OS BODES DO SACRIFÍCIO
Uma das acusações lançadas contra os Templários foi a de que eles, em suas iniciações, eram obrigados a adorar um estranho ídolo que alguns descreviam como sendo uma cabeça barbada, que usava uma espécie de turbante. Ela se apresentava olhando para três direções, e segundo algumas crenças, possuia propriedades mágicas. Teria o poder de garantir, para aqueles que a adorassem, a salvação de suas almas, a segurança nas batalhas, e também infinitas riquezas. Além disso, tinha o condão de fazer as árvores florescerem e a terra germinar.
A primeira vez que esse assunto apareceu no processo foi durante o interrogatório de Hugo de Perráud.
– Consta que nas cerimônias de iniciação, os senhores soli-citavam aos iniciados que adorassem uma certa cabeça. Como era esse ídolo e como faziam? ─ perguntou o inquisidor.
– Existia, sim, uma cabeça – disse Perráud. – Eu a vi em Montpellier, quando participei de um Capítulo. Fiz-lhe as reverências pedidas, assim como todos os Irmãos presentes. Mas não as fiz de coração, mas apenas com as palavras do ritual.
─ Que palavras eram essas? ─ perguntou o inquisidor.
─ Eram palavras em uma língua estranha, que eu não conhecia ─ respondeu Perráud.
– E como era esse ídolo? – perguntou o inquisidor.
– Era semelhante a uma cabeça humana. Tinha uma barba negra. Parecia ser feita de madeira ou metal, não sei bem, e aparentava ter quatro pés, dois na frente e dois atrás...
Tiago de Molay e os três dignatários do Templo, perguntados sobre a tal cabeça, disseram nunca a ter visto. Tinham ouvido falar dela através de uma menção que o papa Clemente V havia feito certa vez, de que alguns Capítulos da Ordem estariam praticando um culto idólatra. Mas fora disso, alegaram nada saber e acreditavam tratar-se de uma maledicência dos inimigos da Ordem.
Foi o preceptor de Paris, Renaud du Tremblay, que deu mais detalhes sob o assunto:
– Vi essa cabeça no Capitulo de Montpellier, dirigido pelo Irmão Perráud – disse o preceptor. Os Irmãos do Capítulo a adoravam. Eu também o fiz, mas falsamente, e não com o coração...
– Como se parecia ? – perguntou o Inquisidor.
– Parecia uma cabeça humana, um rosto com uma grande barba negra.
– Como era esse rosto?
– Terrível! Assemelhava-se a um demônio. A cada vez que olhava para ele, eu era invadido por um extremo terror...
– E porque a adorou?
– Tinhamos feito coisa pior negando Cristo. Adorar aquela cabeça parecia ser pecado menor. Mas nunca a adorei com firmeza de coração...
A todos os Templários foram feitas perguntas sobre o misterioso ídolo a quem eles adoravam em seus Capítulos. Os depoimentos eram muito contraditórios. Nenhum dos depoentes soube dar uma descrição exata do tal ídolo, o que levou os inquisidores a concluir que ele não tinha uma imagem definida, ou que cada Capítulo tinha sua própria imagem dele. As descrições mais consistentes o davam como sendo uma cabeça de três rostos, um olhando para a frente e os dois outros, um para a direita e outro para a esquerda. Era uma cabeça barbada, que usava um turbante semelhante aos que os rabinos judeus usavam.
O que significava essa cabeça e quais eram as palavras usadas no ritual, nenhum dos templários inquiridos soube explicar.
Em várias das preceptorias invadidas e varejadas pela polícia de Filipe, e também nas preceptorias de outros reinos, procurou-se desesperadamente os tais ídolos e rituais escritos, que se encontrados seriam uma prova contundente da heresia templária. Mas nada foi encontrado que pudesse servir de prova irrefutável dessa prática.
Tudo que se referia ao tal ídolo era muito contraditório. Um notário público, chamado Antoine Siccus, de Vercellyz, que estivera no Oriente a serviço dos Templários, deu um estranho testemunho a esse respeito. Disse ele que ouvira essa história em Sidon, contada por um cavaleiro templário. Ela acontecera na Armênia, onde um cavaleiro da Ordem se apaixonara por uma jovem. E ela por ele. Mas estando ele impedido de possui-la, em razão dos seus votos de castidade, e ela de desposá-lo pela mesma razão, a jovem tirou a própria vida. O cavaleiro, enlouquecido de dor e de amor, foi, á noite, ao túmulo da jovem e violou o cadáver.
Fez com a jovem morta aquilo que não tivera coragem de fazer enquanto viva. Após terminar o seu infame ato de necrofilia, ouviu uma vóz que dizia: “ voltarás daqui a nove meses para ver o resultado do teu ato.” Nove meses depois, o cavaleiro voltou ao túmulo da sua amada e lá encontrou uma cabeça humana entre as pernas da jovem, e o cadáver na posição e na condição de uma mulher que dera a luz. E novamente uma vóz se fez ouvir: “ guarda bem essa cabeça. Dela lhe virão todas as riquezas futuras.”[1]
Mas outros Templários, instados a falar sobre o assunto, foram menos delirantes que o inefável notário. Disseram, sem muitas contradições, que os Templários possuiam relicários, aos quais davam muito valor. Uns diziam que se tratava de uma cruz de madeira, feita com lascas da verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado, e sobre essa cruz havia uma cabeça esculpida. Essa cabeça, disseram as testemunhas, era milagrosa, pois fazia cair chuva quando dela se precisava e afastava pestes quando ela tomava conta das aldeias. Para alguns templários, entretanto, o tal ídolo era a cabeça embalsamada de Hugo de Payns, o fundador da Ordem. Para outros era a cabeça de João Batista, que os templários haviam desenterrado em escavações feitas nas ruínas da fortaleza de Maqueronte, onde ele teria sido decapitado por ordem de Herodes Antipas.[2]
Em todas as preceptorias varejadas pela polícia de Filipe foram encontradas alguns relicários que, de alguma forma, corroboraram esses testemunhos. Por ocasião da invasão do Castelo do Templo, em Paris, o Irmão encarregado da guarda e administração dos bens da Ordem foi intimado a apresentar todos os objetos de culto existentes naquele edifício. No auto de apreeensão e guarda que se lavrou do ato, o oficial encarregado escreveu que “ os comissários mandaram que Guilherme Pidoye e seus companheiros Guilherme de Gisors e Raignier Bordone, apresentassem todas as cabeças em metal ou madeira, encontradas no edifício do Templo. Os três apresentaram aos comissários uma grande cabeça trabalhada em prata amarela; tinha rosto de mulher, e interiormente ossos de um crânio, envolvidos em um pano branco; por cima tinha um sudário, feito de tecido fino ou gaze da Síria, de cor avermelhada, cobrindo-a. Havia um número, numa etiqueta, cozida nesse pano: Caput LVIII. Perguntado o que significava aquela cabeça, os ditos Templários responderam que se tratava da cabeça de uma das Onze Mil Virgens que foram sacrificadas pelos bárbaros hunos quando as hordas de Átila passaram por Colônia.[3] Nada mais foi encontrado na casa do Templo.”
Em outras preceptorias, por toda a Europa e além-mar, os inquisidores encontraram várias relíquias que, vagamente, foram associadas á lenda do famoso ídolo templário. Na verdade, porém, nunca se chegou a nenhuma conclusão do que era, ou do que significava esse símbolo. Alguns dos cavaleiros inquiridos sugeriram que esse culto tinha se originado nas crenças dos muçulmanos, que veneravam o seu profeta Mohamed, e por isso, talvez, o nome do tal ídolo. Outros, definiram o assunto como “segredo da Ordem”, só conhecido pelos Mestres dos referidos capítulos. Assim criou-se a lenda, mas em todas as precptorias templárias, a única que continha uma réplica dessa enigmática figura era a preceptoria de Tomar em Portugal. Ela ainda pode ser vista hoje. Trata-se de uma cabeça barbada de três rostos, coberta com um turbante semelhante aos que usavam os antigos fariseus. Em nenhum lugar se encontrou uma figura de bode, com traços demoníacos, como se informou mais tarde.[4]
Na verdade, bodes foram os próprios Templários, que foram para o sacrifício, para que o papa pudesse salvar a Igreja católica de um cisma que poderia ter acontecido duzentos anos anos de Lutero. [5]
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Notas históricas
Uma das acusações lançadas contra os Templários foi a de que eles, em suas iniciações, eram obrigados a adorar um estranho ídolo que alguns descreviam como sendo uma cabeça barbada, que usava uma espécie de turbante. Ela se apresentava olhando para três direções, e segundo algumas crenças, possuia propriedades mágicas. Teria o poder de garantir, para aqueles que a adorassem, a salvação de suas almas, a segurança nas batalhas, e também infinitas riquezas. Além disso, tinha o condão de fazer as árvores florescerem e a terra germinar.
A primeira vez que esse assunto apareceu no processo foi durante o interrogatório de Hugo de Perráud.
– Consta que nas cerimônias de iniciação, os senhores soli-citavam aos iniciados que adorassem uma certa cabeça. Como era esse ídolo e como faziam? ─ perguntou o inquisidor.
– Existia, sim, uma cabeça – disse Perráud. – Eu a vi em Montpellier, quando participei de um Capítulo. Fiz-lhe as reverências pedidas, assim como todos os Irmãos presentes. Mas não as fiz de coração, mas apenas com as palavras do ritual.
─ Que palavras eram essas? ─ perguntou o inquisidor.
─ Eram palavras em uma língua estranha, que eu não conhecia ─ respondeu Perráud.
– E como era esse ídolo? – perguntou o inquisidor.
– Era semelhante a uma cabeça humana. Tinha uma barba negra. Parecia ser feita de madeira ou metal, não sei bem, e aparentava ter quatro pés, dois na frente e dois atrás...
Tiago de Molay e os três dignatários do Templo, perguntados sobre a tal cabeça, disseram nunca a ter visto. Tinham ouvido falar dela através de uma menção que o papa Clemente V havia feito certa vez, de que alguns Capítulos da Ordem estariam praticando um culto idólatra. Mas fora disso, alegaram nada saber e acreditavam tratar-se de uma maledicência dos inimigos da Ordem.
Foi o preceptor de Paris, Renaud du Tremblay, que deu mais detalhes sob o assunto:
– Vi essa cabeça no Capitulo de Montpellier, dirigido pelo Irmão Perráud – disse o preceptor. Os Irmãos do Capítulo a adoravam. Eu também o fiz, mas falsamente, e não com o coração...
– Como se parecia ? – perguntou o Inquisidor.
– Parecia uma cabeça humana, um rosto com uma grande barba negra.
– Como era esse rosto?
– Terrível! Assemelhava-se a um demônio. A cada vez que olhava para ele, eu era invadido por um extremo terror...
– E porque a adorou?
– Tinhamos feito coisa pior negando Cristo. Adorar aquela cabeça parecia ser pecado menor. Mas nunca a adorei com firmeza de coração...
A todos os Templários foram feitas perguntas sobre o misterioso ídolo a quem eles adoravam em seus Capítulos. Os depoimentos eram muito contraditórios. Nenhum dos depoentes soube dar uma descrição exata do tal ídolo, o que levou os inquisidores a concluir que ele não tinha uma imagem definida, ou que cada Capítulo tinha sua própria imagem dele. As descrições mais consistentes o davam como sendo uma cabeça de três rostos, um olhando para a frente e os dois outros, um para a direita e outro para a esquerda. Era uma cabeça barbada, que usava um turbante semelhante aos que os rabinos judeus usavam.
O que significava essa cabeça e quais eram as palavras usadas no ritual, nenhum dos templários inquiridos soube explicar.
Em várias das preceptorias invadidas e varejadas pela polícia de Filipe, e também nas preceptorias de outros reinos, procurou-se desesperadamente os tais ídolos e rituais escritos, que se encontrados seriam uma prova contundente da heresia templária. Mas nada foi encontrado que pudesse servir de prova irrefutável dessa prática.
Tudo que se referia ao tal ídolo era muito contraditório. Um notário público, chamado Antoine Siccus, de Vercellyz, que estivera no Oriente a serviço dos Templários, deu um estranho testemunho a esse respeito. Disse ele que ouvira essa história em Sidon, contada por um cavaleiro templário. Ela acontecera na Armênia, onde um cavaleiro da Ordem se apaixonara por uma jovem. E ela por ele. Mas estando ele impedido de possui-la, em razão dos seus votos de castidade, e ela de desposá-lo pela mesma razão, a jovem tirou a própria vida. O cavaleiro, enlouquecido de dor e de amor, foi, á noite, ao túmulo da jovem e violou o cadáver.
Fez com a jovem morta aquilo que não tivera coragem de fazer enquanto viva. Após terminar o seu infame ato de necrofilia, ouviu uma vóz que dizia: “ voltarás daqui a nove meses para ver o resultado do teu ato.” Nove meses depois, o cavaleiro voltou ao túmulo da sua amada e lá encontrou uma cabeça humana entre as pernas da jovem, e o cadáver na posição e na condição de uma mulher que dera a luz. E novamente uma vóz se fez ouvir: “ guarda bem essa cabeça. Dela lhe virão todas as riquezas futuras.”[1]
Mas outros Templários, instados a falar sobre o assunto, foram menos delirantes que o inefável notário. Disseram, sem muitas contradições, que os Templários possuiam relicários, aos quais davam muito valor. Uns diziam que se tratava de uma cruz de madeira, feita com lascas da verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado, e sobre essa cruz havia uma cabeça esculpida. Essa cabeça, disseram as testemunhas, era milagrosa, pois fazia cair chuva quando dela se precisava e afastava pestes quando ela tomava conta das aldeias. Para alguns templários, entretanto, o tal ídolo era a cabeça embalsamada de Hugo de Payns, o fundador da Ordem. Para outros era a cabeça de João Batista, que os templários haviam desenterrado em escavações feitas nas ruínas da fortaleza de Maqueronte, onde ele teria sido decapitado por ordem de Herodes Antipas.[2]
Em todas as preceptorias varejadas pela polícia de Filipe foram encontradas alguns relicários que, de alguma forma, corroboraram esses testemunhos. Por ocasião da invasão do Castelo do Templo, em Paris, o Irmão encarregado da guarda e administração dos bens da Ordem foi intimado a apresentar todos os objetos de culto existentes naquele edifício. No auto de apreeensão e guarda que se lavrou do ato, o oficial encarregado escreveu que “ os comissários mandaram que Guilherme Pidoye e seus companheiros Guilherme de Gisors e Raignier Bordone, apresentassem todas as cabeças em metal ou madeira, encontradas no edifício do Templo. Os três apresentaram aos comissários uma grande cabeça trabalhada em prata amarela; tinha rosto de mulher, e interiormente ossos de um crânio, envolvidos em um pano branco; por cima tinha um sudário, feito de tecido fino ou gaze da Síria, de cor avermelhada, cobrindo-a. Havia um número, numa etiqueta, cozida nesse pano: Caput LVIII. Perguntado o que significava aquela cabeça, os ditos Templários responderam que se tratava da cabeça de uma das Onze Mil Virgens que foram sacrificadas pelos bárbaros hunos quando as hordas de Átila passaram por Colônia.[3] Nada mais foi encontrado na casa do Templo.”
Em outras preceptorias, por toda a Europa e além-mar, os inquisidores encontraram várias relíquias que, vagamente, foram associadas á lenda do famoso ídolo templário. Na verdade, porém, nunca se chegou a nenhuma conclusão do que era, ou do que significava esse símbolo. Alguns dos cavaleiros inquiridos sugeriram que esse culto tinha se originado nas crenças dos muçulmanos, que veneravam o seu profeta Mohamed, e por isso, talvez, o nome do tal ídolo. Outros, definiram o assunto como “segredo da Ordem”, só conhecido pelos Mestres dos referidos capítulos. Assim criou-se a lenda, mas em todas as precptorias templárias, a única que continha uma réplica dessa enigmática figura era a preceptoria de Tomar em Portugal. Ela ainda pode ser vista hoje. Trata-se de uma cabeça barbada de três rostos, coberta com um turbante semelhante aos que usavam os antigos fariseus. Em nenhum lugar se encontrou uma figura de bode, com traços demoníacos, como se informou mais tarde.[4]
Na verdade, bodes foram os próprios Templários, que foram para o sacrifício, para que o papa pudesse salvar a Igreja católica de um cisma que poderia ter acontecido duzentos anos anos de Lutero. [5]
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Notas históricas
[1] Estórias como essa entraram para o folclore templário, atribuindo a eles uma fama de necrófilos. Com o tempo, outras estórias escabrosas acabaram se somando a essa, concorrendo para cercar os templários de uma aura misteriosa e sinistra, que dura até hoje. Uma dessas tradições é a de qu eles realizavam sacrifícios humanos, usando crianças como vítimas. Nada foi levantado no processo movido contra eles que justficasse esse fama, mas certamente o mistério que cercava as iniciações dos noviços, e os rituais de passagem de grau que eles praticavam devem ter contribuído muito para isso. Acresça-se o fato de vivia-se uma era de superstição e ignorância, que a própria Igreja incentivava, para incutir na mente das pessoas a ideia do pecado e o medo do inferno. Qualquer pensamento discordante em relação á teologia pregada pela Igreja de Roma era visto como de inspiração demoníaca e imediatamente perseguido. Os séculos XIV, XV e XVI marcaram o auge de perseguição ás chamadas heresias. O que o Império Romano fez de mal aos cristãos nos dois primeiros séculos da era cristã, a Igreja de Roma devolveu em dobro aos dissidentes nesses três séculos de ignorância e horror.
2- Uma das teses levantada foi a de que os Templários teriam sido contaminados pela heresia mandeana. Os mandeanos, seita que existia na Pérsia, pregava que o verdadeiro Messias era João Batista e que Jesus foi seu discípulo. Jesus, no caso teria sido um usurpador desse título. Essa crença, que foi uma das condenadas como heréticas no Concílio de Nicéia, teve muitos seguidores nos primeiros séculos da era cristã. Embora os evangelhos mostrem a existência de estreita colaboração entre Jesus e João Batista, no sentido de trabalharem o mesmo projeto, crônicas da época indicam que nem sempre os discípulos de João e Jesus conviveram pacificamente, sugerindo haver uma espécie de disputa entre eles. Dessa forma, os templários, ao renegarem Jesus, estariam praticando um rito mandeano.
[3] A lenda das Onze Mil Virgens se refere á Santa Úrsula, filha do rei romano-britânico Donaut, do condado de Dumnonia, no sudoeste da Inglaterra. Ela foi dada em casamento ao governador romano Conan Meriadoc da Armórica (península da Bretanha). Ao viajar para a Inglaterra para juntar-se ao noivo, com um séquito de 11 mil servas virgens, uma tempestade as levou para o continente, onde foram capturadas pelos hunos, que então estavam devastando toda a Europa. Ao se recusareem a entregar sua virgindade aos belicosos guerreiros de Átila, elas foram todas decapitadas. Isso teria acontecido em Colônia, na Alemanha. A princesa Úrsula, por ter se recusado a deitar-se com o próprio Átila, teria sido morta pelo famoso chefe bárbaro, conhecido como “Fragelo de Deus”, com uma flechada. Úrsula foi canonizada como mártir e se tornou uma santa muito respeitada no calendário católico. Mas na revisão acontecida em 1969, a Igreja considerou não haver provas da veracidade da lenda das Onze Mil Virgens e retirou Santa Úrsula do calendário dos santos. Seu nome, entretanto, como São Jorge e São Benedito, que também tiveram seus nomes “cassados” do rol dos santos, continua a ser muito respeitado. No século XVI a freira Angela Merici fundou a Ordem das Ursulinas Essa Ordem, dedicada à educação de meninas, existe até hoje e presta imensos serviços na área social e na educação.
[4] A ideia de que o famoso ídolo templário tinha uma relação com o Bode de Mendes, e era representado pela figura desse animal, provém de uma especulação feita por Eliphas Levi em seu livro Dogma e Ritual da Alta Magia publicado no seéculo XIX, Para esse pensador esotérico, Baphomet representava a ideia do conhecimento absoluto, que se expressa pelo símbolo arcano de maior apelo entre os arquétipos cultuados pelo inconsciente coletivo da humanidade. Essa figura é o bode, símbolo do sacrifício, animal escolhido por todos os povos antigos como catalizador das energias negativas, oferenda mística, em troca da qual os deuses tiram da terra o mal e em no lugar colocam o bem.
O culto ao bode está presente em praticamente todos os rituais de sacrificios dos povos antigos. Dai Éliphas Lévi ter relacionado o ídolo templário ao famoso Bode de Mendes, representação do demônio, que segundo tradições populares medievais, organizava orgias noturnas, nas quais as pessoas vendiam suas almas em troca de riqueza, saúde e outras benesses. Ressalte-se, entretanto, que em nenhum dos ícones esculpidos pelos templários, nem em qualquer documento até hoje recenseado sobre esse assunto, foi encontrado qualquer referência que relacione o culto desse ídolo com o Bode de Mendes.
A lenda em torno desse ídolo tornou-se um dos mistérios mais explorados da história dos Templários. Até hoje não se chegou a um consenso sob o que seria de fato esse estranho ícone. As opiniões mais acreditadas a respeito são aquelas que se relacionam com as doutrinas esotéricas que circulavam nos meios intelectuais da época, muito propensos ao ocultismo. Essas doutrinas estariam vinculadas a assuntos ligados á alquimia e á cabala, matérias essas que provavelmente faziam parte dos ensinamentos dados aos mestres do Templo, embora a maioria dos seus membros, os “não iniciados” nos assuntos mais profundos da Ordem, não tivessem conhecimento desses segredos inciáticos. Uns dos primeiros autores a escrever sobre esse assunto foi o arqueólogo austríaco Joseph von Hammer-Purgstall, que em 1816 escreveu um estranho tratado com o título de Mysterium Baphometis Revelatum, onde o nome Baphomet aparece pela primeira vez. Segundo esse autor, essa expressão proviria da união de dois vocábulos gregos, "Baphe" e "Metis", significando "Batismo de Sabedoria". Dessa forma Von Hammer foi um dos primeiros a sugerir a existência de uma sociedade iniciática no interior da Ordem do Templo. Esses segredos se referiam principalmente á prática da alquimia, que consistia num processo de morte e ressurreição química de um mineral, para que este passasse de um estado impuro para um estado puro. Dai as lendas alquímicas de transmutação de minerais brutos como o ferro e o chumbo, por exemplo, em ouro e prata. Assim, Baphomet poderia ser uma metáfora alquímica. O cavaleiro Templário, ao entrar para a Ordem “morria para o mundo e renascia num outro estado de consciência” o verdadeiro reino da consciência, da sabedoria, da gnose. Essa metáfora era própria do trabalho alquímico, pois o alquimista era aquele que procurava sintetizar a “pedra filosofal”, artefato capaz não só de ativar os poderes da natureza, mudando a estrutura dos minerais e fazendo a terra germinar, as árvores florescerem, como também atuar sobre a natureza humana, concedendo a longa vida e agindo sobre sua mente, concedendo-lhe uma sabedoria incomum (a gnose, a iluminação).
Assim, o ídolo, que mais tarde foi chamado de Baphomet, poderia estar conectado com a lenda da pedra filosofal, e a cabeça barbada dos Templários não seria outra coisa senão uma representação do “caput mortuum” dos alquimistas, ou seja, a “matéria morta” (simbolizando o recipiendário, o iniciando) que está pronta para renascer em outro estado de consciência.
4- Esses rituais também eram praticados pelos cátaros, que acreditavam numa morte iniciática, como condição para que o neófito pudesse renascer para outra vida.
[5] O bode é um arquétipo conectado com a mística do sacrifício do herói pelo seu povo. Nos Mistérios Dionísios, uma corruptela dos Mistérios de Elêusis, costumava-se usar um desses animais como representação do sacrificado. Nas cerimônias egípcias de iniciação nos Mistérios de Isis os sacerdotes lançavam nas águas do Nilo um bode, com os seguintes votos: “se algum mal paira sobre a cabeça desses que estão sendo iniciados, ou sobre a terra do Egito, que ele desapareça com essa oferta”. Os antigos israelitas também sacrificavam um bode pelos pecados do povo, levando-o para o deserto e abandonando-o lá. A idéia era que o animal catalizava as forças malignas, e com a sua destruição, o mal também morria com ele. Essa tradição sobreviveu no imaginário popular. Acreditava-se que, confessando para o bode o seus segredos, eles estariam bem guardados, pois o bode, por mais que sofra, ele só berra mas não fala. Os maçons adotaram essa tradição. Por isso eles são chamados de “bodes”. A ideia aqui é a de que os Templários foram sacrificados pelo papa para salvar a Igreja de um cisma que certamente ocorreria se ele insistisse em manter a Ordem do Templo.
[4] A ideia de que o famoso ídolo templário tinha uma relação com o Bode de Mendes, e era representado pela figura desse animal, provém de uma especulação feita por Eliphas Levi em seu livro Dogma e Ritual da Alta Magia publicado no seéculo XIX, Para esse pensador esotérico, Baphomet representava a ideia do conhecimento absoluto, que se expressa pelo símbolo arcano de maior apelo entre os arquétipos cultuados pelo inconsciente coletivo da humanidade. Essa figura é o bode, símbolo do sacrifício, animal escolhido por todos os povos antigos como catalizador das energias negativas, oferenda mística, em troca da qual os deuses tiram da terra o mal e em no lugar colocam o bem.
O culto ao bode está presente em praticamente todos os rituais de sacrificios dos povos antigos. Dai Éliphas Lévi ter relacionado o ídolo templário ao famoso Bode de Mendes, representação do demônio, que segundo tradições populares medievais, organizava orgias noturnas, nas quais as pessoas vendiam suas almas em troca de riqueza, saúde e outras benesses. Ressalte-se, entretanto, que em nenhum dos ícones esculpidos pelos templários, nem em qualquer documento até hoje recenseado sobre esse assunto, foi encontrado qualquer referência que relacione o culto desse ídolo com o Bode de Mendes.
A lenda em torno desse ídolo tornou-se um dos mistérios mais explorados da história dos Templários. Até hoje não se chegou a um consenso sob o que seria de fato esse estranho ícone. As opiniões mais acreditadas a respeito são aquelas que se relacionam com as doutrinas esotéricas que circulavam nos meios intelectuais da época, muito propensos ao ocultismo. Essas doutrinas estariam vinculadas a assuntos ligados á alquimia e á cabala, matérias essas que provavelmente faziam parte dos ensinamentos dados aos mestres do Templo, embora a maioria dos seus membros, os “não iniciados” nos assuntos mais profundos da Ordem, não tivessem conhecimento desses segredos inciáticos. Uns dos primeiros autores a escrever sobre esse assunto foi o arqueólogo austríaco Joseph von Hammer-Purgstall, que em 1816 escreveu um estranho tratado com o título de Mysterium Baphometis Revelatum, onde o nome Baphomet aparece pela primeira vez. Segundo esse autor, essa expressão proviria da união de dois vocábulos gregos, "Baphe" e "Metis", significando "Batismo de Sabedoria". Dessa forma Von Hammer foi um dos primeiros a sugerir a existência de uma sociedade iniciática no interior da Ordem do Templo. Esses segredos se referiam principalmente á prática da alquimia, que consistia num processo de morte e ressurreição química de um mineral, para que este passasse de um estado impuro para um estado puro. Dai as lendas alquímicas de transmutação de minerais brutos como o ferro e o chumbo, por exemplo, em ouro e prata. Assim, Baphomet poderia ser uma metáfora alquímica. O cavaleiro Templário, ao entrar para a Ordem “morria para o mundo e renascia num outro estado de consciência” o verdadeiro reino da consciência, da sabedoria, da gnose. Essa metáfora era própria do trabalho alquímico, pois o alquimista era aquele que procurava sintetizar a “pedra filosofal”, artefato capaz não só de ativar os poderes da natureza, mudando a estrutura dos minerais e fazendo a terra germinar, as árvores florescerem, como também atuar sobre a natureza humana, concedendo a longa vida e agindo sobre sua mente, concedendo-lhe uma sabedoria incomum (a gnose, a iluminação).
Assim, o ídolo, que mais tarde foi chamado de Baphomet, poderia estar conectado com a lenda da pedra filosofal, e a cabeça barbada dos Templários não seria outra coisa senão uma representação do “caput mortuum” dos alquimistas, ou seja, a “matéria morta” (simbolizando o recipiendário, o iniciando) que está pronta para renascer em outro estado de consciência.
4- Esses rituais também eram praticados pelos cátaros, que acreditavam numa morte iniciática, como condição para que o neófito pudesse renascer para outra vida.
[5] O bode é um arquétipo conectado com a mística do sacrifício do herói pelo seu povo. Nos Mistérios Dionísios, uma corruptela dos Mistérios de Elêusis, costumava-se usar um desses animais como representação do sacrificado. Nas cerimônias egípcias de iniciação nos Mistérios de Isis os sacerdotes lançavam nas águas do Nilo um bode, com os seguintes votos: “se algum mal paira sobre a cabeça desses que estão sendo iniciados, ou sobre a terra do Egito, que ele desapareça com essa oferta”. Os antigos israelitas também sacrificavam um bode pelos pecados do povo, levando-o para o deserto e abandonando-o lá. A idéia era que o animal catalizava as forças malignas, e com a sua destruição, o mal também morria com ele. Essa tradição sobreviveu no imaginário popular. Acreditava-se que, confessando para o bode o seus segredos, eles estariam bem guardados, pois o bode, por mais que sofra, ele só berra mas não fala. Os maçons adotaram essa tradição. Por isso eles são chamados de “bodes”. A ideia aqui é a de que os Templários foram sacrificados pelo papa para salvar a Igreja de um cisma que certamente ocorreria se ele insistisse em manter a Ordem do Templo.