Apocalipse?

-Vem, Cali!

Alice chamava sua cadelinha preta de olhos verdes para acompanhá-la até o descampado onde gostava de passar o tempo. Sempre levava um lanchinho para as duas.

Passeavam todos os dias. Cali e Alice. Moravam numa cidade pequena, Liriópolis. A cidade tinha muitas florestas fechadas, porém, era um lugar alegre.

Estava no meio do caminho, passando pelas árvores na beira da estradinha de terra, quando teve a nítida impressão de ver algo se movimentando lá no meio das árvores. Alice parou e ficou olhando. Era uma minhoquinha preta, bonitinha, que vinha rastejando na direção de Alice, fazendo graça.

-Nunca vi minhoca mais estranha...

Alice pegou a minhoca nas mãos e ficou olhando para ela.

A minhoca foi crescendo, de repente, e Alice a pôs no chão e deu um passo pra trás.

A minhoca foi crescendo, crescendo e virou um monte de sombras maléficas e grandes. E veio na direção de Alice.

Assustada, Alice correu até o descampado e lá ficou, desejando que aquela coisa não chegasse até ela. Decidiu voltar para casa.

Quando entrou em casa, viu seu pai parado no meio da sala, de um jeito estranho.

-Pai?-chamou Alice, mas ele não moveu um só músculo.

Lentamente, seu pai se virou para olhá-la. Alice ficou paralisada. Os olhos de seu pai estavam totalmente negros, sem pupilas, e horripilantes. Ele começou a cuspir uma espuma negra, e vinha na direção de Alice. Parecia querer matá-la. Alice correu para fora de casa e viu seu cavalo, Amir, em pedaços. Alice correu para qualquer lugar, chorando.

Chegou à estradinha de terra, Cali ao lado, e foi na direção da cidade. Mas parou no caminho. Via fogo lá na cidade e tiros para todo o lado. Então, decidiu esconder-se na floresta na beira da estrada. Acabou por achar uma casinha, abandonada, e entrou lá para se esconder. Dentro da casa, tinha umas caixas, um armário velho e um banquinho. Sentou-se num canto da casinha de um único cômodo, e chorou.

O que era aquilo?Por que estavam acontecendo essas coisas?

Estava com medo. Queria saber o que estava acontecendo.

Cali começou a latir com raiva para a janela. Alice olhou para a janela, mas não tinha nada lá. Cali tanto encheu a paciência, que Alice decidiu abrir a janela para ver se realmente tinha alguma coisa lá. Cali saltou para fora da casa pela janela.

-Cali!Não!Cali, volta!-gritou Alice desesperada.

Alice ouviu Cali ganir desesperadamente, mas não podia ir lá fora.

Voltou para o seu cantinho e se encolheu.

Ouviu Cali rosnar lá fora e foi até a janela para olhar. Debruçou-se na janela e viu Cali, olhando para ela com olhos negros e sem pupilas. A cadela rosnou, babando uma espuma negra, maléfica e nojenta.

Cali correu na direção de Alice com os dentes arreganhados. Queria matar Alice.

Alice fechou a janela, assim que Cali bateu o focinho nela. Um fiozinho de sangue ficou na janela.

-Cali... -chorou Alice. Viu que tinha uma lareira na casinha e a acendeu. Quando o fogo já estava alto, a janela foi quebrada e Cali lançou-se casa adentro. Ficou parada, os dentes arreganhados cheios de espuma negra. Pulou para cima de Alice, mas Alice se esquivou e Cali caiu dentro da lareira.

-Cali!

Cali pulou para fora da lareira, ganindo.

Por um momento, a cadela ficou parada, depois, virou para olhar a dona, com olhos meigos de quem pede desculpas. Era a velha Cali de volta.

-Ah, Cali... Vem!-chamou Alice.

A cadela, cheia de alegria, deitou ao lado da dona; ficaram olhando as chamas da lareira e adormeceram.

De manhã, Alice saiu da casinha, viu que tinha uma densa fumaça cobrindo tudo. Alice desceu para a cidade, e viu pessoas com queimaduras, mas estava tudo normal. O que tinha acontecido?E aquela coisa que quase a atacou no bosque?

Alice sabia que nunca ia saber o que realmente tinha acontecido. Só sabia que, por enquanto, o mundo estava como sempre foi. Normal.

Andando pelas ruas de Liriópolis, viu seus pais vindo em sua direção. Seu pai estava com algumas queimaduras.

-Vem, Cali!Mamãe e papai estão logo ali!-exclamou Alice, e correu em direção aos pais.

Normal.

Por enquanto.

Shelly Graf
Enviado por Shelly Graf em 17/01/2014
Código do texto: T4652697
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