Harpia

Logo ao descer do carro um zunido agudo causou forte arrepio nos recém chegados. O estranho barulho talvez evocasse a risada, ou o berro, de uma bruxa, o que tornava a reação inconfessável, razão pela qual todos preferiram ignorar o som vindo da foresta. O casal desceu do carro, a mãe trazendo o bebê no colo, a menina de 5 anos os acompanhava.

Chegavam à casa na floresta, uma bela e surpreendente construção de madeira no meio de uma clareira incrustada na mata. O local era perfeito para as filmagens da vida selvagem que fariam, estavam no cerne do que era, de fato, o último refúgio praticamente intocado no planeta.

Verdadeiramente, não se podia falar em intocado, a própria casa em que estavam atestava isso, mas a floresta era selvagem, inóspita, indomada; e praticamente desconhecida. Dela emanavam milhares de espécies de insetos desconhecidos, uma profusão de fungos surpreendentes, além de onças, antas, tamanduás e toda a exuberante fauna amazônica, oculta nas sombras das árvores imensas.

A casa, de madeira, mantinha-se suspensa, distante um metro e meio do solo; o isolamento convinha

para evitar cobras, insetos e demais surpresas proporcionadas pela mata. Tinha dois andares sobre as estacas de madeira e uma fachada surpreendentemente simpática.

O casal inspecionou a casa, e retornou ao veículo para pegar as malas; a casa os agradou imensamente, era bem mais aprazível do que esperavam.

Ocuparam apenas um grande quarto do andar de cima; utilizariam também a cozinha, sala e varanda, em baixo, e o banheiro de cima; não viam necessidade de utilizar toda a casa naqueles breves dias em que passariam filmando a vida selvagem.

Depois de instalados, do reconhecimento mais detalhado do quarto e da cozinha, desceram para inspecionar o terreno, muito bem cuidado, especialmente para a recepção do casal, convidados ilustres. A casa rústica, mas acolhedora, situava-se em uma imensa clareira rodeada pela floresta. O capim em torno da habitação havia sido aparado bem rente ao solo; mais adiante, após uns 30 ou 40 metros, a relva crescia até a altura do joelho, em torno de árvores frutíferas, dezenas delas, em uma variedade espantosa. Só depois do pomar, as imensas árvores da floresta fechavam o cerco. Ao sair de casa ouviram novamente o estranho silvo arrepiante. Dessa vez a mulher comentou o fato:

– Que barulho horrendo, parece uma bruxa gritando, que será isso? E enquanto falava, observava o bebê em seu colo, também o seu corpo se arrepiara drasticamente com o som agudo.

– Isso me arrepia. Chego a sentir um desconforto, quase uma dor aguda na coluna de tão forte o arrepio. Que droga será essa? Parece mesmo uma risada de bruxa, mas termina com o zunido de gavião. Esse grito deve prosseguir no ultrassom, e eu aposto que se adequa à ecolocalização.

Enquanto ouvia o comentário do marido, percebia o tremelique azedo na movimentação da menina, evidência de um calafrio; o som era absurdamente desagradável.

A presença de onças, jacarés, cobras, escorpiões entre outros tantos seres perigosos era não só esperada mas desejada. O temor que geravam, no entanto, era bem menor que o de se perderem no meio da floresta. Carregavam aparelhos de localização, tanto antigas e confiáveis bússolas, quanto outros, baseados nas mais recentes tecnologias. O interior da floresta tinha uma aparência sombria e uniforme. Em qualquer ponto da floresta via-se uma profusão de troncos de árvores nus e verticais, cobertos pela folhação distante e homogênea que encobria o céu e a visão de qualquer outro ponto de referência capaz de facilitar a localização. Quase todos os locais da mata se assemelhavam muitíssimo uns aos outros, constituindo essa, a grande fonte de apreensão do casal. Temiam não apenas a própria desorientação, mas, principalmente, a perda da filha de 5 anos. O bebê de dois anos tinha pouca mobilidade, ficaria restrito pela barreira de capim, e evocava temores de outros tipos, mas menores.

Tinham se instalado e faziam o reconhecimento do terreno quando um caboclo despontou da floresta e adentrou a clareira. Apresentou-se desculpando-se pela demora, estava na seringa, sangrando uma árvore. Cuidava da casa e garantia renda adicional extraindo tudo o que a floresta oferecia. Colocou-se à disposição dos hóspedes, era funcionário da casa; prontificou-se para qualquer auxílio ou esclarecimento. Os forasteiros já haviam encontrado o que necessitavam na residência, tendo trazido quase tudo o que esperavam vir a precisar; não sabiam o que encontrariam e preferiram se precaver ante qualquer percalço; estariam prontos para acampar, na eventualidade de encontrar um abrigo desabitável. A casa completa e aprazível surpreendeu muitíssimo, e favoravelmente.

Perguntaram se havia algo com que devessem se preocupar, não souberam como interpretar a resposta:

– A floresta é misteriosa, tem muita coisa desconhecida, nunca se sabe os verdadeiros perigos. Mas dentre os comuns, estão todos mais ou menos controlados. Onça pintada, que é mais perigosa, não tem aparecido, até suçuarana anda rara aqui, mas vem; logo escutaremos o grito dela, mas não tem chegado perto. Cobra sempre tem, de todo tipo, mas a época é boa, e a cobras estão quietas. A maior preocupação aqui é o gavião, por causa das crianças. Também abelha, formiga.

Tentaram sondar com mais atenção todos esses riscos que pareciam misturados de maneira estranha; sabiam da ferocidade de certas formigas e vespas locais, mas compará-las a onças era exagero gritante. O caboclo não aparentava querer amedrontá-los, nem confundi-los, parecia solícito, mas suas informações vinham desconexas; como um gavião poderia ser preocupante? A sabedoria recomendava que se informassem com os locais, mas não poderiam dar demasiada atenção a qualquer sandice que lhes fosse dita, ou se perderiam em meio à profusão de advertências

supersticiosas. Por outro lado, não queriam desmerecer o caboclo, sua maior fonte de informações locais.

Fizeram um breve reconhecimento do local; o caboclo mostrava plantas e animais surpreendentes, dissertando sobre as peculiaridades de cada um deles, conhecia bem as redondezas. Suas informações eram gravadas em áudio, as imagens captadas em vídeo. Depois de uma volta ao redor da clareira, pegaram mais equipamentos de filmagem e se embrenharam na floresta pelo igarapé que bordeava a parte mais baixa do descampado. O pai carregava uma câmera na mãos, lentes e outros equipamentos na mochila, a mãe levava o bebê atado ao peito. Durante a caminhada em busca de um remanso, ou de local com luminosidade adequada, iam observando e filmando as peculiaridades da floresta, e se informando sobre elas. Também perguntaram sobre o grito tenebroso que haviam ouvido na chegada, fazendo o caboclo interromper a caminhada para responder e advertir com ênfase tratar-se do gavião, bicho perigoso, rápido e traiçoeiro, poderia levar um bebê com facilidade, bastaria uma distração da mãe; também não hesitaria em carregar uma meninazinha como aquela, levinha e tenra, e apontou para a pequena que se agarrou amedrontada às pernas da mãe.

O casal vinha incentivando e encorajando as informações do caboclo sobre todas as coisas encontradas nos arredores, mas aquela conversa tenderia a aterrorizar e traumatizar a criança, melhor mudar de assunto imediatamente. Prefeririam ter entrado em mais detales sobre os gritos lancinantes, sobre o autor de silvo tão absurdamente incômodo, mas optaram por mudar o tema, evitando atemorizar a filha. De qualquer forma a estranha advertência parecia inverossímil para o casal. O caboclo, por seu lado, também se sentiu desconfortável. Percebia que sua advertência não recebia a atenção devida, mas desconfiança, o que o desagradava. Por uns momentos o caboclo se viu sob pulsões antagônicas, compelido a tornar a advertir ainda mais enfaticamente sobre o bicho, mas instado também a se calar sobre o fato pelas atitudes do casal. A indecisão acabou impondo o silêncio sobre a questão, tornando-se assim, ela própria, uma decisão.

O momento de silêncio que se seguiu foi compartilhado pelos 3 de maneiras diversas: o caboclo tentava assimilar o misto de ressentimento e de premência sobre a segurança da garotinha; o pai considerava a implausibilidade da informação, confrontando-as com outros conhecimentos sobre as aves e as florestas, e com crendices supersticiosas disseminadas pela região; a mãe voltava suas preocupações para questões de ordem psicológica, antecipando pesadelos noturnos.

Durante a caminhada, beirando o riacho, encontraram miríades de insetos interessantes, de todos os tipos; ouviram inúmeros pássaros, viram alguns bastante curiosos, como arapaçus grudados ao tronco de árvores à maneira dos esquilos, outros se banqueteando com insetos desentocados pelas formigas, e até um gavião sendo perseguido por pássaros menores no interior da mata. Depois de breve caminhada encontraram uma brecha no teto da floresta que permitia a infiltração da luz do sol até o chão da floresta, iluminando também o leito do riacho. Ali, filmaram peixes coloridos, e outros saltitando sobre as águas; também registraram uma a sensacional dança alada de um beija-flor empenhado em impressionar a fêmea com seu colorido iridescente e sua destreza sem paralelos. O caboclo considerou um bom augúrio a presença do pássaro que lhes conferiria proteção contra o gavião. A repetição da referência ao bicho irritou a mulher, e fez o homem acreditar que os temores do caboclo se devessem a crendices absurdas. Depois retornaram para casa, precisavam preparar o jantar antes do anoitecer. O caboclo os deixou, retornando, ele, para sua colocação.

Tinham trazido mantimentos, e os levaram do carro para a cozinha. Prepararam o jantar e foram dormir bem cedo, ao som de grilos, sapos, corujas, e uma infinidade de outros ruídos indiscerníveis, alguns deles apavorantes, como um que parecia o rugido de uma onça distante. No meio da noite um barulho atordoante cortou a noite causando uma desagradabilíssima sensação que percorreu simultaneamente a espinha de cada uma das pessoas na casa; era o grito da harpia, o imenso gavião amazônico, similar ao de uma bruxa, e ainda mais pérfido. Esse grito continua evocando na humanidade antigos pavores atávicos oriundos de uma era em que nossos antepassados eram menores que nós, mais baixos e mirrados, quando os adultos raramente chegavam ao metro e meio, pesando pouco mais de 40 Kg nas carcaças magras, mas de olhos e ouvidos atentos aos céus, atemorizados pelo perigo sempre iminente das águias gigantes, hoje bem raras, mas comuns em outros tempos. Quem ouve o grito malévolo da aterrorizante criatura sente percorrer um pavoroso fluxo pela coluna vertebral, fazendo contorcer o corpo em decorrência de uma dor aguda que desce do ouvido até o cóccix, arrepiando intensamente todos os pelos, na tentativa atávica de fazer o corpo parecer maior e mais pesado, numa busca desesperada de iludir a terrível criatura. Muitos crânios humanos que nos chegam, preservados desde passado remoto, ostentam as perfurações das poderosíssimas garras da criatura maligna, que hoje se alimenta preferencialmente de bichos-preguiça e de macacos encontrados pela floresta.

No dia seguinte levantaram de madrugada; tinham deixado o café da manhã preparado, e o almoço pré-pronto; comeram rapidamente e retornaram à pequena clareira encontrada na véspera, conseguindo chegar lá antes da aurora para apreciar a cantoria alegre e diversa da passarada. O pai buscava detalhes ao redor, filmando tudo o que via, trocando sucessivas vezes a bateria do aparelho, descobrindo criaturas estranhíssimas, conseguindo imagens inusitadas dos mais diversos seres encontrados. Retornaram para o almoço; a manhã tinha sido cansativa para a mãe, com o bebê atado ao peito durante todo o tempo, a menina sempre ao alcance da mão, o temor de que se perdesse no meio da mata labiríntica.

Depois do almoço, preferiram permanecer em casa, os 4. Fizeram belas imagens dali mesmo, gravando as belas cenas que se desenrolavam sob a luminosidade intensa na enorme clareira. O espetáculo ficava a cargo dos pássaros, tanto os bandos dos graúdos, de espécies diversas, quanto os menores, cantando, ou exibindo seu colorido frequentemente exuberante nas bordas da clareira. Eventualmente um pássaro solitário, ou bando, esgravatava o capim aparado rente ao solo em busca de pequenos animais e sementes. Outros permaneciam nas árvores altas da borda, exibindo-se para as fêmeas dessa maneira, a mais vistosa encontrada. A clareira era um palco extraordinário.

Ouviram mais de uma vez o estridente grito da harpia, nunca se acostumando com ele, sendo colhidos, todos, seguidamente, pela mesma sensação aterrorizante e incômoda. O bebê quase sempre chorava após a petrificação causada pelo silvo, a menina corria para se agarrar à mãe, apavorada. Os adultos sentiam intenso incômodo ao ouvir o estranho silvo. O pai tentou em vão localizar a criatura enigmática, a bruxa, como a chamava, mas em vão, não conseguiu, apesar de vasculhar a vegetação com auxílio de lentes poderosíssimas e aparato tecnológico de primeira.

No terceiro dia após a chegada, todos já estavam familiarizados com o ambiente. Antes do sol nascer o pai desceu o riacho, tinha muito material interessante, o local era ótimo para filmagens, mas sabia que ainda poderia conseguir muitas novidades, estava encantado com as imagens que cnseguira gravar. O restante da família permaneceu em casa. Brincavam na relva, na beira da varanda, quando a mãe entrou para preparar um mingau para o bebê. Quando voltou trazendo o bebê ao peito e um lanche para a menina, não a viu; rodeou a casa à sua procura, e ficou imensamente preocupada por não encontrá-la, chamava por ela. Tendo rodeado toda a casa, olhando à distância e repetind seu nome, entrou na casa à procura da menina. gritava por ela, tinha que estar escondida em algum lugar. A sumiço a incomodava tremendamente, sua menininha não costumava fazer brincadeiras idiotas como aquela. Circulou toda a casa, novamente, buscava também possíveis esconderijos; nada. Voltou a entrar na casa, e vasculhou toda ela. Olhava embaixo das camas, dentro dos armários, todos os possíveis esconderijos, e a chamava com aflição, gritando pela filha.

Veio-lhe à mente a possibilidade de rapto, nenhuma outra lhe ocorria; teria sido extremamente improvável que a menina, obediente e comportada, tivesse deixado a zona de relva aparada, além disso, a caminhada pelo capim mais alto teria sido bastante incômoda; impensável que ela decidisse ir até a floresta, o próprio capim a impediria.

Saiu atabalhoadamente em busca do marido, o bebê atado ao peito; caminhava rapidamente, à beira do desespero. Comunicou o sumiço ao homem, partiram correndo de volta. Foram em busca do caseiro, o marido tinha percorrido a trilha até lá uma vez. Tiveram sorte e encontraram o homem. Tendo perguntado sobre o acontecimento ficou muito preocupado, voltaram correndo até a casa. O caseiro tentou evitar o assunto, não queria se pronunciar, mas interrogado sucessivamente acabou exprimindo seu temor do gavião.

Para os pais tal possibilidade era quimérica, fantasiosa, inverossímil. A sugestão, de fato, gerava apenas desconfiança sobre o homem. Continuaram a procurar a menina sempre pelos mesmos lugares. A mãe tornava a entrar na casa, vasculhando o interior da mobília, embaixo das camas, e qualquer possível esconderijo que encontrasse, enquanto o pai circulava a borda da clareira gritando desesperadamente o nome da menina, fazendo breves incursões eventuais nas possíveis entradas de trilhas. O caseiro fazia o mesmo, embora sem nenhuma convicção; percebia a incredulidade a respeito do gavião, seu principal suspeito; notava também que as desconfianças recaíam sobre ele.

Depois de algumas horas repetindo as mesmas buscas, decidiram alterar a estratégia, penetrando na mata e gritando pela menina. O caseiro alertou para a perigo de se perderem; sugeriu seguirem algum regato, e atentar para as bifurcações, marcando o caminho por onde tinham passado. Enfatizou o risco de não conseguirem encontrar o caminho de volta, medida que veio a se mostrar ajuizada quando, posteriormente, os dois membros do casal se viram em dificuldade para retornar, temendo mais de uma vez ter escolhido o caminho errado. Não demorarm muito a voltar; a mãe carregava o bebê que, sem nenhuma compreensão sobre o que se passava, exigiu seu alimento no horário habitual, forçando a mãe ao retorno.

O pai chegou um pouco depois que o pequeno terminara sua refeição; desolação e cansaço se estampavam nos rostos dos pais, sentiam-se ambos impotentes, sem saber o que fazer. A única certeza de ambos era que não podiam esmorecer, continuando a busca até encontrar a menina, e então retornaram à floresta por outra trilha e assim o fizeram por diversas vezes, marcando a hora do retorno e as trilhas já percorridas.

Havia desconfiança sobre o caseiro que acabara por abandonar a teoria do gavião e se embrenhara pelo mato retornando à clareira menos vezes que os pais. Sem saber o que fazer, impotentes, resolveram buscar algum apoio na cidade durante a noite, quando as buscas pelas trilhas seriam perigosíssimas, dada a possibilidade de perder o caminho no meio da floresta. Também imaginaram que a noite seria martirizante, sem conseguir dormir devido à situação, e aterrorizados com os barulhos ameaçadores da floresta em torno de sua garotinha indefesa.

Combinaram o retorno antes de escurecer, tendo marcado hora para deixar a floresta. Parecia absurdo sair de lá sem a menina, mas qualquer outra possibilidade era ainda mais fora de propósito; beiravam o desespero. Arrumaram as malas desleixada e rapidamente, e as levaram para o carro; o homem ligou a ignição para esquentar o motor. Quando a mulher prendeu o bebê em sua cadeirinha percebeu o erro na posição das malas, junto da criança, ameaçando-a. Retirou a cadeirinha do carro para ajeitar as malas, colocou-a por um momento sobre a capota do veículo, enquanto arrumava a bagagem em seu interior.

Ajeitava a última mala quando um assobio agudo e intenso percorreu os ouvidos e coluna de cada um, causando intenso arrepio; viram também o caseiro gritando e correndo desesperadamente para eles, enquanto uma sombra escureceu momentaneamente o carro, ao mesmo tempo em que algo arranhava a capota. Ao sair do veículo, depois da breve paralização causada pelo arrepio apavorante, viram o pássaro monstruoso carregando seu bebê para longe. Era a primeira vez que viam a harpia, ave nefasta, de olhar vil e arrogante, e só então compreenderam os temores e advertências do outro homem, mas já era tarde.

Perplexos, os dois acompanharam com o olhar o voo do pássaro imenso que se distanciava rápida e silenciosamente para fora da clareira; voava alto, e para bem longe. Quando o caseiro se acercou não havia mais nada a dizer, permaneceram calados, os 3, por longos instantes, até a mulher irromper em pranto. Enquanto a mulher chorava, o pai perguntou ao outro se havia alguma possibilidade de busca, se seria possível tentar resgatar o bebê, a resposta quase silenciosa veio com um olhar para o chão; nada havia a fazer. Foi para consolar, e não por falta de tato, que o homem informou que a harpia matava instantaneamente ao agarrar a vítima pelo crânio, cravando-lhe a imensa garra do polegar, perfurando a cabeça profundamente. Poupava o sofrimento de conceber a criança sendo devorada aos poucos, impiedosamente, pedaço por pedaço, o que acontecia se o filhote estivesse aprendendo a matar, fato omitido pelo homem, que imaginava o desespero da menina maior, no alto da árvore, entregue ao filhote medonho, faminto e voraz, sendo devorada viva, pedaço por pedaço.