Rebeca- Parte 1

Rebeca era a querida pet de Dona Isabel, uma senhora já idosa, que exercia as funções de mística e benzedeira. Atendia quem a procurava com cartas de Tarô, rezas e benzeduras, e também com suas garrafadas de ervas medicinais, que tinham fama de milagrosas.

Fora numa de suas incursões pelo mato para colher ervas medicinais, que Dona Isabel encontrara a pequena Rebeca, e a salvara das garras de um predador. Tomada de afeição pelo indefeso ser, ela e colocou dentro de seu cesto de palha e a levou para casa, onde a criou com todo o carinho. Isso já fazia uns cinco anos.

Ah, sim... Rebeca era uma tarântula, sim, uma linda aranha caranguejeira, muito grande, de pelos cor de fogo e presas vermelhas, daquelas que mataria de susto a qualquer desavisado. Menos Dona Isabel, que respeitava todos os seres vivos e a amava como uma filha, sentindo que era correspondida. Rebeca vivia num terrário cercado de fina tela, comia insetos que sua mãe adotiva caçava para ela e, às vezes, até mesmo tenras crias de rato. Era muito dócil, subia na mão de sua dona, que ria com as cócegas que ela lhe causava, e acariciava no dorso como se fosse um gatinho, enquanto a aranha a fitava com seus oito olhos amarelos, parecendo compreender tudo o que ela dizia.

As pessoas que frequentavam a casa de Dona Isabel não sabiam da existência dessa pet exótica. Além de Rebeca, ela também criava gatos e cachorros e dava comida a uma infinidade de pombas. Até que, um dia, a tela da gaiola de Rebeca se rompeu e ela escapuliu pelo buraco. Feliz com a amplidão conquistada, Rebeca saiu correndo porta a fora, com toda a velocidade de que suas oito aveludadas patas eram capazes. Correu rumo à luz do sol e ao jardim, seus oito olhos não acreditavam que o mundo fosse tão grande, ai menina, como você é inocente, sua mãe não lhe avisou do perigo! E assim correndo Rebeca entrou na garagem do vizinho, onde o filho deste, um rapaz de 18 anos, lavava o carro com a mangueira e ouvia AC/DC a todo volume. Sua namorada, uma loura de top e shortinho, foi quem viu Rebeca primeiro. Subiu aos gritos de horror no capô do carro...