A MALDIÇÃO DE MIA

Matem a bruxa. Matem ela.

Gritou um dos habitantes do vilarejo que a perseguiam floresta adentro. Rostos impiedosos e enfurecidos.

Dezenas de pessoas segurando suas tochas e lampiões e tudo o que fosse útil para perfura-la, corriam em meio à escuridão da floresta. Bem em frente, podiam ver sua fonte de luz serpeando por entre as árvores enquanto a feiticeira tenta escapar.

A velha Mia corria o mais rápido que a idade permitia. Uma mão segurava o lampião acima da cabeça denunciando suas rugas pelo rosto, e a outra a barra da saia, ou seja o que for aquilo que estava vestindo. Vez ou outra olhava para trás, vários pontos alaranjados espalhados pela floresta se mexiam freneticamente.

Mia avistou um moinho bem em frente em uma pequena colina, as árvores acabavam ali formando uma linha quase perfeita.

Ela correu até ele, lá do alto viu os pontos laranja se transformarem em pequenas pessoas. Sabia que era o fim da linha e ali naquele moinho Mia fez o seu último ato de bruxaria.

Lá está ela. Morte a bruxa. Gritou histericamente uma mulher enquanto apontava o dedo para a feiticeira.

Mia olhou pela última vez por cima dos ombros para os habitantes do vilarejo antes de entrar, olhos turvos e sanguinários. Posicionou seu lampião ao lado da porta e barrou-a com um pedaço de madeira. Ela desenhou um símbolo no chão, algo como um pentagrama. Posicionou-se no centro dele e sentou e fechou os olhos. Dos seus lábios secos e rugados estranhas palavras foram ditas aos sussurros.

Ouviu as vozes exaltadas do lado de fora, pancadas na porta. Mas não foi o suficiente para tirar a sua concentração.

Os habitantes do vilarejo jogavam suas tochas sobre o moinho e no mesmo instante gritavam suas desavenças para a feiticeira.

O Moinho arde em chamas. As labaredas alaranjadas consomem a madeira envelhecida rapidamente.

A estrutura começa a ceder. Mia logo estará queimando junto com o moinho, mas o seu ritual está terminado. Ela abre os olhos e se levanta com dificuldade, suas juntas se estalam. A feiticeira sente o calor, o cheiro nauseante de querosene. As vozes continuam a gritar incansavelmente. Ela pega o seu lampião volta a ficar no centro do circulo e diz suas últimas palavras.

Eu os amaldiçoo.

Mia quebra o lampião em seus pés e muito rapidamente é consumida pelas chamas. Ela sente o cheiro de carne queimando se misturando ao embaçante cheiro de querosene. Bolhas grotescas aparecem em seu rosto e mãos, ela grita expondo seus dentes pretos e estragados. Sente suas unhas e cabelos derreterem. Repete seus ritos finais em plenos pulmões e queima até cair morta dentro do símbolo.

É o fim para Mia, mas o começo de uma vida de horror e medo para os habitantes do vilarejo.

Sua maldição cai sobre eles com uma enxurrada de acontecimentos inexplicáveis como desaparecimentos, mortes misteriosas de pessoas e animais e incêndios que, aparentemente, se iniciam sozinhos.

Com medo os habitantes aos poucos abandonam suas humildes casas até que o vilarejo se torna um lugar fantasma, inabitável. Mas Mia continua lá, em algum lugar.

Jack The Ripper
Enviado por Jack The Ripper em 21/11/2013
Código do texto: T4580574
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