Criaturas da noite

Nunca saia para fora depois que as portas forem trancadas ao cair da noite.

Todas as vezes que eu ia passar uns dias com meus primos, eu ouvia minha tia dizer isso todas as noites.

O principio era bem simples, ela acreditava por tradição e por ensinamentos passados de geração para geração que existiam criaturas da noite, e que essas criaturas, quando as pessoas trancavam as portas ao cair da noite, saiam de seus esconderijos e ficavam a vagar pela noite escura.

E que se pessoas desavisadas saissem para foram, seriam molestadas por elas.

Pois as criaturas da noite se achavam invadidas em seu direito de propriedade.

Elas eram as criaturas da noite e podiam fazer tudo o que quisessem na noite escura.

Bem, não sei se meus primos acreditavam nessa lenda, mas o fato é que ninguém saia depois que as portas eram trancadas. Era sagrado o ato de passar as chaves nas portas.

Se as criaturas da noite haviam pego alguém, era um fato que nunca teve espectador.

Creio que era mais uma história pra masnter as pessoas dentro de casa, principalmente os jovens.

Certa noite, quando minah tia repetiu as instruções sobre não sair para a noite escura, sem querer acabei soltando um riso abafado.

Ela me encarou, e pude ver medo em seus olhos já cansados. E me disse:

- Sinto que você não acredita nisso, não é garoto? Acha que é só uma lenda. Uma história inventada por pessoas criativas? Pois bem, essa noite...essa noite você saberá com certeza, entrarei em seus sonhos e te mostrarei a verdade.

E com um sorriso sinistro no canto dos lábios me disse: boa noite.

Senti um arrepio e fui para o quarto onde meus primos já estavam se ajeitando para dormir.

Rapidamente me enfiei embaixo das cobertas, como se me escondesse de algo.

Fiquei um longo tempo com os olhos abertos apenas ouvindo a respiração de meus primos que já haviam adormecido.

Fechei os olhos e procurei pelo sono que não vinha. Aos poucos fui sentindo um peso nos olhos e adormeci, ou foi o que me pareceu acontecer.

Porém, de repente me vi em pé saindo do quarto e me dirigindo á porta da cozinha que dava acesso ao quintal.

Sabia que estava trancada e que não deveria abri-la. Olhei para trás e via minha tia parada, encostada ao batente da porta usando sua camisola e seus bobes nos cabelos.

Ela me fez um sinal com as mãos como se dissesse:

-Se não acredita mesmo, então vá lá fora.

E continuava a me olhar fixamente.

Me virei e caminhei até a porta, virei a chave devagar. A escuridão pareceu se arrastar para dentro da cozinha, trazendo consigo um ar gelado e um cheiro ruim.

Estava muito escuro lá fora, mas eu não via nada.

Quando dei por mim estava no quintal. Ali parado na escuridão.

Comecei a ouvir gemidos e grunhidos. Sabia que as criaturas estavam lá, elas existiam.

Eram muitas. Criaturas horríveis. Nojentas. Não pareciam humanas.

Fizeram um círculo à minha volta. Falavam entre si e uma lingua estranha. Suas vozes eram agudas, abafadas.

Tive medo. Pude ver que seus olhos eram negros e sem vida. Sua pele eram acinzentada. Pareciam estar podres.

Havia cortes profundos em seus corpos de onde saíam vermes.

Tinham unhas enormes e sujas de uma coisa estranha que parecia sangue velho.

Uma dessas criaturas se aproximou de mim, tão perto que pude sentir seu hálito fétido.

Me encolhi no chão e me abracei aos joelhos. Aquilo era só um sonho ruim.

Influencia do que minha tia havia me falado.

Aquela criatura era minha tia, porém deformada.

- Então garoto? Ainda acha que somos só lenda? Porque está com tanto medo de uma lenda?

Olhe para aquela parede. Vamos te mostrar do que somos capazes....

Olhei e como em um filme vi coisas horríveis. Pessoas sendo despedaçadas, outras morrendo de medo, crianças inocentes arrastadas para fora e assassinadas...

- Ainda somo lenda? Garoto idiota.

Achei que iam fazer comigo algo terrível também.

Fiquei apavorado.

De repente vejos a porta da cozinha se abrir e luz invadirem a escuridão.

Meu nome. Alguém chamava pelo meu nome. As criaturas foram se afastando devagar. Mas me olhando com muita raiva. Sumiram na escuridão.

- Ainda vamos te pegar garoto. Aguarde !!

Vi minha tia se aproximando.

- Que faz aqui fora? Quantas vezes te falei para não sair à noite?

- Vamos voltar para seu quarto garoto.

Eu estava em estado de choque. Peguei na mão de minha tia e voltei para o quarto.

Por incrível que pareça logo adormeci um sono muito pesado.

Acordei com o corpo dolorido e a cabeça pesada.

Tinha vagas lembranças de ter sonhado à noite.

Minha tia apareceu na porta do quarto para nos dar boa noite e chamar para o desjejum.

Ela parecia cansada também.

Se aproximou de mim e sussurrou em meus ouvidos:

- Então garoto? Agora você acredita que as criaturas da noite existem???

E deu aquele riso abafado. O mesmo ruído que ouvi em meu sonho.

A partir desse dia sempre sou o primeiro a ir para a cama.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 09/09/2013
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