Beauséant- Os guerreiros da luz
 
 
 
Fora o próprio Jacques de Molay, que num conclave realizado em Chipre, no início do ano de 1307, em que todos os altos dignatários do Templo estavam reunidos, alertara os irmãos a respeito das maledicências que estavam sendo assacadas contra a Irmandade. Elas se referiam principalmente aos rituais de iniciação de noviços e á certas doutrinas estranhas que, supostamente, estariam sendo professadas pelos Templários. Aludiam também a comportamentos promíscuos que estariam sendo incentivados e praticados pelos irmãos do Templo. Tudo isso, disse de Molay, estava sendo usado pelos inimigos da Ordem para difamá-los e justificar uma campanha que visava destrui-los.
– Nossa Irmandade ─ disse o grão–mestre ─ não é apenas uma organização monástica fundada para disseminar a doutrina cristã ou prestar serviços públicos, como acontece com a maioria das Ordens fundadas pela Igreja. Nós somos a Milícia de Cristo. Nossas funções excedem em muito a mera proposta de divulgar e defender os princípios da fé cristã.
 
Diante dos duzentos e poucos cavaleiros assentados no pátio do castelo de Chipre ele rememorou a história da Ordem e falou aos cavaleiros ali reunidos sobre assuntos restritos somente aos monges que possuíam os mais altos graus na organização.
─ Aprendestes que a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão foi fundada por nove nobres cavaleiros, no ano de 1118, sob a chefia de Hugues de Payns, com o objetivo de proteger o caminho do Santo Sepulcro, para que os peregrinos pudessem visitar, em segurança, o túmulo de Nosso Senhor ─ disse ele.
─ Assim está escrito em nossas crônicas e tem sido informado ao mundo. E de fato, foi o que fizeram nossos fundadores durante algum tempo, para justificar a fundação da Ordem e não atrair a atenção para os verdadeiros objetivos que motivaram nossos irmãos a fundar a nossa Irmandade.
─ Na verdade ─ continuou de Molay ─ vós sabeis que nossa Irmandade não nasceu em Jerusalém no ano de 1118, como todos pensam, mas em 1104, em Troyes, sob a tutela de nosso irmão Hugues, conde de Champagne. Entre seus cavaleiros vassalos estavam dois dos irmãos fundadores, o nosso primeiro grão-mestre Hugues de Payns e aquele que foi o segundo na linha sucessória, André de Montbard. Entre eles, também, estava o nosso santo abade Bernardo de Clairvaux, redator dos nossos estatutos.
─ Desde o início nós tínhamos uma missão ─ continuou de Molay. ─ Essa missão era realizar a missão pela qual Nosso Senhor Jesus Cristo veio á terra, ou seja, o de fundar o verdadeiro reino de Deus na terra. Esse era o reino da consciência, onde o espirito humano pudesse se aperfeiçoar pelo conhecimento e atingir o estágio de perfeição para se tornar um espírito de luz. Seria um reino onde a única religião seria a verdadeira Irmandade. A religião de um único e verdadeiro Deus. A religião onde todos os homens fossem irmãos e não precisassem se matar uns aos outros por causa de crenças diferentes, por vontade de poder ou cobiça de bens materiais. Essa era a ideia que primeiro moveu os fundadores da nossa Ordem, e foi a base segundo a qual o nosso amado São Bernardo redigiu a nossa regra. Nessa ideia está o espírito da verdadeira cavalaria. Trata-se de uma milícia onde os cavaleiros não se ataviam com adornos, como fazem as mulheres, nem enfeitam seus cavalos com mantas de seda, nem fazem suas espadas com empunhaduras de ouro e pedras preciosas. Nossa Ordem, da forma como São Bernardo a pensou, deveria ser uma cavalaria sem adornos, feita de homens viris, piedosos, sinceros, humildes e sobretudo virtuosos. Diferente da cavalaria secular, nós, os Pobres oCavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão, fomos criados para combater pela verdadeira causa de Cristo. Por essa causa, morrer e dar a morte aos inimigos da verdadeira fé é a suprema glória e a única garantia de salvação para a nossa alma.
─ Assim,─ continuou de Molay ─ a cavalaria templária é, antes de tudo uma cavalaria espiritual. Ela combate por uma fé e por uma missão. Enquanto estávamos na Terra Santa tínhamos o dever de lutar pela posse dos lugares onde Cristo viveu e morreu. Para isso a nossa Ordem foi constituída. Nessa época, nossos idealizadores pensavam que a sede do reino de Cristo na Terra deveria ser Jerusalém e que o território desse reino deveria abranger os limites do antigo território de Israel, pois esses eram os limites que o próprio Jesus tinha em mente quando se propôs a realizar a sua missão. Mas depois de tantas guerras, tanta matança, tanta barbaridade cometida em razão de uma falsa fé, nossos líderes descobriram que não estavam dando suas vidas nem derramando seu sangue por uma causa justa. Por que não estavam, de verdade, lutando pelo verdadeiro Cristo, mas sim por um Cristo, falso que pregava uma doutrina falsa, urdida por pessoas ambiciosas que só queriam o poder temporal e as riquezas materiais. E para isso usavam o nome de Cristo, como se essa fosse a vontade dele.   
O silêncio era geral no passo. Todos os cavaleiros, contritos, seguiam á risca a regra da Ordem. Quando o mestre fala, todos devem ouvir sem interromper. Atenção, respeito, comedimento, silêncio e humildade eram virtudes cultivadas por aqueles cavaleiros. A Regra escrita por São Bernardo seguia á risca os preceitos do Sermão da Montanha. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Eles sabiam que ser pobre de espírito não era ser tolo ou mesmo ignorante. Era sim, ser humilde e mesmo tendo muita sabedoria, comportar-se como se nada soubesse. Mais ouvir do que falar, mais aprender do que ensinar, mais dar do que receber, servir antes de ser servido.
 
Jacques de Molay limpou a garganta e continuou.
─ Nós somos os guardiões da verdade cristã. Nós sabemos quem foi o verdadeiro Jesus e o que ele, na verdade, desejou. Uma verdadeira fraternidade da qual todas as pessoas pudessem fazer parte, uma fraternidade onde a única religião fosse a consciência do bom e do belo que existe em cada espírito humano, e que todos os bens da natureza, que Deus colocou á nossa disposição fossem compartilhados sem cobiça nem inveja. Por isso a Regra que o nosso santo patrono nos deu: não importa quanta riqueza venhais a possuir: vós vivereis na pobreza. Vós sois os soldados de Cristo. Vós confiareis na Providência divina. Vós não tereis mais bens pessoais do que aqueles que a vossa vida diária necessita. O reino de Deus é o reino da verdadeira Justiça. É o reino da tolerância. É o reino da Igualdade, da Liberdade e da Fraternidade. Esse é reino pelo qual devemos lutar. O reino que merece o nosso sangue...
  
      Os cavaleiros presentes no conclave já sabiam de tudo isso. Eram os mais altos dignatários da Ordem. Haviam galgado todos os graus da complicada escalada iniciática que um verdadeiro monge-cavaleiro da milícia de Cristo devia subir. Eles sabiam, por exemplo, que o leit-motiv para a fundação da Ordem do Templo não fora a propalada necessidade de manter os caminhos para Jerusalém seguros para os peregrinos que demandavam a Terra Santa. Aliás, eles zombavam da ingenuidade de quem acreditava que apenas nove cavaleiros poderiam realizar tamanha empreitada. Só mesmo quem não conhecia as perigosas estradas da Palestina poderia acreditar numa balela daquelas.
Sim. Todos eles sabiam que o objetivo da Ordem era a implantação de um reino de Deus na terra, que seria um reino da consciência, sabedoria, ciência e verdadeira religião universal, a religião que o verdadeiro Jesus havia pregado.
 
─ Só nós sabemos que o Cristo que a Igreja impôs ao mundo é falso. E que todas as histórias que os evangelhos contam foram fabricadas para enganar o povo e justificar a usurpação de poder que os bispos de Roma fizeram ─ continuou de Molay, retomando seu discurso depois de uma pausa.
─ Porque nós sabemos que na sua pessoa havia duas naturezas: a natureza de um homem comum, que morreu de fato na cruz e nunca ressuscitou, e a natureza divina, que era o seu espírito. Este sim, alcançou a glória que Deus dá a todos, pelo mérito que acumula em uma vida de virtude e desapego.
 
Esse era um ensinamento dado a todo monge-cavaleiro que passava pelos mistérios da iniciação e depois frequentava os Capítulos, onde a doutrina desenvolvida pela Ordem era comunicada, em ritos de passagem, em diversos graus, aos que haviam acumulado mérito para se assumir os altos cargos dentro da Irmandade. Não eram todos os cavaleiros que comungavam desses ensinamentos. Aliás, a maioria não passava dos três primeiros graus, que eram os chamados graus de combatentes, os graus de base, onde apenas a disciplina militar e os códigos de conduta moral da Ordem eram ensinados. Estes irmãos podiam ser soldados, capelães e sargentos e tinham direito de assumir qualquer cargo subalterno dentro da Ordem, nas funções públicas que o Templo exercia na sociedade civil. Muitos desses irmãos se tornavam notários, bailios provinciais, inspetores e arrecadadores de impostos, contabilistas, administradores de terras e outras possessões que o Templo mantinha por toda a Europa. Mas a estes, nem aos sargentos e cavaleiros comatentes não se comunicavam os segredos iniciáticos que somente os monges-cavaleiros de mais alto grau obtinham na intimidade dos Capítulos.
 
─ Reforcem a todos os cavaleiros a nossa recomendação de não comentar com nenhum irmão de grau inferior os segredos do seu Capítulo. E aos irmãos da base, que não falem com pessoas não iniciadas o que acontece em nossas recepções de noviços. Alguns dos nossos segredos rituais têm sido comentados em círculos estranhos á nossa Ordem e tem servido como matéria difamatória contra nós ─ disse de Molay.
Esses segredos rituais a que o grão-mestre se referia eram exatamente a exigência que se fazia ao neófito, de negar Cristo por três vezes e cuspir na cruz. Esse rito havia sido introduzido pelo grão-mestre Robert de Craon, que governara a Ordem entre 1136 a 1149. Ele era um nobre originário da região do Languedoc, tido como simpatizante dos cátaros, Os cátaros, como todos eles sabiam, eram inimigos irreconciliáveis da Igreja de Roma e por isso tinham sido exterminados numa cruzada há cerca de cinquenta anos atrás, mas suas ideias ainda eram muito respeitadas naquela região. 
─ Como todos vós sabeis ─ disse de Molay ─ esses rituVisnuais tem um caráter simbólico muito importante. Primeiro, eles se destinam a informar os noviços de que o Jesus que a nossa Ordem cultua não é o mesmo que a Igreja acredita. O Jesus de Roma é um falso profeta. Por isso deve ser negado três vezes, como Pedro o fez. Não é pecado negar um impostor. Depois, cuspir cobre a cruz mostra que nós não acreditamos nessa impostura da crucificação e da ressurreição. Jesus nunca resuscitou. Ele morreu como todos os homens porque ele era apenas um homem. Ele nos deixou uma mensagem e uma missão. Nossos primeiros irmãos foram á Terra Santa para lutar pela cruz. Depois descobriram que o sangue deles estava sendo derramado por uma mentira. Que não era pela fé que lutavam, mas para conquistar terras, riqueza e poder para a Igreja e para os nobres que a apoiavam. O reino de Deus, que o verdadeiro Jesus pregava, era o reino do amor, da tolerância, do conhecimento e união entre todas as raças. Mas não era nada disso que estava acontecendo na Terra Santa. O ódio, a intolerância, a matança e a pilhagem estavam sendo feitas em nome de um Cristo que eles haviam transformado num Deus mau, injusto e cruel. Então nossos irmãos descobriram a verdade sobre a vida de Jesus e aprenderam qual era a verdadeira mensagem que ele transmitira.
 
      ─ O reino de Deus é um reino universal da liberdade de consciência, onde as pessoas podem escolher livremente no que acreditar e como prestar culto á Deus, que é um só e não três; é um reino da igualdade entre as pessoas, onde todos devem ser livres para escolher onde e como viver, sem os grilhões da servidão, obedecendo apenas ás leis que eles mesmos votarem; é um reino de fraternidade, onde as pessoas se reconhecem como irmãos e se ajudam uns aos outros.
─ Béauseant! ─ gritaram todos.
─ Queimem todos os livros e instruções escritas que existem em suas preceptorias, referentes aos nossos rituais e crenças, ─ comandou de Molay. ─ Instruam os nossos preceptores, em todas as nossas preceptorias, a destruir tudo que se refira a esses nossos segredos. De hoje em diante, aconteça o que acontecer, nada mais deverá ser escrito. Tudo que se referir á nossa doutrina e nossos objetivos, doravante será comunicado oralmente e por sinais.
─ Nós somos os guerreiros da luz ─ gritou De Molay, erguendo o estandarte preto e branco da Ordem.
─ Béauseant! Gritaram todos novamente.
 
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Notas históricas
 
 
  1. O nove é um número mágico que está conectado com a história dos Templários de uma forma mística e profundamente simbólica. Ele representa o Thau, o X, que é cruz de Santo André, e a letra Theth do alfabeto judaico, que simboliza a serpente. Nove foram os cavaleiros que fundaram a Ordem e nove anos se passaram até que eles se tornassem uma organização formal e começassem a recrutar novos membros. Nove é o número perfeito que simboliza o fim de um siclo e o começo de outro. Marca a última etapa do processo de purificação iniciática, de missão cumprida. Por isso, Jesus morre na nona hora do dia. Na tradição vedanta Vishnu encarna nove vezes para salvar a humanidade.  Para os filósofos gnósticos, cultores da aritmosofia, o número de Cristo era 801 (soma de 8+0+1); nove era também o número da santidade. Na tradição católica tornou-se regra terminar encerrar uma festividade com uma “novena”.
 
 
  1. Que havia segredos iniciáticos na estrutura curricular da Ordem do Templo parece inegável, pois nas próprias Regras escritas por São Bernardo (§§ 226) consta a proibição de um irmão revelar “segredos” do seu Capítulo a quem não fosse do mesmo grau. Essa inconfidência era punida com a exclusão. O rito templário, ao que tudo indica teria três níveis de aplicação: o primeiro seria aberto a todos os membros, não conteria nenhum simbolismo iniciático, constando apenas de uma cerimônica de recepção; o segundo, a que seriam admitidos apenas os cavaleiros, onde se aplicava o simbolismo da negação de Cristo e da cusparada na cruz como forma de provação da fé do noviço e da sua verdadeira fidelidade aos preceitos da Ordem, e a terceira, na qual todos esses simbolismos, e os demais mistérios de que a Ordem era detentora eram comunicados. Desse terceiro grau só participavam os monges-guerreiros que frequentavam o Capítulo Geral. Essa disposição foi revelada por um dos depoentes frente ao Tribunal de Inquisição. Esse depoente, identificado como sendo um irmão chamado Gaucerant de Montpezat disse haver no rito templário “três artigos que ninguém conhecerá jamais, exceto Deus, o Diabo e os Mestres.” Esse irmão foi torturado e queimado vivo, mas não revelou o conteúdo desses mistérios.
 
 
  1. O primeiro historiador a escrever sob a Ordem do Templo foi Guilherme de Tiro. Mas suas crônicas foram escritas entre 1175 e 1185. Nessa ocasião a Ordem já existia há mais de cinquenta anos. Suas fontes foram depoimentos dos próprios cavaleiros templários, que, evidentemente, só contaram o que sabiam, ou o que podiam contar. Nessa época o Templo já era uma organização poderosa e já tinha desenvolvido a mística que a acompanhava. Toda a nobreza europeia almejava entrar para os seus quadros ou mesmo ter um Templário na família. Ela era uma verdadeira Confraria, envolta em mistérios e lendas, em razão dos feitos heroicos dos seus membros nas lutas contra os sarracenos.
 
 
  1. O “reino de Cristo sobre a terra” não era uma mera metáfora espiritual, mas sim uma realidade politica que os líderes cruzados, juntamente com o Papa Urbano II, tinham em mente quando iniciaram a primeira cruzada. Esse ideal era uma inspiração cavaleiresca, que tinha como mentor justamente o grande Bernardo de Clairvaux, redator das Regras da Ordem do Templo. A finalidade dessa cruzada não era meramente libertar Jerusalém do domínio sarraceno, como geralmente se pensa, mas sim estabelecer o domínio cristão na região onde o cristianismo tinha nascido. Destarte, a missão que São Bernardo deu aos Templários era exatamente aquela que Jesus se atribuiu em sua vida, ou seja, reconstruir o Templo de Jerusalém sobre as ruínas do antigo Templo de Salomão. Esse simbolismo, o próprio Jesus havia usado em sua revelação aos seus discípulos, de que aquele magnífico edifício que eles estavam contemplando ─ o Templo de Jerusalém ─ seria destruído e dele não ficaria pedra sobre pedra. Essa metáfora, que era também uma profecia, se referia principalmente á nova religião que ele iria fundar. Por isso, a profecia da destruição do Templo deve ser analisada em conjunto com outra metáfora, a da ressurreição, na qual Jesus se diz capaz de reconstruir o Templo em três dias. Essa idéia de reconstrução do Templo simboliza o desejo de um renascimento da humanidade a partir das virtudes cristãs, da forma como São Bernardo as entendia. Encaixava-se perfeitamente na mística de uma época, onde o romantismo mágico se misturava á virtude cristã, para compor o caráter do homem perfeito. Esse homem perfeito era o Cavaleiro Templário, na Regra elaborada por São Bernardo, um monge-cavaleiro, misto de santo e guerreiro, como o próprio Jesus havia sido.
 
 
  1. Uma boa fonte de compreensão da filosofia dos Templários são os trovadores provençais. Esses famosos “poetas” medievais não eram meros artistas que entretiam as nobres senhoras nos serões das cortes caveleirescas. Em grande parte, eram filósofos esotéricos que levavam, de corte em corte, idéias de uma crença não muito ortodoxa, que tinha mais a ver com o cristianismo místico, praticado pelos cultores do gnosticismo, do que com a doutrina admitida pela Igreja de Roma. Daí a preocupação que o Vaticano sempre demonstrou com o chamado Trovadorismo, muitas vezes condenando suas produções artísticas como mensagens eivadas de heresias. O Trovadorismo, especialmente aquele que se referia á literatura ligada aos contos do Graal foram claramente inspirada em motivos templários. Cabe lembrar que a Igreja sempre condenou os romances do Graal por entender que eles veiculavam ideías pagãs, heréticas e perigosas para a fé cristã e contrárias aos ensinamentos do Evangelho.
 
 
  1. Fulk de Chartres, o cronista oficial dos cruzados, escreveu suas crônicas entre os anos de 1100 e 1130, supostamente na época em que a Ordem do Templo teria sido fundada (1118). Ele fala das dificuldades que os viajantes estavam sujeitos nessas jornadas. Mas, estranhamente, ele não faz nenhuma referência aos famosos cavaleiros guardiões do Santo Sepulcro. Se eles já existiam nessa época, tratava-se de uma organização muito discreta e pouco conhecida.
 
 
  1. Esse tipo de “religião” referida por Jacques de Molay era o praticado na região do Languedoc pelos cátaros. Ali se ensinava ao povo uma doutrina de tolerância, que tratava a questão religiosa mais como forma de conhecimento ou enriquecimento espiritual, do que fonte de poder e controle do pensamento como fazia o Vaticano.  
 
 
  1. A doutrina que via Jesus como uma entidade espiritual e não como um deus encarnado, o filho de Deus, foi professada por muitas seitas cristãs nos primeiros séculos do cristianismo. Eram várias formas de doutrina mais ou menos parecidas, que defendiam a ideia de que a salvação só se atingia pelo conhecimento e não pela fé, como ensinava a Igreja católica. Essas doutrinas constituem o conjunto vulgarmente conhecido pelo nome de Gnose.
 
 
  1. A ideia de que a Ordem do Templo era, ao mesmo tempo, uma organização laica e iniciática fica clara nas atas do julgamento ao qual os Templários foram submetidos. Embora o Templo administrasse uma imensidade de interesses profanos, era o conteúdo espiritualista da sua doutrina que atraia os intelectuais da época. E era também esse conteúdo que incomodava a Igreja, pois tais ensinamentos, de caráter secreto, supostamente contrariavam aqueles admitidos pela Igreja como únicas verdades espirituais.
 
Literalmente, a palavra francesa beauséant significa estandarte. Mas para os Templários, além de ser o estandarte que eles usualmente portavam quando entravam em batalha, essa palavra era um grito de guerra. Uma tradição compilada por Weil (Biblical Legends, pag.70), diz que os exércitos de Alexandre, o Grande, usavam estandartes de cores preta e branca, sendo que o branco ia na frente do exército e o preto atrás. Era um simbolismo que significava o domínio que ele queria ter sob a luz e a sombra. Assim, ele era o Senhor da Luz e das Trevas. Dessa forma, seus estandartes, em preto e branco, eram símbolos da invencibilidade do seu exército. Essa mística também se refere aos Templários em relação ao beauséant, pois que esse grito de guerra estava conectado com a fama de bravura que eles adquiriram. Destarte a palavra beau (bom, nobre, virtuoso) e séant (assento), se refere ao logo templário que mostra dois cavaleiros sobre o mesmo cavalo. Essa regra de pobreza e virtude tomou o significado de santa aliança, verdadeira irmandade. O beauséant simbolizava exatamente as qualidades que São Bernardo tinha em mente para os Cavaleiros de Cristo, quando ele redigiu as Regras. Os Templários seriam os “guerreiros da luz”, como referido nos ensinamentos essênios, onde os soldados do Messias eram assim chamados. O simbolismo do beauséant fundamenta um dos graus filosóficos mais importantes da maçonaria do Arco Real e do Rito Escocês, denominado “Cavaleiro do Leste e do Oeste.” Por emulação, esse simbolismo de “filtrar” a luz está refletido no piso da Loja maçônica, que obrigatoriamente tem que ostentar um quadrilátero preto e branco. Esse quadrilátero simbolisa o beauséant do Templo maçônico