Após a Morte
Comecei a perceber que havia algo estranho comigo quando botei os pés para fora do aeroporto de Nova York, em pleno inverno, e não senti absolutamente nada.
Vim do Brasil para passar 6 meses na casa de tia Emma, e quando embarquei o calor do Rio era infernal. Como não sabia muito sobre o clima dos EUA e não estava acostumada com viagens repentinas, pensei que aqui em NY o tempo não fosse tão diferente. Mas estava enganada, afinal era inverno, estava nevando e as pessoas nas ruas andavam com casacos enormes e pesados.
Eu estava confortável com meu vestido florido e meus tênis, simplesmente não sentia frio nem calor, e não queria colocar uma roupa mais pesada. Então não me preocupei em me trocar e nem em parecer uma louca suicida no meio de tanta gente friorenta.
Apenas fui andando até a casa de tia Emma, não era tão longe do aeroporto e eu queria conhecer um pouco da cidade. Também estranhei o fato de eu não me sentir tentada a parar em uma das inúmeras starbucks e pedir um brownie e um cappuccino, não comia nada há 12 horas e não estava com fome nem sede.
Minha mochila e minha mala estavam pesadas, e as pessoas agiam como se eu simplesmente não estivesse ali, como se eu fosse... invisível. Mas não estranhei isso, havia visto alguns vídeos de brasileiras que fizeram intercâmbio para lá e algumas disseram que os americanos não são muito calorosos, também não importava.
Finalmente cheguei à casa de tia Emma, sem me sentir cansada. Estava ansiosa para vê-la depois de 5 anos, por isso tratei de subir logo em sua varanda e tocar a campainha. Alguns segundos depois tia Emma abriu a porta, com lágrimas nos olhos.
Estava bonita. Vestia jeans, um sobretudo bege, botas e um gorro, que cobria metade de seus cabelos curtos e castanhos. Seus olhos estavam inchados e ela parecia enxergar através de mim, em uma das mãos ela carregava um lenço de papel molhado por suas lágrimas.
- Quem é? - gritou, com a voz oscilante. Olhou ao redor de sua casa e bateu a porta com força.
Fiquei chateada, por que ela estava me tratando assim? Me sentei em sua varanda e então me lembrei: quando estávamos quase chegando, algo parou no avião e ele explodiu, matando o piloto, o co-piloto e todos os passageiros. Eu morri.