O Pitbull do Inferno DTRL14

Julian tinha 25 anos, era técnico em Informática. Formado há pouco tempo, mas por sua competência já possuía uma excelente clientela, a tal ponto de já ter dado entrada em seu próprio apartamento, pequeno na verdade, mas seu. Tinha sua própria oficina e trabalhava muito, para ele não existiam domingos nem feriados, como não tinha pais vivos e era solteiro, dedicava-se totalmente ao trabalho.

Certa tarde nublada e sombria ameaçando temporal, já perto das cinco horas, Julian recebeu o telefonema de um senhor chamado Armando. Ele disse que seu neto estava para chegar dos Estados Unidos, e precisava urgentemente instalar o computador em sua casa. Sinal de Internet já havia. Se ele poderia ir ainda aquele dia, ele pagaria o que fosse preciso.

Julian não teve dúvidas. Anotou o endereço,que era um pouco retirado da cidade, pegou seu velho carro, um Fiat Uno 1992, e rumou para o local indicado.

Ameaçava chuva a qualquer momento e escurecia cada vez mais, mas Julian era uma pessoa inteiramente voltada pra o trabalho e não se importava com isso. Saiu da estrada principal e tomou o atalho de uma estradinha de terra, como lhe indicara o senhor e lá desembocou diretamente em sua propriedade.

O rapaz desceu do carro e fez soar a campainha do velho portão de ferro. Era uma casa antiga e sombria, no meio do campo, e o céu cor de chumbo emprestava um ar de filme e terror ao local. Logo uma senhor e meia idade apareceu. Disse ser a governanta e pediu a Julian que a seguisse, pois o sr. Armando estava à sua espera.

Julian seguiu a mulher um tanto assombrado pelo clima do lugar, mas não era de se deixar impressionar facilmente. Subiram alguns degraus, atravessaram um corredor escuro e cheio de quadros, e entraram numa sala ampla e bem iluminada, com rica decoração. Lá estava o dono da casa, era um senhor de seus 70 anos, mas bem conservado e forte, tinha cabelos grisalhos e vestia um terno preto. Cumprimentou Julian afavelmente e agradeceu por ele ter atendido seu chamado com tanta presteza.

Foi então que Julian viu algo que realmente o assustou. Em cima do piano, estava um enorme cão da raça Pitbull, um red nose, cor de caramelo com peito branco, e seus olhos muito verdes pareciam fitá-lo friamente. O sr. Armando riu e o tranquilizou, disse que se tratava de um cão empalhado.

Julian, aliviado, ms ainda suando frio, riu também de seu engano e de seu susto, mas o fato era que o cachorro parecia incrivelmente vivo e pronto a saltar sobre ele...

O dono da casa o convidou a sentar. Contou-lhe que aquele cachorro, Vlad, fora um verdadeiro filho para ele, muito mais que um animal de estimação, o mais fiel e carinhoso do seres que conhecera. Ao morrer, ele, que já era viúvo, perdera o filho e a nora num acidente e seu único neto estudava fora, não teve coragem de se privar completamente da presença de eu amado cão. Foi então procurar um famoso taxidermista, um empalhador de animais, que lhe cobrara uma pequena fortuna mas fizera um trabalho perfeito, a tal ponto de Julian, e outras pessoas também, o confundirem com um animal vivo...

Julian quis logo iniciar seu trabalho, e o velho senhor subiu com ele as escadas e abriu a porta de um amplo quarto, que seu neto ocuparia assim que chegasse. Disse a Julian que ficasse à vontade e retirou-se.

Julian agradeceu, abriu sua maleta e começou a instalar o computador de última geração. Começara a chover forte, relâmpagos e trovões se sucediam. No meio do trabalho a luz acabou.

Mas que merda, pensou Julian, irritado. E saiu pelo corredor procurando o dono da casa, ou sua governanta, mas não encontrou nem sinal dos dois. E assim ele ficou no escuro, sem ter sequer uma vela...

A história daquele cão era muito mais macabra que o sr. Armando lhe contara...

Vlad, o Pitbull de estimação, na verdade não fora empalhado, e sim reanimado num ritual e magia negra feito por um sacerdote de vodu, onde fora invocado o próprio Lúcifer, Senhor das Trevas. Vlad retornaria à vida uma vez por ano, durante 24 horas, mas o preço que isso custaria seria uma vida humana sacrificada.. todos os membros da família do sr. Armando, a esposa, o filho, a nora e o neto já haviam sido devorados pelo cão do inferno. Por isso ele chamara Julian, pois Vlad precisava de carne humana...

Julian desceu as escadas aos tropeções à luz dos relâmpagos que clareavam tudo. Foi então que, ao entrar na sala, ouviu o rosnar de um cão...

Incrédulo de pavor,viu o pitbull arremeter contra ele, com os dentes arreganhados e os olhos cheios de uma luz sobrenatural! E as trevas eternas o envolveram para sempre. O sr. Armando surgiu e ficou observando enquanto Vlad devorava com volúpia a carne de Julian, formando uma grande poça de sangue no tapete. No dia seguinte o velho jogaria os restos mortais no fundo do poço, tal como fizera com de seus familiares, cujos misteriosos desaparecimentos a polícia continuava a investigar.

Depois de comer, Vlad, com o focinho manchado de sangue fresco,,correu para os braços de seu dono,que o acariciou ternamente, enquanto olhava com uma certa pena para o corpo desfigurado de Julian.

- Desculpe, rapaz, não é nada pessoal... mas é que amo Vlad acima de tudo!

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 30/01/2014
Reeditado em 31/01/2014
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