SUICÍDIO EM COPACABANA - revisado e acrescido-

Suicídio em Copacabana

Jorge Linhaça

O parapeito a chama hipnoticamente...

Cansada das agruras a mulher hesita...

Caminha quase que sonâmbula...

Escala o parapeito...

Olha para baixo e pensa na queda vertiginosa.

Imagina quão rápido será o trajeto...

Hesita...pensa em voltar...

Mas voltar para que? Para quem?

Para a solidão que a atormenta?

Para sua vida sem sentido?

Cria coragem...atira-se..

O corpo projeta-se no ar

rumo ao asfalto molhado

Sonhos perdidos

medo incessante

Insegurança.

Lá embaixo nada muda

o movimento continua.

O corpo da mulher nua

parece parado no ar.

tantas imagens

lembranças

desesperanças

Ao longe o barulho do mar...

Poema de morte

de pouca sorte

poema da vida

já combalida

O asfalto se aproxima

A massa escura cada vez mais próxima

Um grito travado na gargante

O ar fustigando o corpo e fugindo dos pulmões

O medo petrificante...faltam poucos metros...

10

9

8

7

6

Ao longe o ruido abafado de uma sirene

5

4

O arrependimento..

O coração disparado...

A falta de ar...

3

2

A sirene toca escandalosa, estridente

Acaba o pesadelo

O despertador avisa

É hora de despertar.

Mais um dia de semi-vida lhe aguarda...

E o parapeito ali...pertinho da cama...