“O silencio”

Dedico este conto ao Julio Cesar Dozan e a Zeni Silveira e aos amigos leitores.

Quando eu tive a sensação de estar só, ouvi apenas meus pensamentos, embora calados, muito me diziam. Coisas assustadoras, tipo; você é um inútil, enfia logo uma faca no peito e se mata, desiste de tudo, a vida não vale à pena, as pessoas não gosta de você, você é um solitário inútil, um ser sem graça. Às vezes tenho a sensação de estar falando pras paredes, mas por vezes, elas me respondem, e suas respostas me levam a loucura, às vezes me afogo num silencio, de tão calado; que me tortura a fadar no caminho do terror que me causa, o silencio.

“O silencio”

Sábado a noite, na Televisão passa um filme na sessão super cine, “Os Embalos de Sábado à noite”, cara, como eu gostaria de ser como John Travolta.

Ele é carismático, lindo, por certo as mulheres o desejam com loucura, com paixão.

Levantei para ir ao banheiro para dar uma urinada, a bexiga tava estourando, desde o fim do jantar, eu ainda não tinha ido ao banheiro, minha nossa, o filme é comprido, pensei que não ia entrar o comercial, bem, se não entrasse, eu ia mijar no pijama, mas do filme eu não iria me desligar.

Ao me olhar no espelho, comecei a pentear meu cabelo pra cima, eu tinha a ilusão de me sentir igual ao John, mas nada em mim lembra o ator, eu não tenho olhos claros, não são fartos os meus cabelos, têm rugas em volta dos olhos, não sou alto, eu tenho apenas 1, 64 de altura, sou muito branco, que merda, eu não sou nada! Com o silencio no bairro por já ser tarde da noite, do banheiro ouvi o fim do comercial, voltei logo, me sentei no sofá, peguei o potinho de pipocas frio, o coloquei no colo e fitei com toda a atenção meus olhos na tela da TV, aquele mundo colorido me encantava, a rebeldia de Toni, vivido por John Travolta, minha nossa, aquilo me levava a uma viagem, tinha momentos no filme que eu pirava, que loucura cara.

Quando terminou o filme, eu não me conformei.

Agora é hora de dormir, amanhã será um novo dia, embora eu não tenha nada para fazer, preciso dormir.

As horas vão passando, a insônia toma-me por tortura nada me conforta nada me faz dormir.

Olho o relógio na parede do meu quarto, já passa de três horas da madrugada.

Ligo um radinho na cabeceira da cama, e ouço uma musica a musica que tocava no filme do super cine.

O silencio agora já é interrompido pelas vozes que ecoam em meus tímpanos, são vozes que me convidam a sai de casa e me arriscar numa aventura louca.

Fui ou meu guarda roupas, peguei meu sobre tudo, uma touca de lã preta e luvas, meu carro não pegou na partida, o deixei lá na garagem e sai a caminhar madrugada a fora, aquela voz feminina ecoando em meus ouvidos, ela me convidava a executar uma tarefa; - vê? Vê aquela mulher caminhando, ela é uma vagabunda, uma prostituta, vai lá, mata ela, enfia esta faca que esta ai no seu bolso no pescoço dela.

A moça a me ver sentiu que recuava por certa cautela, quatro horas da madrugada, estava frio na rua, garoava, num instante ela adentrou a uma viela, aquela voz continua; - vai, vai logo, você vai ficar famoso, mata ela.

Eu a persegui, ao me aproximar; - hei moça, para de fugir, eu não quero nada com você. Mas ela não me ouve e corre me irrito; - o sua vaca, para logo, você vai morrer agora, só porque pensa que é a gostosona.

Corri, corri e a alcancei, num só golpe de faca a degolei, ela cai no chão, neste momento minha consciência se recobra, minha nossa.

O que eu fiz? Porem, não avia ninguém pra me ouvir, a voz que antes me motivava a tal ato, silenciou dentro de mim.

Depois disso uma serie de crimes, mortes de pessoas que morriam inutilmente por minhas mãos.

Tudo isso por causa de uma solidão mórbida que me assolava. Mais uma noite, sai na rua e de longe um homem alto, com um capus sobre a cabeça, uma roupa preta suja cobrindo o corpo me observa, eu confesso que senti medo, mas assim como eu, ele também me observa em silencio.

Com um gesto ele me chamou, fui ate ele e vi que as pessoas em nossa volta não o percebia, eu me diverti com isso, comecei a falar com ele, o silencio se rompia por alguns momentos, minha voz ecoava nos ouvidos das pessoas, embora, eu falava sozinho.

Segui aquele espírito estranho que me conduziu a uma casa velha e grande no final da rua.

Sem perceber, vim parar no manicômio por aquele infeliz que era oculto aos olhos alheios, mas tão presente pra mim.

A, este vento gelado, me esfria o rosto, me esvoaça o pouco de cabelo que me resta, agora; estou aqui neste banco nu, estou de olho naquele portão velho de madeira, tem hora que ele parece se abrir, mas não é pra mim.

Meu passado se apagou da minha memória, apenas falo com meus fantasmas, cada um com rosto diferente, mas tão calados, apenas nossos olhares perdidos se comunicam, eu morri em vida, neste silencio maldito.

Tão confuso quanto estes rabiscos que eu escrevi.

FIM

Prezados amigos, neste conto escrevi a historia de vida de alguém que vive sem memória, sem nome, sem vida própria a não ser um silencio que de tão calado, vai vida a fora como a uma folha seca ao Leo.

Joel Costadelli
Enviado por Joel Costadelli em 31/10/2013
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