UMA ESTRANHA ESTÓRIA REAL
Eu coloquei na categoria Terror, mas não sei ao certo se posso caracterizar o que aconteceu comigo como tendo sido algo de terror, mas que foi um tanto assustador, ah! lá isso foi!
Até os meus trinta e tantos anos, quando do falecimento de algum parente, eu costumava passear entre as campas - não mencionei enterro de amigo, porque até os quarenta e alguma coisa, a chance de ir ao enterro de um amigo é muito pequena. Então, voltando à estória, gostava de passear entre os túmulos e me distraía lendo as lápides ou placas colocadas sobre as sepulturas. Uma coisa que observei e não sei se é coincidência, mas na maior parte, o período entre o nascimento e a morte da pessoa, não ultrapassava dois meses. Tentei encontrar alguma correlação nisso, mas nada consistente encontrei.
Além dos dos enterros de parentes, costumava ir ao cemitério para visitar o túmulo de uma prima minha querida e que havia morrido muito jovem vitimada por esclerose múltipla. As visitas se davam no dia de seu aniversário. Quando a data caía num final de semana, procurava antecipar a visita para um dia da semana. Assim, fui ficando bastante familiarizado com as sepulturas e os enterrados naquele cemitério. Passeava com total tranquilidade entre as campas altas e mausoléus. Era um cemitério árido, com poucas possibilidades de sombra por causa da pouca quantidade de árvores. Pouca quantidade de árvores, significa pouca quantidade de pássaros, fazendo com que o local seja, realmente um lugar de repouso dos mortos, diferente dos cemitérios-parque atuais onde há muito verde e pássaros, dando ao local muita vida e suavizando a dor daqueles que lá enterram seus entes queridos.
Pois bem, num desses meus passeios exóticos, resolvi fazer um caminho entre os mausoléus próximos às capelas onde os corpos eram velados, um lugar de onde já se podia avistar as pessoas nas capelas. Era um início de tarde muito quente. O cemitério ficava localizado numa área, normalmente, quente, que é a região do Caju, aqui no Rio de Janeiro. Estava passeando por quase uma hora e já iniciava o meu caminho de retorno à capela onde estava sendo velado o corpo de um parente, esqueço, agora, qual o grau de parentesco. A ala que eu percorria era ladeada à esquerda por mausoléus de aspecto de abandono, uma aparência lúgubre. Uma vista nada agradável. Estava quase chegando ao final da estreita alameda e a alguns poucos metros da entrada das capelas, quando comecei a sentir uma certa pressão sobre mim. Os meus passos começaram a ficar pesados. Sentia-me um tanto estranho, como se algo tentasse bloquear-me o caminho, mas não me importei com isso e tentei seguir à frente. Repentinamente, no mausoléu à frente poucos metros de mim, menos de cinco metros, escutei barulhos de bater de asas dentro do sinistro jazigo. Assustei-me um pouco, mas racionalizei acreditando que deviam ser pombos em seu interior. Assim, dei mais um passo à frente, mas não consegui dar o segundo, pois algo como uma barreira de energia não me permitia prosseguir. Insisti por alguns segundos, mas a energia existente no local bloqueava-me o caminho. Prudentemente, desisti de prosseguir e recuei. Rapidamente, procurei afastar-me do mausoléu e daquele local, entrando pelas passagens entre as sepulturas, até fazer o retorno em direção às capelas. Bastante aturdido com o que me havia acontecido cheguei ao local onde o meu parente era velado, sentido-me mal, confesso. Estava pesado. Não comentei nada com ninguém sobre o que havia ocorrido. Participei do restante do enterro e fui embora.
Não voltei mais ao cemitério sem a necessidade de uma última homenagem a alguém querido ou conhecido. No dia de aniversário de minha prima faço-lhe uma oração, apenas. Mas, o meu gosto por passeios em cemitérios cessou por completo.
Este é um acontecimento real ocorrido há uns 20 anos. Foi uma experiência muito estranha. Sempre considerei cemitérios como locais de muita paz, os que estão ali em repouso não podem nos fazer mal, mas alguns, agora, percebo, podem nos assustar e muito.
Um grande abraço