pássaro
Ele deixou o nordeste seco como outros fizeram. Pensou rumar para a cidade Maravilhosa, queria abraçar Cristo Redentor... Voar alto, tornar-se gente...
Analfabeto, pouco sabia da malícia das grandes cidades, olhava tudo a sua volta, mas não iria desistir. Arranjou um bico numa construção e ali
começou sua construção: cabelo queimado pelo sol, parecia uma paisagem seca, quase deserto; os olhos se enchiam de terra, era a parte que lhe cabia desse latifúndio;as mãos cheias de calo pareciam as cascas de uma árvore seca; os pés traziam os sulcos de um rio seco, escondiam caminhadas imensas rumo ao mundo...
A mulher do chefe, gostosa e falante, seduz Severino. Ele passa a entregar tudo que ganha a ela. Em troca, ela permite que ele lhe faça alguns carinhos, pois é senhora séria.
O feitiço de Safira obriga o a fazer mais horas extras para poder desfrutar de uma noite com ela. Cada minuto naquela construção passa lentamente, o dinheiro é pouco. Como fazer para ter o dinheiro que ela
quer?
Alucinado pela mulher, resolve aceitar uma parada vai com um chapa fazer um servicinho: vender cocaína. Fica junto a Cristo Redentor, os visitantes vão e vem, os mais chegados, entendem o gesto, aproximam-se discretamente e levam o produto...
Empolgado com o resultado do trampo, ele abre os braços e voa livremente como um pássaro.