A Ceia de Natal

- O peru está quase no ponto, mamãe! Só mais um minuto!

Osvaldo correu para a sala, onde a mesa estava posta impecavelmente, com toalha de linho bordada a mão, cristais e prataria cintilando de tão polidos. No outro canto da sala, uma grande árvore de Natal apagava e acendia luzinhas multicores.

Osvaldo parou diante da poltrona onde sentava-se sua mãe, comovido.

-Ah, mãezinha querida... nem acredito que a senhora está aqui de volta, para passar o Natal comigo... senti tanto a sua falta! Mas, agora, sei que a senhora voltou para ficar...essa é a sua casa, por que vai ficar lá, naquele lugar terrível, se esta e é a sua casa?

Faltavam poucos minutos para a meia noite. Osvaldo tirou o peru do forno e o levou para a mesa numa travessa guarnecida com frutas secas e fios de ovos. Havia também pudim e rabanadas. Tirou o champagne do gelo, sempre sorrindo para a mãe, que não se movia da poltrona.

- A ceia está pronta! Venha, mamãe, vamos comer antes que esfrie!

Nesse momento a porta da casa foi derrubada com um barulho ensurdecedor, e um grupo de policiais e bombeiros invadiu a sala.

Pararam um instante, estarrecidos diante da cena dantesca...

Um fedor nauseabundo infestava o ambiente, misturado ao cheiro delicioso do peru assado. Na sua poltrona preferida estava o cadáver em adiantado estado de decomposição da mãe de Osvaldo, falecida meses antes, uma carcaça inchada, enegrecida, vestindo ainda as roupas com que fora sepultada. Larvas soltavam-se de seus cabelos e saíam andando pelo tapete. Ao lado da árvore de Natal estava o caixão vazio.

Osvaldo roubara o cadáver de sua mãe do cemitério, para passar o Natal com ele!

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 01/02/2014
Código do texto: T4673509
Classificação de conteúdo: seguro