Relato sobre criaturas malévolas
Foi minha avó quem me alertou para os tstói. Nunca soube a grafia correta, mas a pronúncia era essa. Eles raramente apareciam de dia, mas à noite permaneciam rondando, sempre tramando algo ao redor, fugidios, esgueirando-se pelas sombras. Horrendos, nunca se deixavam fitar; mais fácil ouvir seus sussurros sibilantes, ou o farfalhar de seus movimentos furtivos. Nunca cheguei a ver um deles claramente, apenas pecebia a presença ameaçadora, especialmente durante as longas noites de inverno; longas, frias e amedrontadoras. Apenas uma vez...
Ao que me lembro, os tstói sempre estiveram ao redor; minha avó me contava que eles a acompanhavam desde a infância, que já a perseguiam na Rússia, onde havia nascido. Teriam vindo atrás dela no mesmo navio em que deixara a pátria, fugindo da revolução, com seus pais. Lembrava ter embarcado esperançosa, certa de que as criaturas ficariam para trás, esperança destruída já no início da viagem, na segunda ou terceira noite a bordo, enquanto ainda se recuperava dos fortíssimos enjoos iniciais.
A chegada trouxe leve esperança de que eles a deixariam, mas pareceram ganhar alento nas novas terras, mancomunados com a profusão de criaturas rastejantes que aqui habitavam. Aliaram-se às lagartixas e aos ratos, embora talvez temessem as corujas. Aqui tornaram-se mais petulantes, mais próximos, futricando objetos, roendo o rosto e as mãos das bonecas, deformando-as; recado aterrorizante de suas pretensões.
Vinham à noite, na hora de dormir, e permaneciam à espreita sussurrando. Sei como faziam, como ainda fazem, os monstrengos.
Horas antes de morrer, quando anoitecia, aterrorizada, minha avó me chamara ao quarto; já não podia falar, a respiração fortemente entrecortada, o olhar apavorado. Pediu-me que fechasse a janela, embora fizesse calor, temia o ataque. Sussurrava entre sopros profundos o nome das criaturas, cuja iminência eu havia deduzido de seu olhar assombrado. Implorou para que eu vasculhasse todo o quarto, revolvendo armários e roupas em busca dos seres malignos, mas nada encontrei. Na manhã seguinte ela estava morta; como as criaturas teriam conseguido entrar?
Questões como essa costumavam me assaltar a mente durante a noite. Costumava acordar sacodido por pesadelos intensos nos quais as estranhas criaturas sem rosto me cercavam, me imobilizavam magicamente. Tinham esse dom, podiam me paralisar, impedir meus movimentos e me deixar à mercê de intenções malévolas.
Então eu também permanecia à espreita, ouvindo seus murmúrios, tentando decifrar suas breves mensagens, adivinhar seus pensamentos, prontificar-me para a fuga. Não raro eu aguardava, desperto, o amanhecer, quando as criaturas finalmente desistiam do cerco e se iam.
Nessas longas noites, acabei por descobrir o plano dos horrendos seres: pretendiam me pegar indefeso, enquanto eu dormisse. Tentariam então me imobilizar, magicamente, me deixando à sua mercê, excitados pela vitória. Eu não ousava adivinhar o que viria depois, embora soubesse o que tinha ocorrido às bonecas de minha avó, e a forma como haviam sido desfiguradas, para se assemelhar a um deles.
A vida é irônica, imensamente. Quando cresci, as criaturas me deixaram em paz; devia ter 13 ou 14 anos quando, pela última vez, resisti a um cerco. Depois os anos se passaram sem mais nenhuma aparição, permitindo que me convencessem, estupidamente, de que as criaturas ardilosas eram apenas frutos de minha mente infantil e temerosa. Vivi muitos anos, para só agora aceitar o fato tão óbvio.
O vigor da juventude, o destemor, o arrojo dessa época afastou as criaturas, obrigou-as a manter distância, temerosas elas de mim. Não tinham pressa. Puderam se afastar, rir de minha descrença, e permitir que eu difundisse a mentira absurda de sua inexistência. Durante décadas, alardeei serem os tstói manifestações de mentes infantis e atemorizadas. Contribuí, ao longo de décadas, para negar o óbvio, para desacreditar os fatos vividos diariamente durante tantas noites. Como podemos ser tão absurdos? Como podemos negar fatos sentidos tão claramente? Sensações tão nítidas, tão repetidas frente a olhos e ouvidos tão atentos? Mas somos assim; não poderíamos conviver indefinidamente com terrores tão iminentes; tinha sido mesmo melhor ter fingido esquecer tudo aquilo, negar os fatos.
Não vinha dando atenção aos sons farfalhantes e sussuros que retornavam após tantos anos. Ontem, no entanto, quando já não conseguia me levantar da cama, uma das criaturas, finalmente, se revelou. Era noite e a escuridão imperava, e eu tornava a ouvir os mesmos antigos sons encravados em minha memória. Com que surpresa eu percebia tudo aquilo que eu negara tão peremptoriamente durante tantos anos. Primeiro os sons farfalhantes, as corridas fugidias que eu apenas vislumbrava, depois os sussurros cada vez mais audíveis:
– Ele está fraco, podemos nos aproximar.
Então um dos seres finalmente se mostrou, horrendo. Surgiu ao meu lado, o rosto enrugado, a pele como a de um jacaré. Consegui apenas movimentar meus olhos para fitar o sorriso medonho do rosto a pronunciar com sua conhecida voz sibilante:
– Amanhã; será amanhã.