Foram os Templários que organizaram ás compagnonnages – confrarias dos chamados pedreiros livres – cujo desdobramento, em fins do século XVI iria dar nascimento á maçonaria moderna. A presença de profissionais da construção civil era uma necessidade da própria organização na edificação de seus castelos, fortalezas, capelas e outras estruturas, nas quais se notabilizaram. Na origem, esses operários eram profissionais da construção que eram contratados junto á sociedade civil, para realizarem esses serviços. Como a atividade de construção se tornou uma constante entre os Templários, o Templo organizou esses profissionais na forma de uma confraria, dando-lhes um conjunto de regras conhecido como “deveres”.
Por serem reconhecidos como “homens dos Templários”, eles tinham o status de pedreiros-livres, ou seja, podiam deslocar-se de uma cidade para outra sem ter que pagar as taxas devidas que as leis, em cada feudo, ou reino, impunham aos trabalhadores dessa e de outras profissões. Daí o nome pelos quais ficaram conhecidos esses trabalhadores: o de franco-maçons.
Eles eram operários e não soldados, como os cavaleiros do Templo. Vestiam-se de branco, usavam a cruz templária em seus aventais e eram constantemente requisitados pelos barões, pelos reis e principalmente pela Igreja para trabalhar em suas construções. Dessa forma representavam uma fonte de renda a mais para o Templo, que administrava o trabalho deles.
Tiveram uma grande participação nas cruzadas, construindo as diversas fortalezas templárias que existiam no Oriente Médio, algumas das quais ainda existentes no dia de hoje. Esses operários não portavam armas e não eram considerados “monges”, no sentido aplicado aos próprios cavaleiros Templários, que eram “monges guerreiros”.
Durante a estada desses profissionais no Oriente Médio eles adquiriram certos métodos de trabalho e algumas tradições de construção civil, oriundas dos povos da antiguidade, tais como os egípcios e os caldeus, por exemplo. Foi com o conhecimento de arquitetura trazido do Oriente que eles criaram o estilo gótico, aplicado nas grandes catedrais erguidas nas principais cidades europeias.
Foi também dessa fonte oriental que os compagnons herdaram o misticismo que se tornou elemento de tradição na sua profissão. E por aí entraram também as tradições judaicas e islâmicas que mais tarde foram incorporadas ao acervo cultural desse grupo. Vem dessas fontes o apego que os antigos pedreiros-livres tinham pela Geometria.
Sem dúvida também devem ter estabelecido contato e sofrido a influência dos arquitetos bizantinos, os quais, durante todo o período em que Constantinopla dominou a região, marcaram a arquitetura do Oriente com suas formosas obras de construção.
Em Paris os chamados pedreiros-livres viviam no seu próprio bairro, que fazia parte do complexo do Templo, nas imediações da Cité. Por ser considerado um anexo do Templo, o bairro dos maçons, como passou a ser chamado, gozava das imunidades e privilégios concedidos ás propriedades templárias e seus habitantes tinham certas liberdades que não eram concedidas aos profissionais de outras ocupações. Por cerca de cinco séculos esse bairro continuou sendo chamado de bairro dos maçons, centro dos operários iniciados, só desaparecendo nessa condição após a revolução de 1789.
Foi, evidentemente, por força da tradição templária emprestada á profissão do construtor que nasceu toda a mística que envolveu a confraria dos pedreiros-livres. Depois da extinção da Ordem do Templo e da absorção dos seus bens, direitos e funções pela Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João, os pedreiros-livres que trabalhavam sob o controle do Templo passaram também a fazer parte do Hospital. Daí os grupos que se formavam nos canteiros das igrejas passaram a ser chamados de “operários do bom Deus” e “Irmãos de São João” e suas confrarias, que se reuniam em locais demarcados dentro dos canteiros de obras, passaram a ser conhecidos como Lojas. O têrmo “Lojas de São João”, como são conhecidas até hoje as Lojas maçônicas, têm como raízes essas tradições.
A transição da cultura hermética e iniciática dos Templários para os maçons modernos é uma história que ainda não foi recenseada a contento por falta de documentos confiáveis que mostrem essa transposição de uma forma segura e incontestável. Mas é evidente que essa ponte existe e foi construída ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, de uma forma sutil, na maioria das vezes oculta na penumbra de uma Loja de maçons operativos, ou no claustro das diversas Ordens de cavalaria e outras Ordens monásticas, onde o pensamento hermético se refugiou para escapar do crivo opressor da Igreja.
Uma busca nesses porões, cujo conteúdo talvez esteja depositado na biblioteca do Vaticano, poderia lançar luzes sobre essa história. Foi isso que aconteceu com os Templários depois que a pesquisadora Bárbara Frale descobriu o Pergaminho de Chinon, que estava depositado naquela biblioteca há mais de setecentos anos. Embora já fosse conhecido dos historiadores, foi a releitura feita pela Dra. Frale que colocou novas luzes sobre esse drama que até hoje incomoda a Igreja e excita a curiosidade das pessoas.
A maçonaria, inegavelmente, incorporou a tradição hermética dos Templários, embora, como sabemos, ela não seja uma herdeira direta do Templo, como querem algumas confissões maçônicas. Isso porque a Ordem do Templo não desapareceu por completo com o sacrifício de seus comandantes em 18 de março de 1314. Temos informações da sua sobrevivência ao longo dos séculos e são conhecidos, inclusive, o nome de seus grãos-mestres, ao correr desse tempo.
Parece também inegável que muitos episódios da história medieval, moderna e contemporânea estejam ligados, de alguma forma com as atividades templárias exercidas na clandestinidade. De outra forma seria difícil explicar a saga de Joana d’Arc e Giles de Rais, por exemplo, dois personagens movidos pelo mesmo ideal, mas com formas de atuação e comportamentos tão diferentes.
Provavelmente, na esteira desse cometa também encontraríamos episódios tão importantes para a história do ocidente quanto a chamada Renascença, a Reforma Protestante, a eclosão do chamado pensamento Rosacruz e o próprio pensamento iluminista.
Também aí encontraríamos os motivos da fundação da Companhia de Jesus, o próprio aparecimento da maçonaria moderna e todos os movimentos dos quais ela fez parte e influiu, tais como a Revolução Francesa, a Independência dos Estados Unidos da América e dos países latino-americanos. Todos esses acontecimentos históricos são ecos dessa formidável experiência civilizatória que o Templo representou.
Essa é a razão de os Templários, ainda hoje constituírem um foco de interesse histórico e uma fonte inesgotável de inspiração literária.
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Notas históricas
Depois da prisão de Joana e da sua morte na fogueira, Giles abandonou o exército e retirou-se para o seu feudo em Montmorency, onde fundou uma especie de Confraria, na qual se praticavam ritos satânicos, com o sacrifício de crianças e orgias sexuais durante esses sacrifícios. Ficou famoso como mago e feiticeiro. Uma investigação conduzida pela Inquisição comprovou que essa seita demoniaca dirigida por Giles de Rais havia sacrificado mais de mil crianças. Em consequência ele foi julgado e acabou morto na fogueira. Ele é conhecido hoje como o maior serial killer da história e cognominado o “Senhor das Trevas”. Não obstante, sua figura ainda hoje é venerada por algumas seitas, ditas satânicas, em vários países da Europa.
Por serem reconhecidos como “homens dos Templários”, eles tinham o status de pedreiros-livres, ou seja, podiam deslocar-se de uma cidade para outra sem ter que pagar as taxas devidas que as leis, em cada feudo, ou reino, impunham aos trabalhadores dessa e de outras profissões. Daí o nome pelos quais ficaram conhecidos esses trabalhadores: o de franco-maçons.
Eles eram operários e não soldados, como os cavaleiros do Templo. Vestiam-se de branco, usavam a cruz templária em seus aventais e eram constantemente requisitados pelos barões, pelos reis e principalmente pela Igreja para trabalhar em suas construções. Dessa forma representavam uma fonte de renda a mais para o Templo, que administrava o trabalho deles.
Tiveram uma grande participação nas cruzadas, construindo as diversas fortalezas templárias que existiam no Oriente Médio, algumas das quais ainda existentes no dia de hoje. Esses operários não portavam armas e não eram considerados “monges”, no sentido aplicado aos próprios cavaleiros Templários, que eram “monges guerreiros”.
Durante a estada desses profissionais no Oriente Médio eles adquiriram certos métodos de trabalho e algumas tradições de construção civil, oriundas dos povos da antiguidade, tais como os egípcios e os caldeus, por exemplo. Foi com o conhecimento de arquitetura trazido do Oriente que eles criaram o estilo gótico, aplicado nas grandes catedrais erguidas nas principais cidades europeias.
Foi também dessa fonte oriental que os compagnons herdaram o misticismo que se tornou elemento de tradição na sua profissão. E por aí entraram também as tradições judaicas e islâmicas que mais tarde foram incorporadas ao acervo cultural desse grupo. Vem dessas fontes o apego que os antigos pedreiros-livres tinham pela Geometria.
Sem dúvida também devem ter estabelecido contato e sofrido a influência dos arquitetos bizantinos, os quais, durante todo o período em que Constantinopla dominou a região, marcaram a arquitetura do Oriente com suas formosas obras de construção.
Em Paris os chamados pedreiros-livres viviam no seu próprio bairro, que fazia parte do complexo do Templo, nas imediações da Cité. Por ser considerado um anexo do Templo, o bairro dos maçons, como passou a ser chamado, gozava das imunidades e privilégios concedidos ás propriedades templárias e seus habitantes tinham certas liberdades que não eram concedidas aos profissionais de outras ocupações. Por cerca de cinco séculos esse bairro continuou sendo chamado de bairro dos maçons, centro dos operários iniciados, só desaparecendo nessa condição após a revolução de 1789.
Foi, evidentemente, por força da tradição templária emprestada á profissão do construtor que nasceu toda a mística que envolveu a confraria dos pedreiros-livres. Depois da extinção da Ordem do Templo e da absorção dos seus bens, direitos e funções pela Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João, os pedreiros-livres que trabalhavam sob o controle do Templo passaram também a fazer parte do Hospital. Daí os grupos que se formavam nos canteiros das igrejas passaram a ser chamados de “operários do bom Deus” e “Irmãos de São João” e suas confrarias, que se reuniam em locais demarcados dentro dos canteiros de obras, passaram a ser conhecidos como Lojas. O têrmo “Lojas de São João”, como são conhecidas até hoje as Lojas maçônicas, têm como raízes essas tradições.
A transição da cultura hermética e iniciática dos Templários para os maçons modernos é uma história que ainda não foi recenseada a contento por falta de documentos confiáveis que mostrem essa transposição de uma forma segura e incontestável. Mas é evidente que essa ponte existe e foi construída ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, de uma forma sutil, na maioria das vezes oculta na penumbra de uma Loja de maçons operativos, ou no claustro das diversas Ordens de cavalaria e outras Ordens monásticas, onde o pensamento hermético se refugiou para escapar do crivo opressor da Igreja.
Uma busca nesses porões, cujo conteúdo talvez esteja depositado na biblioteca do Vaticano, poderia lançar luzes sobre essa história. Foi isso que aconteceu com os Templários depois que a pesquisadora Bárbara Frale descobriu o Pergaminho de Chinon, que estava depositado naquela biblioteca há mais de setecentos anos. Embora já fosse conhecido dos historiadores, foi a releitura feita pela Dra. Frale que colocou novas luzes sobre esse drama que até hoje incomoda a Igreja e excita a curiosidade das pessoas.
A maçonaria, inegavelmente, incorporou a tradição hermética dos Templários, embora, como sabemos, ela não seja uma herdeira direta do Templo, como querem algumas confissões maçônicas. Isso porque a Ordem do Templo não desapareceu por completo com o sacrifício de seus comandantes em 18 de março de 1314. Temos informações da sua sobrevivência ao longo dos séculos e são conhecidos, inclusive, o nome de seus grãos-mestres, ao correr desse tempo.
Parece também inegável que muitos episódios da história medieval, moderna e contemporânea estejam ligados, de alguma forma com as atividades templárias exercidas na clandestinidade. De outra forma seria difícil explicar a saga de Joana d’Arc e Giles de Rais, por exemplo, dois personagens movidos pelo mesmo ideal, mas com formas de atuação e comportamentos tão diferentes.
Provavelmente, na esteira desse cometa também encontraríamos episódios tão importantes para a história do ocidente quanto a chamada Renascença, a Reforma Protestante, a eclosão do chamado pensamento Rosacruz e o próprio pensamento iluminista.
Também aí encontraríamos os motivos da fundação da Companhia de Jesus, o próprio aparecimento da maçonaria moderna e todos os movimentos dos quais ela fez parte e influiu, tais como a Revolução Francesa, a Independência dos Estados Unidos da América e dos países latino-americanos. Todos esses acontecimentos históricos são ecos dessa formidável experiência civilizatória que o Templo representou.
Essa é a razão de os Templários, ainda hoje constituírem um foco de interesse histórico e uma fonte inesgotável de inspiração literária.
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Notas históricas
- O desenvolvimento da arte gótica coincide com o estabelecimento dos Templários como fonte de poder e estrutura de organização social e político na Europa. Uma tradição compilada por Pierre du Colombier atribui aos monges de Cister a introdução do gótico na Europa. Os monges cistercienses teriam desenvolvido essa forma de arquitetura através de seus próprios estudos de geometria e dos conhecimentos adquiridos dos mestres antigos, especialmente gregos, egípcios e fenícios.
- A saga de Joana d’Arc é um típico acontecimento que só pode ser explicado quando se invoca uma força oculta agindo por traz da cena. Não é crível que uma menina de dezesseis anos, mesmo invocando todo o arsenal de misticismo que envolvia a sociedade da época tivesse sido capaz de mobilizar uma nação inteira para lutar numa guerra que já se considerava perdida. A França, na altura em que Joana d’ Darc surgiu era uma nação derrotada, sem moral e destruída pelos infaustos acontecimentos que se seguiram á morte de Filipe, o Belo. As dissensões internas que durante mais um século imperaram em sua política, impediram que ela recuperasse o status de principal nação da Europa. Joana d’ Arc se comportava como um verdadeiro cavaleiro Templário no cumprimento de uma missão apostólica. Por trás dela havia, provavelmente, não a “voz de Deus”, pois não se compreende que Deus possa preferir esta ou aquela nação em proveito de outra e escolher um lado em uma guerra; na verdade, e isso nos parece lógico, estava a voz do Templo, na pessoa de cavaleiros como Jean d’Aulon, seu escudeiro, Jean Foucault e Giles de Rais, por exemplo, que por seu comportamento místico, herético e singular, nos aparece como um Templário, que em sua vida secreta se dedicava a conservar e praticar tradições e cultos, provavelmente adulterados e contaminados de promiscuidade inspirada por práticas rituais tão em voga na época.
Depois da prisão de Joana e da sua morte na fogueira, Giles abandonou o exército e retirou-se para o seu feudo em Montmorency, onde fundou uma especie de Confraria, na qual se praticavam ritos satânicos, com o sacrifício de crianças e orgias sexuais durante esses sacrifícios. Ficou famoso como mago e feiticeiro. Uma investigação conduzida pela Inquisição comprovou que essa seita demoniaca dirigida por Giles de Rais havia sacrificado mais de mil crianças. Em consequência ele foi julgado e acabou morto na fogueira. Ele é conhecido hoje como o maior serial killer da história e cognominado o “Senhor das Trevas”. Não obstante, sua figura ainda hoje é venerada por algumas seitas, ditas satânicas, em vários países da Europa.