Sete Dias de Luz

A Escuridão era absoluta. Ouviam-se lamentos,berros desconexos. Tocavam-se e assustavam-se mutuamente. Confundiam-se em meio à escuridão. Estavam perdidos. Alguns não agiam mais com a razão. O despertar sempre era confuso. Contudo, naquele momento seria mais uma vez diferente. Uma atmosfera de elevada vibração tomou de arroubo o ambiente,onde estava determinada alma sofredora. Ouviu-se uma voz,um nome:" Joana".

Todos foram se acalmando. Silenciaram-se. Alguns sentaram-se no chão frio. Outros, ajoelharam-se,e ali naquele momento sentiram um raio de luz que surgiu do nada e iluminou os seus rostos que traziam os sinais da dor,do sofrimento. Na escuridão reinante, ter um pouco de luz era uma premiação que não tinha preço. Olhavam-se,tocavam-se,acalmavam-se.Conversavam.Riam,choravam.Arrependiam-se dos seus crimes praticados. Despertavam para a fé. Os mais rebeldes se afastavam.Debochavam da Luz oferecida.

- Teremos Luz por sete dias.

- Oremos...vamos pedir perdão a Deus...

Silenciaram.

A Luz interior brilha por boas ações praticadas. A iluminação deverá vir de dentro para fora.Alguns o conseguem,contudo, quando esta chama não brilha,há de a Providência Divina criar uma forma de que a semente seja plantada,seja de que modo for,ela virá.

De longe podia se ver a cinematográfica cena. Dezenas deles de cócora,tendo no centro uma luz que os iluminava. Parecia ser a chama volátil de suas vidas. Era visível o sorriso nas faces de alguns,o brilho nos olhos em outros. O conforto em muitos. A esperança em todos que ali faziam a adoração à Luz,por Sete Dias teriam àquela luminosidade. Rompido o silêncio,de boca em boca soava o nome: "Joana.. Joana...Joana...Joana...Joana...Joana...Joana".

Joana saiu andando pelo bairro Guarany até á Liberdade,depois ao largo da Calçada.Uma caminhada longa. Reclamava da administração pública,dizia: " o plano inclinado por mais de dois anos quebrado,agora o abandonaram de vez". Tinha apenas o dinheiro da compra do objeto desejado. O preço do transporte público estava pela hora da morte. Teve que andar mais de um quilômetro,por sorte o dia estava úmido.Era inverno.

Entrou na Feira de São Joaquim, e ali na casa de produtos para candomblé Dona das Águas procurou o produto que desejava comprar. Ao se aproximar do balcão se decepcionou com a resposta do balconista Rique: " não temos velas Sete Dias,não chegaram".

- Minha nossa,menino.Onde posso comprar uma vela Sete Dias?

- Ali, em Dona Judite.

- Aonde?

- Aqui do lado.Vire á esquerda,a terceira barraca do lado direito.É uma senhora baixinha,moreninha.

Joana estava ansiosa. Os passos foram apressados,logo se dirigiu para a outra barraca.

A barraca de Judite era repleta de produtos voltados para o Candomblé. Tinha de cofrinhos de barro de moeda,no formato de porco a folhas voltadas para o banho de descarrego.Joana esperou um outro freguês comprar alguns exemplares de acassás,que são vendidos envoltos em palha de bananeira e são utilizados,também para o descarrego.

- Senhora quero uma vela Sete Dias,tem?

- Tenho minha filha...

- Quanto custa?

- Sete Reias..

- Minha nossa,senhora. Eu trouxe,apenas cinco Reais.

Joana fez um muchocho na sua expressão facial. Lágrimas brilharam em seus olhos. bateu o pé no chão,demonstrando descontentamento,o corpo todo mexeu.

- Pode levar,outro dia,quando voltar aqui você pagará o restante.

- Poxa, obrigado,senhora. Juro que trarei os dois reais restantes...

Joana aguardou a senhora embrulhar a vela numa folha de jornal. Voltaria andando,com paciência.Teria que subir e descer ladeiras e algumas escadarias,até que chegasse no bairro Guarany, onde morava.

reclamou a sua mãe ao observá-la,entrando com a vela Sete Dias na mão.

- Bobagem,bobagem essa sua. Quem não presta vive na escuridão,pronto e acabou.

- Mas mainha,era meu irmão...

Luciano tinha dezesseis anos. Envolveu-se com drogas.Depois formou uma quadrilha com alguns maus elementos juvenis do bairro e passou a fazer alguns assaltos. Segundo a polícia era o autor de alguns homicídios. matava rivais,desafetos e algumas vítimas nos assaltos.

- Imagine o seu esforço em vão. Juntar centavo a centavo até fazer o valor desta vela,e ter que ir andando daqui do bairro Guarany à feira de São Joaquim...

- Eu quero dar Luz para o meu irmão...

- Bobagem. Uma vela é uma vela,nada mais...Quem morre na escuridão,viverá na escuridão. Como pode ser boba a ponto de acreditar que acender uma vela dará luz a uma pessoa má?

- A mãe Ninha,que é Babalorixá falou que ao acender uma vela para o morto,vale a intenção e a Luz chegará a ele.

- Ja te disse para deixar essa coisa.Vamos para a igreja.

Joana afastou-se.Procurou o fósforo na cozinha. Escolheu o seu quarto,e ali,após assentar a vela num prato fundo acendeu a vela. Ajoelhou-se e fez a oração.

" Mãe Ninha, mainha diz que: "a luz de vela de nada adianta. Quem ganha com isso é o fabricante de valas e os comerciantes de produtos para a religião,caso não se tenha fé inabalável"-Ela falou assim,ainda:

" Ora, querida, tendo fé,todos ganham.Acredite na sua Luz,não na luz da vela se é que me entende...Os mistérios são muitos. Não percebe que a fé não so move o comércio,move montanhas.É a luz da vela que acende a sua luz até os necessitados que vivem na Escuridão.Não se importe com opiniões,contrárias.Tendo fé,faça sem apelar para a razão."

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 17/09/2013
Reeditado em 04/02/2016
Código do texto: T4486175
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