Reveillon Macabro

Reveillon Macabro

Jorge Linhaça

Todos aguardavam a queima de fogos, olhos fixos no mar.

Pessoas pulavam ondinhas, outras faziam oferendas aos deuses do oceano.

Palcos armados na orla desfilavam os artistas do momento, o povo de todos os tipos se reunia para dar boas vindas ao Ano Novo.

Bebida, fumo e drogas, rolavam solto para quem quisesse , para alguns o importante era pegar alguém na virada do ano, como se isso rito de passagem lhes garantisse sucesso nas aventuras amorosas por todo o ano vindouro. Casais buscavam os mais diferentes refúgios para dar vazão aos seus desejos mais íntimos. Famílias se juntavam em algum lugar da disputada areia em busca de uma melhor visão do festejo.

Os fogos, devidamente colocados mar adentro, estavam prestes a ser detonados, o anseio do festival de cores e sons invadia as almas dos ali presentes.

Alguém inicia a contagem regressiva...10...9...8...7...6...5...4...3...2...

Os fogos explodem numa onda de luzes e cores, mas o que se vê nas faces dos espectadores é uma máscara de terror enquanto os fogos que deveriam subir alto nos céus encontram outro caminho e atingem em cheio os presentes ao evento...Gritos de terror se misturam ao tropel desesperado dos que buscam salvação e abrigo, pessoas com as vestes incendiadas correm desvairadamente pela areia, os que tropeçam são pisoteados pela multidão insana, o sangue mistura-se à areia e às ondas do mar. Nos palcos, os artistas observam estupefatos a enorme tragédia até que a massa humana invade todos os espaços possíveis em busca de salvação e a tragédia se acentua com queda de várias das estruturas, pessoas morrem eletrocutadas pelos aparatos dos palcos, outros jazem esmagados sob toneladas de equipamentos...Gritos...Gritos...gemidos...e os fogos continuando a castigar a orla e o povo, impregnando o ar com o cheiro de pólvora e carne queimada ...

As sirenes dos bombeiros , da polícia e das ambulâncias invadem a noite, mas pouco se pode fazer antes que a bateria de fogos cesse e o pânico da multidão seja, ainda que parcamente , controlado.

O saldo foram dezenas de mortos e centenas de feridos...o novo ano chegou da mesma forma que o antigo findou, com uma tragédia provocada pela insensatez e a ganância humanas.

Os culpados serão sempre os peixes pequenos, os bois de piranha, enquanto que os responsáveis já estarão pensando em como faturar alto com o carnaval que se aproxima....

Salvador, 27/12/13.