Durar para sempre
A casa dos Roberts estava abandonada há anos. Quando Ailana nasceu, ela já tinha a fama de ser mal-assombrada. A família que era dona daquela casa tinha um grande negócio: vendiam animais empalhados, o que dava muito dinheiro a eles. E apesar de ser uma arte estranha, muita gente comprava.
Ailana faria treze anos em poucos dias, e estava ansiosa para esse dia chegar. Passou na frente da casa abandonada. Ela não estava mais abandonada. Alguém havia mudado para aquele bairro, e esse alguém foi morar justo na casa abandonada. Ailana ficou parada na frente da casa, olhando e tentando ver quem morava ali agora.
A cortina se abriu, assustando-a; ela se escondeu rapidamente embaixo da pequena sacada do sobrado. Viu o feixe de luz na calçada desaparecer, o que mostrava que a cortina havia sido fechada, e continuou o caminho até sua casa.
Chegando em casa, contou aos pais que a casa abandonada estava agora habitada. A mãe achou estranho, por que a casa era velha e feia, e ninguém gostava dela.
-Mas é verdade, mãe. Eu vi um homem de cabelo preto e com a maior cara de doente aparecer na janela, e a casa estava normal. Tinha até uns gatos lá.
-Hum... Não sei, Nãna... Sabe, talvez seja um dos donos da casa. Por que ninguém iria querer morar lá, a não ser que fosse dono...
-É... Pode ser. Mas que aquele homem era estranho, ah isso era.
No dia seguinte, todos já estavam sabendo do novo vozinho. E havia mais novidade: duas crianças se encontravam desaparecidas há dois dias! Estavam sendo procuradas desde a noite anterior, e não tinham nem pistas de onde eles poderiam estar.
As crianças desaparecidas eram os gêmeos Arthur e Stefan, os meninos mais quietos do bairro.
Ailana se juntou a Lolita e Roger, seus melhores amigos, e conversaram sobre os gêmeos desaparecidos.
-Nãna, pode ser que eles tenham fugido. Daí vai que a gente os acha e eles não querem voltar? –disse Lolita, sempre a mais cética.
-Eu acho que eles foram raptados. –Roger nunca pensava em um “final feliz” pra nada!
-Olha, não vamos saber de nada se não nos mexermos e procurarmos logo os dois. –Nãna estava confiante de que ia achar os gêmeos.
Discutiram o assunto por horas, ponderando os prós e contras. Depois dessas horas, resolveram procurar logo os dois desaparecidos.
-Então é isso. Roger, Lolita, nos encontramos aqui amanhã á noite.
Teria dado tudo certo se Roger e Lolita não tivessem desaparecido também. Ailana ainda dormia quando sua mãe ficou sabendo deles. Assim que acordou, Ailana tentou ligar pra eles, e sua mãe falou o que havia acontecido:
-Ailana, o Roger e a Lolita desapareceram ontem à noite. Todos estão à procura deles e dos gêmeos.
-Mãe, aquele homem que se mudou para aquela casa também está procurando eles?
-Hum... Ele falou que já é tarde, que hoje em dia, todos que somem na certa estão mortos. Mas está dando muito apoio pras famílias dos desaparecidos.
Ailana e a mãe almoçaram em silêncio, cada uma pensando no que havia acontecido. Ailana sentia... nada. Ela sabia que devia estar chorando, ou fazendo alguma coisa do tipo, mas não estava conseguindo ter nenhum tipo de reação. Sua mãe achou estranho, mas pensou que deveria ser normal. Ailana devia estar apenas confusa.
Ailana, na verdade, estava com toda a vontade de descobrir o que estava acontecendo. Iria se envolver até o último fio de cabelo para saber quem- ou o quê- estava sumindo com seus amigos. Achou estranho o novo vizinho ter falado daquele jeito, sem estar ajudando a procurar pelos desaparecidos.
Não se importava com o escuro. Saiu de casa às dez horas da noite, e estava disposta a procurar Roger e Lolita até cansar. Nem prestava mais atenção no caminho. Lágrimas saíam de seus olhos.
Ailana foi agarrada por alguém, foi jogada dentro de uma caixa, e desmaiou.
Quando voltou a si, ainda estava dentro da caixa, e um homem de cabelos pretos e cara de doente a tirou da caixa.
O lugar onde ela estava era a casa dos Roberts. Aquele era Vicenzo, herdeiro daquela casa horrível e cheia de animais empalhados.
-Se você gritar, juro que te mato. –disse ele, olhando nos olhos dela.
Vicenzo a empurrou até uma sala, e Ailana teve fortes ânsias de vomito.
Lá estavam seus amigos, os gêmeos e mais um monte de crianças. Todas empalhadas, em pedestais, assim como os animais que renderam a fortuna que aquela família tinha.
-Por que está tremendo? Não acha ótimo durar para sempre? -Vicenzo riu e a empurrou para um canto, onde havia um pedestal vazio. Ele fechou a porta.
No pedestal vazio havia um nome, escrito com letras lindas e cheias de floreios:
Ailana Fernandes