O Corpo no Porta-Malas
Anoitecera. Luiz Antônio dirigia seu carro sem rumo, mal prestando atenção no trânsito atribulado da grande cidade. No porta-malas jazia o corpo de Isabela, melhor amiga de sua filha.
Não, ele não era um monstro, repetia a si mesmo enquanto dobrava uma esquina. Fora vítima de uma funesta e arrasadora paixão. Isabela e sua filha tinham ambas 12 anos de idade, eram vizinhas e colegas de escola desde o jardim de infância. Luiz Antônio não sabia muito bem quando aquela atração começara. Sempre achara Isabela muito linda. Uma beleza angelical, loura, olhos muito azuis, pele de porcelana... movimentos graciosos, pois estudava balé clássico.
Tinha apenas 12 anos... mas, essa é uma idade muito perturbadora, transição entre infância e adolescência. Fora isso, talvez, que acabara de virar sua cabeça e o levara a aquele extremo...
Dobrou novamente, aumentando a velocidade. Lembrava dos finais de tarde, quando chegava em casa depois do trabalho. Isabela estava sempre lá, ela e sua filha no computador, ou estudando na sala... muitas vezes ela dormia lá. Uma vez, poucos dias antes, ele a vira apenas de camisola. Deus, como era linda... os cabelos louros emoldurando o rosto, o tecido fino marcando os bicos dos seios que desabrochavam, a cintura fina, as coxas esguias...à noite ele perdia o sono pensando na menina, queimava de desejo pensando nela, enquanto ao seu lado sua mulher dormia sem de nada suspeitar. Sim, ele era um pai de família, uma pessoa íntegra acima de qualquer suspeita...
Saiu do perímetro urbano e pegou uma estrada mal iluminada. Afinal, era preciso acabar de alguma maneira com aquela obsessão... naquela tarde fora buscar Isabela na escola. Sua filha não fora à aula, esta resfriada. Mas não rumou para o condomínio onde moravam. Não. Levou a menina para um motel.
Trancado no quarto impessoal com a assustada Isabela, Luiz Antônio então lhe confessara seu amor, tentara ser carinhoso... mas Isabela apenas chorava e pedia para ir para casa. Afinal ele se jogou sobre ela na cama... rasgou seu vestido, sua calcinha, obrigou-a a abrir aquelas pernas que o enlouqueciam... estuprou-a. Lembrava do perfume de sua pele, do momento de seu gozo, de suas mãos apertando o alvo pescoço de Isabela, mais e mais, tentando abafar seu choro e suas súplicas...
Jamais pensara em matá-la! Não, ele amava... ele só queria fazê-la compreender o quanto a amava. Mas fizera tudo errado... e agora Isabela estava morta dentro do porta-malas.
Luiz Antônio sabia o que o esperava. A desonra pública, o desprezo da família, a cadeia, o estupro dos outros presos, o inferno. Era melhor acabar com tudo de uma vez. Ele amava Isabela de verdade, mas não soubera lidar com esse sentimento. Ele arrancara uma flor que estava apenas desabrochando para o mundo. E a seguiria no desconhecido.
Logo à frente havia um medonho precipício... Luiz Antônio jogou o carro lá embaixo sem hesitar. O veículo rolou pelas pedras e explodiu.
FIM