O Retorno de Kauane- A Ressurreição

Ronaldo e o desconhecido sentaram numa campa abandonada, onde ardia uma vela de cera.

- Você disse que pode trazer a Kauane de volta, mas que ela não seria a mesma... pode me explicar isso melhor?

- Veja bem, meu caro... como é mesmo o seu nome?

- Ronaldo. e o seu?

O homenzinho de preto deu um sorriso significativo.

- Eu tenho muitos nomes, meu caro. Variam conforme os tempos e os lugares... mas vamos ao que interessa. Depois que sua amada voltar da morte, nada será como antes. Para começar, ela nunca mais poderá ver a luz do sol. O sol a matará novamente, e definitivamente, fui claro?

- Sim... e o que mais?

- A partir de agora, ela viverá apenas para você. Terá de manter sigilo absoluto sobre o que se passar aqui hoje, e nunca deixar que pessoas da família dela ou da sua a vejam, senão o encanto será quebrado. Outra coisa... ela não vai mais falar, no entanto vai entender tudo o que você disser, será sempre submissa a você, e o amará como antes, ou até mais que antes. - O homenzinho fez uma pausa. - E agora vem o ponto mais importante.

- Diga! Estou disposto a tudo.

- É sobre a alimentação. Depois que acordar, Kauane apenas poderá ingerir um único alimento.

- Qual?

O restante, o desconhecido murmurou ao ouvido de Ronaldo, que por um instante empalideceu. Depois assentiu.

- Eu vou dar um jeito de conseguir, não vai faltar alimento para ela.

- Uma vez por semana, sem falta...

- Uma vez por semana. Eu juro.

- Então, estamos conversados...

- Só mais uma coisa, quanto vai custar esse ritual? Eu não tenho muito dinheiro, ainda mais depois de todas as despesas com o casamento...

O estranho homenzinho sorriu.

- Não se preocupe com isso agora, a fatura lhe será entregue no momento certo.

Nesse momento o sino de uma igreja próxima bateu três vezes.

- Está na hora! - disse o homenzinho, levantando-se. - Vamos dar início ao ritual...

- Só mais uma coisa, - quis saber Ronaldo. - Porque o ritual precisa ser feito às três da manhã?

Por um instante o desconhecido encarou Ronaldo, e seus olhos pareceram adquirir uma coloração avermelhada.

- Porque Jesus morreu na cruz às três horas da tarde, meu caro... e os demônios se levantam no horário oposto, às três da madrugada...

Ronaldo sentiu um estranho arrepio de repente, e medo... mas tratou de abafar essa impressão. O desconhecido correu para os fundos do cemitério e voltou empunhando um pé de cabra. Ronaldo afastou as coroas de flores, enquanto o outro engatou o instrumento na lápide e abriu com uma precisão admirável. O caixão de Kauane surgiu, refletindo o luar. O homenzinho o abriu rapidamente e a linda morta lá estava, como um anjo adormecido vestido de branco. Ronaldo a contemplou com devoção e amor infinitos.

Nesse momento, uma forte ventania começou a agitar as velhas árvores do cemitério, o tempo mudou e relâmpagos rasgaram o céu. O misterioso homem ergueu os braços acima do cadáver e começou a entoar uma ladainha misteriosa numa língua desconhecida.

O vento e os relâmpagos cessaram juntamente com a invocação, e o tempo acalmou. Kauane, já esverdeada e enrijecida pela morte, espreguiçou-se dentro do caixão e abriu seus grandes olhos negros. Em seguida sentou-se. Ronaldo caiu de joelhos.

- Kauane! Não acredito! Você ... você acordou, meu amor?

- Aqui a temos. - disse o homenzinho, ajudando a defunta a sair do caixão. Tirou os tampões de algodão que vedavam o nariz, os ouvidos e a boca adorável da moça, e de todos os orifícios escorreu sangue escurecido. - Eis aqui sua amada, Ronaldo... mas não se esqueça do que eu lhe disse!

Kauane andou em direção a Ronaldo, como uma pessoa que acaba de sair de um profundo sono. Seus olhos estavam vítreos, o vestido de noiva manchado de sangue, os lábios esverdeados, mas ela sorria para ele. Ronaldo a abraçou chorando muito.

- Meu amor, meu amor... - e, para o homenzinho: seja você quem for, eu nunca vou poder lhe agradecer o que fez por nós...

Mas ele não estava mais ali! Parecia ter sumido no ar.

- Ora essa, onde ele foi? - olhou para Kauane, debruçada em seu peito. - Vamos para casa, meu amor, eu vou cuidar de você. Meu carro está aqui perto...

O rapaz e sua esposa morta-viva saíram abraçados do cemitério.

" Please to meet you, hope you guess my name..."

CONTINUA

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 17/02/2014
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