A MULHER QUE COLECIONAVA CABEÇAS
Longe da ponte do rio verde o farol abandonado se erguia para o céu e se contrastava com a lua cheia formando uma bela paisagem noturna. Uma brilhante lua naquela noite se erguera, cheia e vivaz. Sua luz reluzia sobre o rio e em frente ao farol podia-se ver sua forma refletida sobre a água.
Da ponte, James o contemplava quando uma voz profundamente feminina quebrou o silêncio:
- É uma bela paisagem.
Ele girou nos calcanhares imediatamente, mas viu apenas a ponte vazia e fantasmagórica diante de si. Segundos depois das sombras ela surgiu.
Uma mulher alta, dona de lindos cabelos dourados e olhos pretos, verdadeiramente penetrantes. Caminhou na direção do rapaz e uma crescente curiosidade e excitação o envolveu.
- É por isso que vem aqui em noites de lua cheia? – Perguntou a mulher misteriosa que passou por ele e se recostou na grade. – Para observar o farol?
O rapaz admirou-a surpreso tentando imaginar como sabia disso, tentando imaginar quem era ela e de onde surgiu.
O rapaz respondeu:
- Sim. É um lugar incrível, não é? Gosto de ficar aqui apreciando essa paisagem, sentindo esse clima adorável.
- Um amante da noite – Ela disse com ternura. Fitou-o brevemente pelo canto dos olhos e lançou lhe um sorriso que James jamais vira antes – Já foi até lá? – Perguntou apontando o farol.
- Não, mas já ouvi histórias arrepiantes sobre o lugar.
- O que ouviu? - Perguntou se virando para ele interessada – Me amarro nessas histórias.
James contou:
- Ah muito tempo bruxas viviam nessa região, uma delas muito poderosa chamava-se Mia, foi descoberta, caçada e queimada pelos habitantes. Mia se refugiou em um moinho, bem ali onde fica o farol. Antes de morrer a bruxa amaldiçoou o vilarejo que se tornou um lugar fantasma e inabitável, e foi assim por um longo tempo. Quando algo estranho acontece dizem que é Mia. De alguma forma ela ainda habita esse lugar, e que o farol é seu novo lar.
A mulher dos cabelos dourados se aproximou do rapaz e ajeitou a gola da sua camisa e disse quase que num sussurro:
- Vamos até lá e dar um oi para Mia. Acha que ela gosta de receber visitas?
O rapaz olhou em volta, olhos desconfiados; observou o farol banhado pelo brilho do luar. Não sabia quem era ela, mas estava prestes a descobrir.
- É uma longa caminhada. – Disse James.
- Conheço um atalho.
James assustou-se e recuou um passo instintivamente quando ela segurou suas mãos, estavam frias como a de um cadáver. Um arrepio esmagador subiu por sua espinha e o rapaz foi envolvido pelos olhos penetrantes da jovem mulher como se tivesse sido hipnotizado.
A mulher misteriosa encostou seu rosto no de James ternamente; a brisa brincava com seus cabelos cacheados, e antes que uma nuvem negra cobrisse a lua seu belo rosto se transformou num ser demoníaco e apavorante.
Quando a lua foi encoberta, a escuridão absoluta da noite pairou sobre a ponte e um grito pavoroso ecoou por entre as árvores espantando um bando de aves que assustadas se puseram a voar num sonoro bater de asas.
Minutos depois a lua reapareceu iluminando as grandes armações de ferro onde o corpo de James jazia sem cabeça e o vermelho intenso de sangue fresco escorria por entre as fendas da ponte.
Na manhã seguinte, a ponte estava interditada e a policia fazia seu trabalho. Vários curiosos tentavam entender o que acontecera na noite passada; alguns levavam as mãos à boca exibindo expressões horrorizadas e em algum lugar uma senhora disse que era Mia que retornava aos seus males e com medo se benzeu e levou as mãos aos céus. Era o terceiro caso na semana naquela pacata cidade e nos dias que se seguiram mais cinco casos foram registrados, e mais mortes aconteceriam até que a policia encontre a mulher que colecionava cabeças.