Raptada

Chovia e fazia muito frio no cemitério solitário, no alto da colina. As cruzes perdiam-se entre as hastes do capim selvagem, agitadas pelo vento gelado. Annelise apeou do cavalo e seguiu, desafiando a tempestade, para o túmulo de sua mãe. O vento estava forte e quase arrancava seu vestido negro de luto e a velha capa de lã que ela pusera para se abrigar.

O céu era como uma muralha de chumbo, bordado de nuvens carregadas, que o vento levava... tudo era escuro, exceto a radiosa beleza de Annelise, sua pele alva como leite com faces rosadas, seus olhos muito azuis, que pareciam guardar dentro de si uma primavera particular, seus cabelos cor de mel e ondulados.

Naquele dia seria o aniversário de sua mãe, sua única companheira no mundo, que falecera dias antes vitimada pela tuberculose. Annelise não podia deixar de visitar seu túmulo, por mais ameaçador que fosse o tempo. O vento aumentava de intensidade e desfolhava os delicados gladíolos, as lindas rosas que ela colhera no jardim de sua casa solitária, o mesmo jardim que sua mãe cultivava e tanto amava...

Annelise ajoelhou-se diante da pobre sepulturas, que quase era engolida pela lama. As flores frescas deram uma nota de cor ao cemitério. Foi então que ela ouviu um tropel de cavalo atrás de si, e voltando-se, viu um lindo corcel todo negro, onde galopava um cavaleiro encapuzado, que a ergueu como se fosse uma pluma e a carregou dali...

Annelise não sabia há quanto tempo estava acorrentada naquela masmorra sombria. Perdera a noção de tempo... ali não havia dia ou noite, era sempre aquela eterna penumbra. Sabia que fora raptada por Drago, famoso e temido vampiro da região, e agora estava presa em seu castelo... o castelo assustador, no alto de um penhasco, o castelo de onde ninguém retornava. Mas ela, apesar de ter apenas 17 anos, não se importava mais com a vida... queria adentrar logo os portais da vida eterna. Somente a espera era penosa. Porque Drago não a matava de uma vez?

Como se tivesse escutado seu apelo mental, o senhor do castelo apareceu. Era alto, vestia uma armadura e capa de veludo vermelho, e era sim belo, muito belo... fora feito vampiro nas Cruzadas, quando tinha apenas 22 anos. Annelise sentiu-se atraída por ele. Quase queria que ele a mordesse. Drago aproximou-se, abrindo seu vestido, as mãos lascivas percorrendo seu corpo adolescente... Annelise fechou os lindos olhos azuis, de vergonha e medo e de prazer também. As mãos de Drago acariciavam seus seios de virgem, seu colo aveludado. Ele colou todo o seu corpo ao da moça, e que estranho, Annelise sentiu não apenas uma mordida, mas duas... uma em seu pescoço, outra rasgando o local mais íntimo de seu corpo, e o sangue escorrendo de ambos os ferimentos...

Mais tarde, já com os caninos afiados, um lindo vestido de veludo roxo e uma sede ardente de sangue, Annelise sorriu para seu marido. E compreendeu que já estava na vida eterna...

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 01/02/2014
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