HEMOFAGIA -2

Madeleine mantinha-se um tanto quanto alheia a tudo isso, seguia a sua rotina de quase eremita e jamais saia antes da hora da Ave Maria, quando os sinos da igreja da praça rebimbavam e coavam por todo o vale.

A forasteira tinha a pele alva, contrastando com a dos demais moradores da cidade acostumados aos raios inclementes do sol que ali brilhava forte quase todos os meses do ano, exceto na época das chuvas. Seus seios destacavam-se ao olhar emoldurados por decotes modestos, mas, provocativos.

Nos finais de semana a cidade ganhava um movimento acima do normal, fomentado pela chegada de familiares vindos de outras cidades; dos habitantes da zona rural e também por turistas ocasionais.

A Praça da Matriz, que reunia em seu entorno 90% do comércio e dos atrativos da cidade , enchia-se de gente, jovem e madura, cada qual integrado aos seus respectivos grupos de interesses.

Numa dessas noites Madeleine simplesmente apareceu, lá pelas tantas, vestida tal maneira que era impossível não despertar os olhares de lascívia ou de inveja. Um vestido tubinho, negro, que contrastava com a alvura de sua pele, os lábios carnudos realçados por um batom carmim e uma espécie de sobre capa toda rendada que descia além do comprimento do vestido que se acabava um palmo acima dos joelhos, revelando coxas bem torneadas, ainda mais realçadas pelas botas até os joelhos.

A praça praticamente parou, todos os olhares se voltaram para a nova moradora em sua primeira aparição “social” desde que chegara à cidadezinha.

Copos de cerveja pararam no meio do caminho entre a mesa e os lábios dos consumidores, as mulheres silenciaram por segundos que pareciam um eternidade, as pessoas acotovelavam os mais dispersivos que ainda não haviam notado a chegada da estonteante mulher.

Os olhares dos homens percorriam cada centímetro de seu corpo escultural e os das mulheres procuravam algum defeito em suas vestes.

Madeleine, a principio sentiu-se incomodada em ser o alvo dessas atenções exclusivas, mas aos poucos a praça retomou a sua dinâmica e as pessoas agora comentavam discretamente suas impressões.

Havia algo de diferente naquela mulher, uma atração intensa sobre os homens, muito além do normal e um sentimento de inquietação nas mulheres que chegavam a sentir arrepios diante de sua presença.

A moça sentou-se em um banco da praça e ali permaneceu observando a multidão e sendo observada por ela até que um forasteiro de outras bandas reuniu coragem para aproximar-se.

A conversa começou sobre de onde eram, suas impressões sobre a cidade e , claro, o forasteiro iniciou as suas observações sobre a beleza da moça, que não recusava e nem aceitava os elogios, fazendo-se no mais das vezes de desentendida mas olhando fixamente para seu interlocutor.

Seus olhos cor de mel exerciam um fascínio quase hipnótico sobre o rapaz que já não conseguia ver nada à sua volta senão o objeto de sua atenção. Aquela mulher era diferente de todas que já havia visto, seu falar é calmo e peculiar, com termos pouco usuais e tinha carisma acima de qualquer comparação.