O céu estava carregado de nuvens escuras num prenúncio de mau presságio. Alaor parou o carro pela décima vez. Não conseguia reconhecer o lugar onde estava. Já era para terem chegado há muito ao sítio dos avós. A estrada de terra se parecia com qualquer outra. Cercada de vegetação, e pequenas pedras por todos os lados. Sara sua esposa cochilava tranquilamente indiferente á preocupação do marido. A gravidez a deixava sonolenta. Cansado de rodar a ermo, Alaor decidiu pedir ajuda em um sítio próximo onde vira luzes acesas. Deixando a esposa no carro ele se encaminhou esperançoso, em direção á casa. Do interior da residência vinha o som de uma música estranha, entoada em voz feminina. O moço bateu palmas, e segundos depois a porta foi aberta por uma senhora idosa. A aparência da mulher era estranha. Seu rosto era coberto de verrugas, e os olhos saltados. Alaor disse que se perdera e buscava informações sobre o sítio dos avós. A mulher ao ouvir o nome do sítio, empalideceu e gritou por alguém dentro da casa. Um homem também idoso acompanhado por mais quatro pessoas um pouco mais jovem que ele, surgiu no alpendre. Esse senhor perguntou se o rapaz estava sozinho, e ao ouvir que a esposa do mesmo estava no carro, ordenou que uma senhora fosse buscá-la. Explicou que por ali havia coiotes, e que a mulher corria perigo. Alaor voltou a perguntar sobre os avós, mas ninguém lhe respondeu. Caminhando lentamente devido à gravidez avançada, Sara se juntou ao marido aborrecida. Não gostara nada da maneira como a mulher que fora buscá-la alisara-lhe a barriga, e menos ainda do jeito que aquelas pessoas estranhas a avaliavam. Começou a temer pela vida do filho. Foram convidados a entrar na casa e arrepios de medo percorreram seus corpos, ao adentrarem. Dois caixões abertos estavam em cima de uma mesa, e dentro deles jaziam os avós de Alaor com as cabeças totalmente raspadas. O rapaz chorou durante um tempo e em seguida quis saber do que morrera os avós. A mulher que o atendera na chegada, falou que eles moravam um pouco mais adiante e que foram encontrados mortos naquela manhã por um empregado. Alaor questionou a falta de cabelos, e foi informado que isso não poderiam explicar. Foram encontrados assim. Os recém chegados foram convidados a ficar e participar do velório. Sara estava cansada e enjoada e ofereceram um quarto para que repousasse. As horas foram passando, e esgotado da viagem, Alaor foi se juntar a esposa e logo caiu em sono profundo. Acordou horas depois com o gemido de Sara. Acendeu a luz e ao olhar para a mulher gritou de desespero. A barriga dela fora aberta e o bebê retirado. Com os olhos vítreos de dor Sara gemeu ainda alguns minutos e faleceu. Desorientado Alaor foi á sala em busca dos culpados, mas a casa estava deserta. Somente os caixões continuavam sobre a mesa, mas agora estavam vazios. Alaor percorreu todos os cômodos e em um deles encontrou uma faca suja de sangue, e uma pequena banheira azul. Sem pensar no que fazia, ele ajoelhou e esfaqueou o próprio coração. Do lado de fora da casa às pessoas que ele encontrara no sítio, incluindo os defuntos carecas, sorriam enquanto observavam o recém nascido ser amamentado por uma cadela negra.