ESPOROS INDESEJÁVEIS
Aproveitou-se da invasão que alguns góticos idiotas realizaram ao cemitério onde havia o jazigo da família e saiu de lá com uma urna cheia de ossos. Conferiu pela etiqueta tratar-se do cadáver certo. Livrou-se dos companheiros indesejáveis e foi para casa.
Depositou os ossos triturados da avó próximos à porta de entrada do hospício. Junto, um envelope contendo diversas notas de bom valor. Um prêmio pelo tratamento que dispensaram à velha durante o longo período de cárcere. Nem imaginava aquilo como ironia, ao menos para os mais velhos da família, pois ela, diziam, era irrecuperável e ninguém suportaria tantas décadas cuidando de uma louca.
Voltou para casa e para sua rede clandestina de contatos, mantidos através de furtivos telefonemas ou de sites ilegais na rede. Ligou para um dos hackers. Ele sugeriu que conversassem por computador. Conectou-se. Agradeceu pela colaboração que dera e confirmou ter recebido a encomenda da fonte exatamente como fora combinado. Pagara uma puta grana pela coisa, mas deram a garantia de que funcionaria. Despediu-se do outro.
Permaneceu frente à tela e abriu outro arquivo. Foi ao trecho que lhe interessava: “O antraz é causado pelo organismo 'Bacillus Anthracis' que, em algumas partes do mundo - como as Américas do Sul e Central, Sul, Leste Europeu, Ásia e a África - pode ser encontrado no rebanho bovino.
A bactéria forma esporos que podem ser absorvidos através da ingestão de carne contaminada, inalados, ou que simplesmente infectam a pele por contato direto entre o homem e um animal doente.”
Talvez o diretor daquele hospício fosse o primeiro a ter contato com o envelope recheado. Se seguisse as instruções que deixara num texto anexo, todos teriam direito à sua cota de notas. Restavam que tios e tias organizassem um jantar à base de carne, enviada por cortesia de um frigorífico novo na praça.