Sacrifício
O medo é o pai da moralidade
Friedrich Wilhelm Nietzsche
 
            -Você acredita em sacrifício? – Perguntou Amanda.
            Paulo estava deitado nu, parte daquele momento se perdeu depois do sexo inútil, sem glamour, sem amor, ele ficava tonto, vazio, talvez fosse um erro estar ali?
             Assim à pergunta não foi bem compreendida, nem conversa alguma  seria, a cabeça de Paulo que flutuava para fora dali antes dele, estava segura relembrando outros momentos, aquilo ocorria sempre naquela relação, porém deu uma resposta para que a namorada não ficasse chateada.
            -Claro, a vida não é plena sem sacrifício – disse e rolou na cama para ver o corpo da jovem por quem sentia atração, mas não se apaixonou como ocorreu com Helena, o homem maldito condenado a viver longe de quem ama, assim Paulo sentia-se. Amanda o fez lembrar e teve ódio.
            -Não digo esses Sacrifícios seu bobo! Estou falando dos sacrifícios antigos, aquele que Deus pediu a Salomão, e que foi eternizado nos filmes, os sacrifícios de matar galinhas, carneiros e até pessoas, sabe, esse sacrifício a um Deus, sei lá ou a um demônio? – disse Amanda e olhava para fora do pequeno apartamento.
            -Sinceramente... – ele fez uma pausa – não sei o que isso tem com o nosso momento, parece um assunto meio sem pé nem cabeça.
            -Que assunto nós vamos falar? Porque depois que você goza, parece que eu tenho lepra, e o único assunto é que tem que ir embora, que tem alguma merda para fazer na empresa, não foi assim com Helena até que ela deixou você, eu não estou aqui, sei que quando estamos na cama você fica sonhando, acho que não faz amor comigo, você se relaciona com uma mulher que está dentro da sua cabeça, eu não me importo, pois ao contrário de Helena, não vou deixar você.
            -Que coisa mais idiota, poderíamos não falar na Helena?
            -Claro, Helena é um tabu, sabe tenho uma surpresa para você.
            Ela tinha um corpo maravilhoso, ele até gostava do sexo com Amanda, porém não tinha a beleza, nem a credibilidade que ele desejava em uma mulher. Uma parceira para a vida toda tem que ser única, Amanda era vulgar, quatro amigos da empresa já haviam saído com ela, extrovertida e pouco comprometida com a vida. No inicio Paulo percebeu que Amanda não saberia amar, ela seria uma pausa no amor verdadeiro, uma paixão sexual para que esquecesse Helena.
            -Sabe que estudei esse tema: Sacrifício, o ritual que é bacana, o sacrifício faz com que a gente acredite na vida, na nossa crença – ela se levantou mostrando as curvas de fêmea, gasta pelas inúmeras relações, por tantos amantes, pelo diagrama da vida libertada pelo sexo. – Eu tenho uma surpresinha.
            Ela pegou uma fita de vídeo e colocou para passar, havia tempos que Paulo não assistia a um vídeo, nem queria mais estar ali, certamente ver um vídeo.
            -Não posso ver esse vídeo agora, acho que a nossa relação foi um equivoco.
            -Para você foi bom o sexo? Eu é que não tive nada, quero que fique e olhe, pela ultima vez, você é bonito, tem um bom beijo, mas é egocêntrico, péssimo para as mulheres, pensa só em você mesmo, até aí é igual à maioria dos homens, posso pedir para que fique? Pelo menos uns instantes?
            Paulo concordou coma a cabeça, que já doía, não lembrava muito bem como havia conhecido Amanda, em um evento da empresa. ”E que coisa chata, porra, homem pensa com o pau”, pensou se acomodando na cama, já parcialmente vestido, entediado.
            Ela colocou o vídeo, no começo ele não quis prestar atenção depois percebeu que era um trio, Helena, Amanda e um cara, um barbudo, eles estavam fazendo sexo, Paulo ficou em silencio, queria terminar de ver a cena, perplexo perdeu a fala, o ambiente era mórbido, atrás do trio um altar, um homem de preto assistia a tudo, parado, duas figuras sombrias, ficavam de cada lado, seguravam uma vela.
            O sexo explícito paralisou Paulo.
            Amanda segurou o homem pela perna e Helena cortou o seu pescoço com uma faca, sangue jorrou do pescoço do pobre homem e todos beberam, em uma loucura coletiva, bizarra.
            -Isso é um truque? – Disse Paulo – você está de brincadeira, isso é um truque?
            Uma mulher saiu do banheiro, ela segurava uma faca prateada e disse.
            -Não meu caro é um sacrifício.
            Paulo tentou correr, como uma força absurda Amanda prendeu os seus braços, então lentamente figuras negras entraram no quarto pela porta da frente, começaram a montar um altar.
            
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 30/10/2013
Reeditado em 30/10/2013
Código do texto: T4549126
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