Maria Eugênia- Terceira Parte
Os dois empalideceram. Helena foi a primeira a recobrar o bom senso.
- Essa devia ser a mãe dela. - falou.
Jorge girava a velha coleira entre os dedos, pensativo.
- -E, devia ser.- concordou por fim, jogando o objeto dentro da cova e cobrindo o buraco com a terra. - Vamos entrar antes que a Marina acorde.
Passaram vários dias, estava tudo normal e o estranho episódio daquela noite já fora quase esquecido. Jorge e Helena trabalhavam, Marina ia à escola e depois a avó a pegava, Maria Eugênia levava sua vidinha tranquila de gata mimada, comendo, dormindo e se roçando nas pernas alheias sempre que possível. Até que uma noite...
Marina acordou no meio da noite sentindo muito frio. Apesar de ser verão, seu quarto estava gelado como um freezer. Maria Eugênia dormia em sua caminha. Então Marina, aterrorizada, viu que um vulto branco e esfumaçado atravessava a parede... tomou a forma do menino Lucas, que ela vira no quintal. Ele tinha uma aparência horrível, estava pálido, com o rosto todo machucado e cheio de sangue.
- Vai embora! - gritou a menina.
- Eu vim buscar a Maria Eugênia! - disse ele.
Nesse momento a gata acordou e correu para o menino, que a tomou nos braços. Então de repente o menino e gata ficaram com aspecto de esqueletos, todos desfeitos e em decomposição... Marina saiu correndo do quarto gritando pelos pais, que acudiram logo.
- Filha, que foi? - perguntaram os dois ao mesmo tempo.
Marina parecia em estado de choque.
- O menino com cara de esqueleto, o Lucas, está lá no meu quarto! - disse ela desesperada. - A Maria Eugênia também é um esqueleto!
Jorge e Helena correram até o quarto da filha, e mais uma vez encontraram tudo em perfeita ordem, e a gata dormindo em sua caminha.
Do pretenso menino-esqueleto, nem sinal. Marina porém estava tão aterrorizada que se recusava a entrar no quarto.
- Pai, eu não quero mais dormir com a Maria Eugênia! Tira ela daqui, tira ela daqui, por favor...
- Está bem, filhinha, se acalme... - disse Jorge com um suspiro, e carregou Maria Eugênia com cama e tudo para a garagem.
A cena da outra noite se repetiu. Helena deu água com açúcar para Marina e a deitou entre os dois. A menina tinha os olhos arregalados e custou muito a dormir.
Dessa noite em diante, ela pegou verdeiro horror de Maria Eugênia e não deixava a gata nem chegar perto dela.
- Ela é um fantasma, um esqueleto. Eu vi! - repetia.
Jorge e Helena andavam muito preocupados com aquilo tudo. Marina estava com tanto medo que nunca mais se atreveu a ficar sózinha em seu quarto, à noite. Dormia no meio dos pais, e Maria Eugênia bem longe, na garagem.
Certa noite, Jorge acordou com o som de um choro.
CONTINUA