher que parecia saborear um simples saco de jujubas.

Apenas um dos presentes logrou escapar do cruel destino de seus companheiros pois havia se afastado durante um pouco tempo para satisfazer certa necessidade fisiológica, talvez apressada pelo nervosismo da aventura...

Quando ouviu os gritos dos companheiros quedou-se como que paralisado a poucos metros do que acontecia, acobertado pela mesma moita que escolhera para ter alguma privacidade.

Quando, enfim, após ver a macabra cena , encontrou forças para mover-se , correu em disparada de volta ao vilarejo na esperança de encontrar ajuda e ao mesmo tempo avisar a população..

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Em meio ao caminho encontrou a onda policial que vinha, finalmente, verificar o que se passava e relatou-lhes a sua história. os policiais a principio fizeram chacotas e pensaram ser algum tipo de brincadeira armado pelos jovens que já conheciam de longa data.

Por fim os policiais resolveram ir ao local indicado pelo sobrevivente e nada encontraram além das lanternas e alguns objetos pessoais dos demais membros do grupo.

Nenhum sinal dos desaparecidos ou da sua devoradora.

O sobrevivente foi levado à delegacia, interrogado muitas e muitas vezes sobre o ocorrido e a cada vez mantinha sua pavorosa versão dos fatos, até que por fim resolveram que deveriam levá-lo para o hospital psiquiátrico da região.

Colocaram-no na viatura e partiram em direção à rodovia, onde, a luz dos faróis refletiu-se num enorme pedaço de tecido vermelho.