Criaturas da Noite- Epílogo

Criaturas da Noite- Epílogo

Jorge Linhaça

“ A morte tem faces diversas, por isso cada um a descreve de uma forma diferente, variando de um anjo a um demônio” Jorge Linhaça

Ela saiu vestida sensualmente de negro.

Literalmente vestida para matar.

Havia sido convocada naquela sexta-feira para executar a sua tarefa tão necessária e antiga quanto a própria humanidade.

Já não se lembrava de quando havia sido a sua primeira vez. Eram tantas as tarefas que já havia terceirizado os seus serviços, permitindo que outros fizessem parte de seu trabalho sem nem ao menos perceberem que a serviam.

Mas esta era sua noite e, a escultural morena não podia deixar de realizar sua tarefa, por mais divertido que estivesse sendo aquele encontro naquela mesa de bar. Ali estava em alerta, apenas aguardando a hora certa para o seu labor.

O toque do celular sinalizou que era hora de trabalhar. Abandonou a mesa e seu acompanhante com uma desculpa qualquer e saiu rumo ao local pré-determinado.

Atravessou ruas e becos sem ser incomodada até chegar ao local do seu encontro marcado. Ali permaneceu por alguns minutos, aguardando que os sons de tiros e motos se aproximassem. Lá vinham eles. Um corpo cai ao chão, ainda vivo, ela aproxima-se do outro homem, seduzindo-o a dar vazão à sua raiva, falando à sua mente numa telepatia imperceptível. O homem deflagra outro tiro, o seu adversário nada mais vê além da escuridão, até que ela aparece-lhe em sua verdadeira forma, arrastando a alma do pobre diabo para despejá-la, adiante, nas portas do inferno.

Missão cumprida.

Agora o caminho de volta, parecia que a chamavam para outro lugar, era mais um alerta amarelo do que um sinal verde para sua ação.

Um homem agonizava no asfalto, atingido por balas perdidas no tiroteio que desembocou no local de seu encontro anterior.

Agora era guardar o desfecho, era aguardar ordens superiores para saber se levaria ou não mais aquela alma para seu destino final.

Em seus apontamentos viu que o destino daquele homem haveria de ser diferente do seu predecessor.

Aproximou-se e seu dedo gelado tocou o rapaz, naquele instante o coração do homem parou e os paramédicos tiveram de usar o desfibrilador para trazê-lo de volta. Ainda assim a misteriosa dama acompanhou por vários dias o desenrolar de seu quadro clínico no hospital, ficando em stand-by pronta para agir se fosse chamada.

Ao fim foi liberada.

A Morte podia seguir adiante, buscando os novos nomes que se escreviam em sua agenda fatal.