O Coral dos condenados

O Coral dos condenados.

Jorge Linhaça

Naquele canto obscuro, ecoa um canto latente

Que corre por sobre o muro, e gela a alma da gente

O canto dos mil lamentos, o som das almas penadas

Distantes do firmamento, ao martírio condenadas.

Foi assim que aconteceu, num tempo pouco distante

Que a história nasceu, e hoje eu passo adiante

Já um ano se findava, e outro estava por vir

Muita gente festejava, sem tragédia pressentir.

As danças eram picantes, as letras pura malícia,

As roupas insinuantes... Começaram as carícias

Era terra de ninguém e ninguém se pertencia

A madrugada acabando, já rompendo um novo dia.

Foi então que aconteceu...

Em meio aquela festança, sem nenhum aviso aparente

Teve inicio a matança de culpado e inocente

Os corpos foram caindo, jorrando sangue do umbigo

Gritos foram se ouvindo, de horror frente ao perigo

Um bando de mil demônios, até então invisíveis,

Revelaram suas faces, medonhos, feio, horríveis.

As mãos, garras afiadas, cumpriam o seu mister,

As vidas sendo ceifadas, fosse homem ou mulher

Foi tão grande a matança, que o lugar foi demolido,

Só restou parte do muro, onde o canto hoje é ouvido,

O canto dos mil demônios, e das almas torturadas,

Entoando o triste coro, nas noites enevoadas.

Não há vivente, eu garanto, por mais force que pareça,

Que ao ouvir o tal coro, a coragem não esmoreça.

Os demônios sempre espreitam e o que dão já vem tirar,

Armadilhas mil enfeitam, para a todos enganar

Tome, pois, muito cuidado, com quem anda e onde vai,

Com o canto das sereias, pra não acabar em ais

Sempre há um lugar guardado no coral dos condenados

Esta dado o meu recado, ficam todos avisados.