Ataque

Uma nuvem cobriu o céu de repente. A garota olhou ansiosa para o alto e apressou os passos. Só faltava chover antes que conseguisse alcançar a porteira. Nisso é que dava essa mania dos pais de morarem tão afastados da cidade. Resmungando ela gritou pela mãe. Alguma coisa parecia fora do lugar pensou a menina. A tempestade se aproximava, e as roupas continuavam no varal. Sua mãe já deveria tê-las recolhido. E havia também o silêncio. Nenhum dos cães viera encontrar com ela como sempre faziam. Com um mau pressentimento a garota entrou na casa. O rádio antigo chiava fora de sintonia. Chamando pela mãe ela dirigiu-se a cozinha. O fogo estava apagado e nenhum vestígio de almoço. Isso também era estranho, pois o seu pai almoçava sempre com elas, e já devia estar chegando. A menina percorreu toda a casa e nada. Seu coração estava apertado. Alguma coisa ruim acontecera.                                                     Na varanda dos fundos ela encontrou um dos chinelos e logo adiante o corpo. Gritando e chorando ela se aproximou. A mãe estava caída de barriga para cima. Seus olhos arregalados traduziam o horror dos seus últimos momentos de vida. Um enorme buraco marcava o lugar onde antes havia um coração. A garota se ajoelhou em prantos acariciando o rosto pálido e frio da progenitora. Uma sombra se aproximou. Desolada a menina encarou o pai. Ele trazia nas mãos uma toalha velha. Por um segundo ela pensou em se atirar em seus braços, mas algo chamou sua atenção. O homem tinha a camisa toda manchada de sangue, mas nenhum ferimento a vista. Horrorizada ela se ergueu e se preparou para fugir. Seu pai começou a dizer alguma coisa, mas foi atacado por uma estranha criatura de duas cabeças e imensos olhos vermelhos. A garota desmaiou diante de tanto terror e quando voltou a si percebeu que estava deitada ao lado dos corpos dos pais. O sol começava a desaparecer no horizonte quando ela abandonou a fazenda. Precisava chegar até o próximo sítio onde moravam os avós e os tios. Lá descobriu que a criatura que assassinara seus pais, passara também por ali. Todos estavam mortos, e em todos faltava o órgão vital. O coração.