OS ANJOS DA MORTE

Os Anjos da Morte

Jorge Linhaça

Samael, Sariel e Azrael, esses são os nomes que não desejamos ouvir, são os anjos que não desejamos conhecer, mas eles estão chegando. Não temos mais para onde correr, não temos como nos esconder, todos recebemos as suas marcas, gravadas indelevelmente em nossas almas.

A angústia de não saber o dia e nem a hora do encontro final é que nos angustia a cada hora, mas ao mesmo tempo, essa mesma ignorância nos mantém lutando para não sucumbir.

Não parece haver uma lógica em sua lista, não há classe social, não há faixa etária nem etnia que esteja livre de seus gélidos toques.

Ao meu lado já sucumbiram crianças, adolescentes, velhos, brancos, negros, asiáticos, homens e mulheres, homossexuais... Ninguém está livre, ninguém tem garantia de um maior prazo de validade que os demais, a hora pode ser agora ou daqui a alguns dias ou meses.

Já vi muitos partirem, levados pelos anjos da morte. Hoje somos poucos sobreviventes conscientes do destino da humanidade. Um destino que escrevemos a cada dia e que foi tornando-se cada vez mais um facilitador para a obra desses seres.

Suas asas negras pairam sobre todos os lugares numa quase onipresença , não temos como resistir, não temos como detê-los...

NÃÃOOOOO .... Ó MEU PAI , ELA NÃO.....

Sofia acabou de sucumbir... Sem aviso... Caiu fulminada ao meu lado... Pude sentir a brisa gélida do bater das asas dos anjos da morte... Pensei que minha hora havia chegado, mas não era minha vez ainda... Não sei por quanto tempo irei resistir... São tantas perdas, tantos vazios...

Dizem que quem sente o vento das asas dos anjos está a um passo de sua partida... Já senti essa sensação por várias vezes. Não sei o porque ainda estou aqui...Talvez para registrar esse horror latente e invulnerável. Talvez porque mereça sofrer mais que os demais... Não sei.

Cada perda de um companheiro é como um cravo penetrando minha alma, a dor apenas se amplia, é como sentir jorrar sangue por todos os poros de meu corpo.

Os anjos da morte não tem um “modus operandi” específico, qualquer forma de morte é uma forma de morte e ponto final. Alguns agonizam em seus leitos... Outros se vão em meio a uma viagem, seja ela uma viagem real ou daquelas criadas pelas drogas, outros se vão vítimas da violência, não importa, sua tarefa está sendo cumprida. O que mais me abala é saber que nós lhes demos tal poder ao longo dos anos.

A ambição, o desespero, a falta de expectativas, a ganância, a intemperança... a ideia das vantagens sobre todos, o sexo fácil, tudo junto e misturado criou esse ambiente propício para a deflagração deste extermínio.

Lá vem eles novamente, posso ouvir duas asas, posso sentir o gelar em minhas veias...MINHA NOSSA, NÃO....ISSO NÃO....agora foram quatro crianças atropeladas por um louco, cego pelas asas negras dos anjos da morte, escondidas em uma garrafa de bebida...NÃO AGUENTO MAIS SER TESTEMUNHA DE TAMANHO MASSACRE...

VOLTEM AQUI SEUS COVARDES...NÃO FINJAM QUE EU NÃO EXISTO...AZRAEEEEL VENHA ME ENCARAR FACE A FACE...SAMAEL....SARIEL...PAREM DE SE ESCONDER POR TRÁS DESSAS MÁSCARAS DE HUMANIDADE...VENHAM ME PEGAR!!!

Não me ouvem, talvez estejam rindo de mim em algum lugar, rindo de minha desgraça, de minha angústia sem fim. Devem estar espreitando por alguma fresta obscura entre nossos dois mundos, esperando a hora certa, esperando minha expiação...

O cheiro da morte se espalha sobre a terra, invade-me as narinas, me corrói a alma como um ácido corrói a carne. Olho pela janela e vejo zumbis andando pelas ruas, vejo mortos que não sabem do seu destino, não percebem a presença dos anjos da morte.

ELES ESTÂO VOLTANDO, POSSO SENTIR, SUA PRESENÇA É IMENSA, NUNCA A SENTI EM TAMANHA INTENSIDADE...FRIO...MUITO FRIO...MUITOMF WWWWWWWWWWWWWW´WWWWWWWWWWWWMFFFFFFFFFFFFEEEEEEEEEEEEEEEEEOOOOOOOOOOFFFFFFFFF