Esquizofrenia

Eu estava sentando na rodoviária quando vi a criatura desce do ônibus e se dirigir para a lanchonete. Ela passou por mim sem me notar. Eu fingia ler um livro, mas acompanhava seus passos. Pude ver suas garras e seus dentes salientes. Senti seu cheiro ruim e azedo ao passar por mim.

O incrível é que ninguém notava nada. Todos continuavam seus afazeres.

Como eu não queria ter esse dom. Eles estavam em todos os lugares. Ninguém iria imaginar que aquela moça bonita poderia ser um deles?

Eu sabia o que tinha de ser feito. Era meu trabalho.

Pude ver que ela foi até a lanchonete. Pediu um refrigerante, e saiu. Mas pude ver como ela olhava para as pessoas, tentando fazer novas vítimas.

Eu tinha de impedir.

Ela passou por mim novamente se me notar.

Atravessou a rodoviária em direção à ponte de ferro. Deixei que ela se afastasse um pouco e me levantei para segui-la. As pessoas continuavam agindo como se nada estivessem acontecendo.

Sai rapidamente para não perder a criatura de vista.

Ela andava a passos rápidos. Sabia para onde iria. Apressei os passos.

Alcancei-a bem sobre a ponte de ferro para pedestres.

Ela parou e ficou me esperando.

Seus olhos vermelhos eram de ódio. Ela sabia que não podia fugir.

Me aproximei. Ninguém na rua e nem por perto. Era a situação que eu precisava para agir.

Abracei-a apesar da criatura oferecer resistência. Cravei um punhal em sua nuca e a joguei dentro do rio.

Ninguém por perto. Só o vento, as árvores e o rio.

O rio que levou o corpo. O vento que espalhou o cheiro forte. E as árvores que viram mas não iriam contar a ninguém.

Atravessei a ponte. Não me encontrei com ninguém. Dei a volta no quarteirão e voltei para a rodoviária.

Permaneci sentado ali por algum tempo.

Tudo normal. As pessoas inocentes não corriam mais perigo. Por enquanto.

Hora de voltar para casa. O onibus sai daqui a pouco.

É uma viagem cansativa, quase duas horas de viagem até em casa.

Gosto de ver minha coleção de recortes de assassinatos de jornal.

Como podem fazer isso. Alguém precisa parar isso.

No dia seguinte o jornal da pequena cidade tras a notícia terrível:

" Jovem é estuprada e brutalmente assassinada. Seu corpo foi encontrado por transeuntes enroscada às margens do rio que corta a cidade. Não há pistas."

O homem de corpo magro e terno preto está sentado em outra rodviária, outra cidade.

Ele sabe que as criaturas vão estar lá também. Ele está atento.

Muitas pessoas descem de ônibus vindo de muitos lugares distantes.

Ele aguarda pacientemente...

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 04/11/2013
Código do texto: T4556810
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