Amor ou loucura ? DTRL12
Nunca pensei que pudesse presenciar algo tão macabro. Meus vinte anos de experiência como policial me deram nervos fortes e um estômago de ferro. Pensei que fosse capaz de suportar as mais horríveis imagens, mas não era bem assim.
À primeira vista, a casa parecia como outra qualquer, com um jardim na frente, garagem e até um cachorro preso no quintal. Naquele momento, o que a diferenciava das demais era a quantidade de pessoas alvoroçadas que tumultuavam a porta de entrada e o ar macabro que pousava ao seu redor, indicando que algo horripilante havia acontecido ali.
Com alguma dificuldade, consegui adentrá-la. Em seu interior, senti um odor já bastante conhecido por mim. Era como se tudo aquilo fosse familiar. Mas não era. Antes de entrar no quarto, respirei fundo e enchi o peito de coragem. A porta havia sido arrombada por meus companheiros e tombava ao lado. Meus olhos percorreram toda a cena. Havia dois corpos. O primeiro, que prendeu mais minha atenção, estava suspenso. Ao chegar mais perto, pude perceber os detalhes sombrios daquela morte. Presa no teto, uma corrente grossa, de um ferro já bastante enferrujado, erguia o corpo imóvel de uma mulher. Um gancho estava cravado por baixo do queixo do cadáver. O sangue era abundante. Todo o corpo banhado. Escorrendo pelo chão, o líquido rubro chegava aos pés do outro defunto. Este, estirado em uma poltrona, pendia a cabeça para trás. Com a boca entreaberta, os olhos semicerrados, parecia dormir um sono tranquilo. Porém, ao me aproximar, percebi a queimadura de pólvora em seus lábios e uma mancha enorme de sangue por trás de sua cabeça. Na mão esquerda, uma carta. Na direita, a arma, ainda quente e fumegante.
No quarto, tudo estava em ordem. Não havia sinal de luta. Num armário, roupas finas e bonitas indicavam a existência de pessoas vaidosas ali. As fotos e quadros, sempre de uma mesma mulher, denunciavam a obsessão de alguém. A cama, bem arrumada e quieta, parecia querer se esquivar de sua óbvia cumplicidade.
Pobre casa. Única testemunha dos limites da demência humana.