“Não há lugar em um só coração para dúvidas e certezas, ou você tem uma certeza, ou terá muitas dúvidas”.
 


  O garoto sabia que estava fora do destino que havia traçado. Precisava fugir dali logo, mas não tinha o que fazer, pois a dor cobria-lhe o corpo como um vento frio que chega após um intenso banho quente. Contido, ele tentava fingir que permanecia desmaiado, enquanto o motorista o fitava, desejoso.

  A mente insana do velho caminhoneiro conhecia bem aquele local, onde por diversas vezes esteve com seus amantes. Aquele trecho da cidade era praticamente deserto, e há muito tempo conhecera aquele lugar numa de suas investidas com um garoto de programa qualquer. Seu desejo pelo sexo forçado, pelo sadomasoquismo, pela dor e pelo desejo infame que tanto adorava gozar, foram os principais motivos que o levaram até ali.

   - O que é que vou fazer com você hein, bebezinho? – Disse, enquanto a mão pousava sobre a perna de Bernardo que jazia aparentemente desmaiado no banco de trás.

  O garoto sentiu a repugnância aquele cretino tomar-lhe o cerne dos pensamentos e desejou matá-lo, partir para cima dele atacando-o com toda sua fúria, mas sua razão falou mais alto, e ele soube que ainda não era hora de se arriscar. Sentiu-se puxado pelos pés e deixou seu corpo ser arrastado fingindo ainda estar inconsciente. O homem o carregou no colo sentindo todo o peso do jovem rapaz, enquanto olhava para a abandonada cabana. Seus pés afundando na terra enquanto andava e cantarolava algo sem sentido. 

  Bernardo abriu os olhos, ele estava debruçado nos ombros do homem, suas pernas para frente enquanto sua cabeça jazia jogada as costas do motorista. Olhou para o chão e viu a terra mexida abaixo deles. Ele estava em um lugar que não conhecia, a carreta parada um pouco à frente, ele ouviu passos e ergueu os olhos, enquanto a cegueira chegava assustadoramente heróica.

  O velho parou abruptamente, engoliu em seco e virou-se sabendo que havia mais alguém ali. Ele não possuía arma alguma, olhou, e lá estava. Mas como podia tê-los achado. 

  - Não é o que você está pensando... eu... bem, eu sou pai dele...  – Os olhos do velho se arregalaram enquanto o disparo veio certeiro o projétil acertou em cheio seu joelho. Ele sentiu o peso de Bernardo triplicar sobre suas costas e caiu deixando o garoto cair do seu lado. Suas mãos logo chegaram ao ponto atingido tentando estancar o sangue que saltava quente de suas veias. 

  - Não tenho escolha! – Disse a voz antes de puxar o gatilho novamente. Os outros dois disparos que se seguiram acertaram o peito do velho carreteiro que caiu completamente aturdido. A dor ainda o castigava enquanto sua vida esvaia-se a cada pulsar frenético de seu coração. Seu sangue era bombeado em esguichos para fora de sua pele e ele viu a pessoa olhar por debaixo da carreta e balançar a cabeça negativamente.

 - Quem é você?? – Ele perguntou como se aquela resposta o fosse ajudar a mantê-lo vivo, enquanto seu agressor o olhou mais uma vez e pensou que ao menos agora estava agindo da maneira convencional e correta. Imaginou o que aquele homem iria fazer com aquele garoto e o que já tivera feito com vários outros, apontou a arma uma ultima vez e mirou entre os dois olhos dele, em seguida disparou sem piedade alguma.

 
 
O Jogo da Forca – Capítulo VI – Fase IV – Escolhas do coração

  Carla não sabia o que fazer, estava debaixo da terra, e assim como suas energias, o celular descarregava cada vez mais. Carla ainda não sabia o que o assassino queria dizer com aquilo tudo.

 - Hora de recuperar o fôlego? – Ela perguntou para si mesma. Carla começou a lembrar-se de tudo havia passado, a falta de ar cada vez mais tornava aquele ambiente mais desagradável. Lembrou-se de suas filhas e pensou em como Fábio pôde fazer aquilo com ela, sentiu algo estranho, estava abalada, mas não apenas emocionalmente. O mundo parecia estar desabando em sua cabeça. – Meu Deus!! – ela disse completamente assustada enquanto a tampa do caixão parecia estar rachando e a poeira caia em seus olhos. Carla começou a gritar e sentiu que sua vida estava a um fio do fim.

 

  Abaixo de Carla, Isadora continuava assustada e sentia que o ar já não chegava mais a sua máscara. Aos seus pés havia um cilindro de oxigênio e uma mangueira se estendendo pela parede lateral do caixão, indo até a máscara que tapava sua boca e nariz. Seu pescoço estava quebrado e imobilizado. O oxigênio estava se esgotando.

  Isadora estava alucinando cada vez mais. Imagens chegavam a seus olhos, como se na parede superior do caixão, houvesse uma tela que transmitisse repetitivamente a imagem de sua mãe caída no chão, desmaiada e de seu pai a tirando da forca rapidamente. Ela ainda se lembra dele a segurando no chão e de sua avó entrando no lugar entre lágrimas.

  Rafaela olhou para Carla e viu que sua filha ainda respirava. Pegou Isadora enquanto uma terceira pessoa chegava empurrando uma maca. Fábio e a outra pessoa, a qual Isadora conseguiu ver apenas os pés, pois sua avó já estava de frente a ela tirando sua visão, pegaram o corpo que jazia inerte e colocaram por sobre a maca. Isadora mal pode se despedir de sua irmã, e naquele momento sentiu Érica ser arrancada de perto dela.

  Uma sensação estranha a tomou, eram tão ligadas, não apenas pelo fato de serem idênticas, mas principalmente por sempre estarem juntas e terem um elo aparentemente inquebrável, aparentemente, pois naquele momento Isadora percebeu que nada é para sempre.

  Rafaela imobilizava o pescoço de Isadora que sentia um misto de dores até então desconhecidas para aquele frágil corpo e doce alma. Com o pescoço quebrado e o coração partido ela viu o seu pai retornando. Ele carregava algo, segurando em uma das pontas enquanto o estranho o ajudava. Eles pareciam ter pressa. Fábio baixou o caixão ao lado de Isadora, olhou para ela e sorriu. Acariciou a testa dela e a pediu desculpas.

  - Me desculpe meu bem. Sei que você nunca vai me perdoar, mas não há lugar para amor e ódio em um só coração. Assim como eu, precisará escolher o que sentir por mim de verdade, pois eu já escolhi odiar vocês – Rafaela a olhou novamente enquanto as lágrimas continuavam a rolar descuidadas e cheias de esperança. Fábio a deixou sem escolha. Ou ela o ajudava e suas netas e sua filha teriam ainda uma chance de viver, ou simplesmente ambas morreriam ali mesmo. 

 - Está feito! – Rafaela disse enquanto olhava desafiadora para Fábio.

 - Está certo. Agora vamos colocá-la dentro do caixão. – Ele disse mostrando o cilindro de oxigênio. Pegou uma cerra copo que estava dentro do caixão e fez dois furos a certa altura da tampa. – Fique calma sogrinha, elas estarão bem. Confie em mim! – Ele disse enquanto Isadora sentia a mascara ser presa ao seu rosto – Fique tranqüila, um pouco antes de colocar o caixão de Carla sobre o de Isadora, ligarei o oxigênio e ambas terão ar suficiente para três ou quatro horas.  

  - Você ainda a ama! Por que faz isso?? – Rafaela perguntou.

  - Não cabem duvidas em meu coração, eu só preciso de certezas Rafaela e vocês me traíram, mentiram pra mim. Só posso odiá-la, pois o amor é uma fraqueza que não vive mais em meu coração, e ainda assim ele teima em me encher de duvidas.

  Isadora viu a tampa do caixão sendo fechada e após alguns segundos escutou o grito da avó, como se a mesma tivesse acabado de levar uma pancada. Sentiu-se presa, sozinha e desprezada pelo pai, sem ao menos entender o motivo de todo aquele ódio. 

 

 - Eu não entendo, Nádia! – Disse Max confuso enquanto juntava as informações que tinha até agora.

 - É, realmente essa charada está muito mais complicada que as outras – Ela observou ainda tentando buscar uma resposta aquele misterioso enigma.

 “Aqui há um segredo, e juntos iremos desvendar. O sol já não brilha mais, pois agora é a vez dela. Tire-a dai antes que termine o ar. Ela não está em baixo, mas eu sempre minto. Eu repito, tire-a!”

 - Não é da charada que estou falando! – Max disse olhando para o nada, compenetrado em algo que ele julgava ser mais importante que a própria charada em si.

 - O que foi? – Ela perguntou atônita.

 - As fotos. Por que não havia foto nenhuma do Fábio na casa? Ao menos deveria ter alguma foto dele com as filhas, não? – Ele indagou.

 - Max, não se preocupe com isso. Eles estavam separados, não estavam? Talvez Carla apenas não quisesse mais ele na vida dela e nem na de suas filhas. Esse cara é louco Max! – Ela disse segura de si.

 - É, mas eu preciso saber a verdade. Ele está querendo nos dizer algo. Sempre fala de segredos, fala de algo que aconteceu. Tem algum nexo nisso tudo, eu sinto que ele está nos dando pistas realmente. Você mesma já me alertou com relação a isso, mas não sei o que ele quer! Merda! – Max praguejou.

 - Bem, então o jeito é perguntar pra ela – Nádia disse.

 

  Carla ainda estava assustada. Sentiu um enorme alivio, porém a poeira tomava aquele ambiente. Naquele momento teve certeza que logo estaria morta. Tossia muito e o estranho era que algo a despertava, uma segunda tosse,um som altamente reconhecível.

 - Meu Deus!! – Carla começou a questionar sua própria sanidade, ouvir sua filha ali chegava a beirar o absurdo. Milhares de imagens aglutinadas ao som que ela ouvia despertaram sua esperança de uma maneira dolorosa.

  Carla tentava se concentrar para ouvir a tosse hipoteticamente fraca que chegava aos seus ouvidos e essa tarefa era muito mais árdua do que parecia, pois alimentava sensações e sentimentos arbitrários que inexplicavelmente ainda existiam em si – Isadora?? Onde você está?? – Ela perguntou e então esperou por uma resposta enquanto seus olhos jaziam embaçados pela poeira que se recusava a sair dali.

   A tosse continuava a chegar enquanto Carla persistia em chamar pela filha, ainda procurando entender como seria possível aquilo tudo. Pensou se aquele desabamento na verdade não foi uma escavação e começou a gritar em desespero.

  - Estou aqui! Isa, você está aí? Quem está aí em cima? Isadora?? Deus!! – Ela começou a ficar neurótica e o desespero chegou ainda mais rápido e desestabilizador.  Foi então que sentiu algo bater contra seu caixão, porém não poderia vir de cima. A sensação realçava bem de onde vinham as batidas. Vinham debaixo de Carla, debaixo de seu caixão 

– Isa?? – Ela disse quando o telefone repentinamente tocou.

 

  - Eu já morri há muito tempo?? O que esse desgraçado quis dizer com isso? – Alex tentava raciocinar enquanto dirigia pela rua principal. Ele já havia saído do hospital há cerca de cinco minutos. A imagem de Alessandra ainda o aterrorizava, mas como alguém podia fazer aquilo.

  As ruas estavam desertas, a ultima informação que tivera de Max apenas revelava que seu amigo continuava no jogo e por algum motivo estava matando novamente – Mas por quê? – Alex raciocinava.

  Lembrava-se de tudo que vira na cena do crime, na casa de Alessandra.  Não dava para acreditar que tudo estava acontecendo novamente. 

  - Preciso encontrar o Max! Preciso parar com isso antes que alguém mais se machuque! Que merda!! Droga!! Inferno!! - Ele praguejava buscando uma explicação para tudo aquilo – Afinal quem está passando as informações para o assassino? – Alex continuava se questionando há todo momento.  Ele não pode saber tudo isso sozinho. Deve ter mais alguém, mas quem o daria esse tipo de informação. Um cúmplice? Ou outro jogador? 

  Tudo era mera especulação, mas Fábio estava morto. Ele mesmo viu o corpo de Fábio sendo levado. Aquilo era tão horrível que era difícil imaginar que Fábio conseguiria arrumar outra pessoa para fazer seu serviço sujo, afinal, aquilo não era um filme, era a vida real.

 - Preciso te achar,Max, e rápido! – Ele concluiu acelerando o carro enquanto ligava para outro número.

 

 - Alô? – Carla atendeu, e logo reconheceu a voz de Max.

 - Carla, preciso te perguntar uma coisa – Max disse com a voz aparentemente calma.

 - Max, espera. Eu tenho que achar a Isadora. Ela está aqui, Max. Está debaixo de mim. Está viva! Minha filha está viva, Max. Eu posso senti-la! – Carla dizia aparentemente extasiada, estava nervosa, gaguejava, mas estava muito agitada.

 - Do que está falando? Antes eram bichos dentro do caixão e agora sua filha? Carla concentre-se. Não pode se entregar agora!  - Max tentava convencê-la de que estava alucinando.

 - O que foi? – perguntou Nádia.
Max tapou o celular com a palma da mão afastando-o da boca e respondeu.

 - Ela deve estar entrando em estado de choque, Nádia. Está alucinando! Primeiro os bichos tentando pegá-la e agora diz que uma de suas filhas está lá com ela – Ele revelou, cético.

 - Isadora! Querida, a mamãe está aqui! Eu te amo meu amor! Vamos sair daqui juntas! – Carla dizia enquanto as lágrimas continuavam a chegar e fugir de seus olhos.

   Max ouvia aquilo confuso, olhou para o relógio e viu que já haviam passado os primeiros dez minutos.

  - Meu Deus! – Ele suspirou – Carla, preciso que pare um pouco. Quero que me responda algo! – Ele disse com o tom de voz menos impaciente.

 - Sim, pergunte, Max. Espere filha, mamãe já vai falar com você! – Ela dizia enquanto acariciava o caixão como se pudesse transpassar a pele de madeira e encontrar o corpo de sua querida Isadora.

 - Não encontrei foto nenhuma do Fábio na sua casa. Nem com suas filhas – Ele disse.

 - O que? – Ela perguntou aparentemente confusa – Em cima da cômoda havia fotos, duas na verdade. As que tínhamos eu e ele, estão todas em uma caixa em meu guarda roupas, mas com as meninas eu havia deixado duas. Estavam bem visíveis, não sei do que está falando – Ela completou.

 - Tem certeza? – Ele perguntou novamente.

 - Sim, claro que tenho! – ela disse aparentemente nervosa e acuada com as perguntas.

  Max por um momento pensou no que seria aquilo tudo. Carla poderia estar mentindo para ele? Mas porque alguém removeria as fotos de Fábio? E aquela máscara que o assassino usava?

  A máscara era branca, e havia vários desenhos ao entorno dela. A boca era semi-aberta, e parecia ser costurada. Ao redor dos olhos um tom mais escuro deixava o personagem ainda mais obscuro dentro dela. Lágrimas negras desciam caladas, mas contavam muito da tristeza que ele sentia. O formato da mesma parecia acompanhar o formato do rosto do assassino, enquanto os símbolos bizarros que num rosto seriam tatuagens a davam um tom ainda mais sombrio.

   Mas o que Max realmente queria saber é o porquê da mascara. O que o assassino esconderia afinal. Por que ele esconderia seu rosto?

 

   - Ora, ora, ora – satisfeita com meu trabalho? – Ele perguntou para a vítima que acabara de sentir a lamina fria talhar-lhe a pele – O assassino olhava para a mulher que jazia dependurada de uma maneira bizarra. Ela gemia enquanto a dor a abraçava cada vez mais – Eles ainda não entenderam nada, Max não aprendeu nada. Quer salvar vocês, mas esquece que esse jogo se trata de mim e dele. O primeiro era ele, sempre ele, mas agora somos nós a caminho da redenção. 

 - Você é louco! – A mulher disse sabendo que morreria a qualquer momento se ninguém chegasse para salvá-la.

 - Não, não sou louco. Se bem que a loucura e a sanidade são duas irmãs criadas com o mesmo propósito. Ambas só querem dar razão ao que sentimos – O assassino parou de frente a vitima e seus olhos estreitaram-se ainda mais – Sabe o que mais gosto em você?

 - O que? – ela perguntou.

 - Você foi a mais verdadeira das pessoas e ainda assim é uma traidora. Contou toda a verdade, mas para isso precisou trair uma amiga. O mal e o bem sempre andam juntos, não importa o que aconteça.

  - Eu estava apaixonada! – Ela retrucou, enquanto ele sorria sarcasticamente.

 


  Bernardo ainda estava com as mãos ao ouvido. Havia os tapado quando ouviu os disparos repetitivos. Estava caído em meio à lama, sentindo-se liberto das garras daquele estranho homem. Porém ainda não entendia como aquela pessoa chegara ali para salvá-lo.

   Bernardo ergueu os olhos e viu com estranheza a vestimenta da pessoa. Pensou em sorrir ao ver que estava salvo, porém o pior foi que ele descobriu que ela estava ali justamente para fazer o contrário. 

  Viu-a apontando para a cabeça dele e ouviu o clique alarmante ao engatilhar da arma.

 

 - Aqui há um segredo, e juntos iremos desvendar? – Do que ele está falando? – perguntou Nádia ainda martelando na charada , enquanto Max tentava entender tudo aquilo – O sol já não brilha mais, pois agora é a vez dela? Dela quem? Tire-a dai antes que termine o ar. Ela não está em baixo, mas eu sempre minto. Eu repito, tire-a! Que droga! – Nádia estava cada vez mais zangada.

 - Ele quer dizer que vai matar a Carla? Será que é isso? – perguntou Max.

 - Como assim? – Nádia indagou.

 - O sol já não brilha mais. É a Carla dentro do caixão. Ele vai matá-la – Max disse olhando seriamente para Nádia. 

 - Não, Max! Não se precipite, ele está enganando a gente. Vamos pensar – Max estava ainda segurando o telefone. Ouvia Carla conversando sozinha, e já tinha certeza que ela estava delirando, quando abruptamente a escutou chamá-lo ao telefone.

 - Max, você está aí? – Carla perguntou.

 - Sim. Estou. – ele respondeu.

 - Não estou louca. Ouvi vocês falando da charada. Coloque-me no viva voz – Carla pediu.

 - Pode falar, estamos te ouvindo – Ele disse após colocar o telefone no viva voz, porém ao mesmo tempo fez gesto para Nádia , julgando que Carla estivesse delirando.

  - Sei que devo parecer estar louca pra vocês – ela começou – mas não estou. Prestem atenção na charada. Ele fala de um segredo, algo que precisamos desvendar juntos. Pensem, o sol já não brilha mais. Ele realmente parece estar falando de mim dentro do caixão. Mas ele fala que agora é a vez dela, como se fosse uma outra pessoa. E diz para tirarmos ela aqui debaixo antes que termine o ar – Eu estava tentando entender como eu estava viva até agora. Realmente garanto a vocês dois que não haveria ar para que eu vivesse todo esse tempo, mas só que o jogo começou já faz horas e estou aqui antes disso. Àquela hora eu estava cega pelo medo e não percebi o que estava me tocando. Era Isadora e não bichos. Meu Deus, eu devo ter quebrado os dedos dela, Max! – Carla disse chorando e soluçando – mas algo aconteceu, como se estivesse tudo desmoronando por aqui, e eu ouvi a tosse dela. 

 - Você acha mesmo que Isadora está debaixo de você? – Nádia perguntou.

 - Eu tenho certeza! – Ela confirmou.

 - Mas porque ela não te chamou, ou falou com você? – Perguntou Max.

 - Porque ela está impedida de fazer isso. Quando ficou dependurada na corda provavelmente deve ter quebrado o pescoço. Fábio deve ter usado minha mãe para imobilizá-la. Colocou provavelmente uma garrafa de oxigênio no caixão e fez alguma espécie de buraco conectando os dois caixões. O cilindro deve estar abaixo da minha cabeça, ela deve estar numa posição contrária a mim, está fraca e precisa ser tirada daqui logo! – Carla completou.

 - Tire-a daí antes que termine o ar? Você pode ter razão! – Max enfim concordou – Me desculpe, Carla, é que eu... – Ele dizia.

 - Não há o que se desculpar, Max, você tem feito o possível pra me tirar daqui. Apenas continue, por favor. Minha filha precisa de ajuda! – Ela implorou.

 - O sol já não brilha mais, agora é a vez dela – Nádia disse repentinamente.

 - Nádia? – Max perguntou curioso. Ela o olhou, sorriu, e olhou para o céu vendo o que estava por sobre sua cabeça. Uma enorme lua cheia, num céu negro e apocalíptico sem estrela alguma.

 - A lua! É a vez da lua! – Disse Max entendendo o que Nádia queria dizer.

 - Só pode ser! – Mas resta saber onde elas estão. Precisamos desvendar essa charada logo.

 - OK! Você tem razão! – Concordou Max, voltando a pensar na charada.

 
   
  Ele ainda olhava a mulher, que estava a sua frente, nua como de praxe mantinha suas vitimas para que fossem acometidas as devidas torturas. Ele havia desenhado um quadrado na parede, com o mesmo sangue que retirara da mulher, ao torturá-la fazendo cortes na barriga dela. O suor se misturava ao sangue dando um realce único aquela bizarra obra de arte. Acima da cabeça da mulher havia uma barra roscada galvanizada que atravessava a parede. Havia uma corda amarrada a ela e ao pescoço da mulher que jazia com as mãos amarradas atrás da nuca. Ela estava encostada a parede, literalmente submissa a ela. A corda apertando seu pescoço enquanto seus pés estavam pisando sobre uma pedra de gelo retangular no formato de um tijolo, feita especialmente para aquela mulher que há muito havia se derretido por Fábio. 

  A placa de gelo que inicialmente tinha dez centímetros de largura, agora tinha apenas sete, e o gelo se derretia cada vez mais. Abaixo da pedra havia um banco de madeira que a sustentava, porém seus pés haviam sido semi-serrados para que enfraquecesse o banco. Ela não podia mexer de maneira brusca ou quebraria o banco em segundos e encontraria a surpresa maior que jazia abaixo do gelo. Um amontoado de pregos 18X36, que mostravam ameaçadoramente suas pontas voltadas para cima, niveladas e afiadas, sustentando a pedra que a cada instante assustava ainda mais a mulher ligeiramente magra.

  - Gosto de te ver assim. As suas chances estão indo por água abaixo e espero realmente que seus pés não adormeçam, pois se isso acontecer, meu bem, você estará muito ferrada – Disse o assassino, zombeteiro.

  Ela o olhou e desprezou-o ainda mais. 

  - Você é um porco! É um covarde! Não tem coragem nem de mostrar seu rosto – Disse enquanto sentia seus pés formigarem sobre a plataforma gelada que a mantinha viva. Ela tentava conter seus movimentos, se equilibrar ao máximo, mas as feridas em seu corpo ardiam dolorosamente. 

 - Como disse, eu gosto de te ver assim. Vadias como você devem mesmo sofrer – Disse a voz sem remorso algum.

 

  - Você teve alguma noticia ou pista do garoto? – ele perguntou com a voz ríspida como de normal.

 - Ainda nada. Ele deve ter pegado uma carona, ou algo assim, Senhor. Não tivemos sinal algum do rádio, e Max também parece ter desaparecido do mapa. Porém encontramos algo muito suspeito – Disse a atendente.

 - Diga logo o que descobriram? – Ele indagou.

 - A vitima, Alessandra, Senhor. Bem, ela tem ligação com aquele advogado, o doutor Fábio e a família dele – concluiu a subordinada.

 - Não é possível. Deve ser coincidência – Ele averiguou.

 - Senhor, pedi uma viatura para ir até a casa da família do Doutor Fábio e verificar se está tudo tranqüilo.

 - Certo, você fez bem – Ele disse ainda tentando raciocinar. Max não estaria ali apenas por vingança. Mas aquela voz que o ligou. Quem seria aquela pessoa, e por que Fábio colocaria sua própria família em risco – Bem, ao menos agora temos algo para começar. Bom trabalho, Débora.

 - Obrigado, Senhor – Ela ia dizendo, quando ele a interrompeu.

 - Débora, ele era casado? Tinha filhos? – Indagou, Alex.

 - Não Senhor, ele era separado. São duas meninas, gêmeas e a ex- esposa que se chama Carla – Ela respondeu.

 - Carla? - Alex pensou por um instante, o nome não lhe lembrava de ninguém – me mantenha informado – ele concluiu e desligou o telefone.

 

  Bernardo olhava incrédulo para a pessoa. Ele não podia acreditar no que ouvira até ali. Pensou em correr, mas não poderia, pois a arma ainda apontava em sua direção.

 - Levante-se logo garoto! – Gritou a voz.

 - Quem é você afinal? – ele perguntou.

 - Sou a pior pessoa que poderia ter te encontrado! – Respondeu ameaçadoramente.

 - Onde está meu pai? – ele perguntou apreensivo. Estava preocupado com seu pai e pelo visto agora tinha certeza que o jogo havia recomeçado.

 - Não está melhor do que você. Agora entre no carro, você vem comigo! – Ordenou.

 

- O sol já não brilha mais, pois agora é a vez dela. Bem é a lua, e aí ele diz; Tire-a dai antes que termine o ar. Tire-a daí antes que termine o ar 
– Max balbuciava repetitivamente.

 - Ela não está em baixo, mas eu sempre minto. Eu repito, tire-a! – Nádia tentava raciocinar junto a Max.

  Carla continuava dentro do caixão com o telefone ao ouvido. Estava confusa e precisava ajudá-los, mas queria muito que sua filha a respondesse. Ela não sabia o que era pior, saber que sua filha está viva, porém enterrada abaixo dela, ou pensar que ela poderia estar dependurada numa forca, como esteve há horas atrás. 

 - Ele não está em baixo, se ele não está embaixo está em cima? – Dizia Carla esquecendo-se que Nádia e Max a ouviam.

 - Em cima? – Indagou Nádia. Max analisou, porém ainda não entendia como isso poderia se encaixar na resposta da charada.

 - Termine o ar! Vai terminar o ar, Nádia! – Max alertou.

 - O fim é ar? Em cima? Lua? Mas que nome é esse? Não dá pra montar nada assim! – Ela disse enquanto maquinava em sua cabeça. Invertia as posições das silabas, pensava e repensava nas supostas respostas e nas perspectivas que cada uma poderia trazer, mas não encontrava nada. Foi aí que ela notou que faltava algo – Tire-a daí!

 - O que? – Perguntou, Max.

 - Agora é a vez dela. Aí temos Lua e de repente ele fala tire-a daí! – Nádia olhou nos olhos de Max que parou apreensivo e embaralhado por alguns segundos, enquanto olhava fixamente nos olhos dela.

 - Tire a daí, quer dizer que é para tirar a de daí? Fica di? – Ele respondeu ainda incerto.

 - Não Max. Agora é a vez dela. Da lua e então ele fala logo em seguida, tire-a daí.

 - Ah, entendi! – Disse Carla – Ele quer que tiremos a de Lua, assim fica “Lu” – Ela concluiu.

 - Lu? – mas e por que ele fala eu repito, tire-a daí? Tire “a” de novo! Tire a de ar, ar é a ultima antes dele repetir “tire-a”. Ar sem A fica apenas o “R” – Max observou.

 - Lu em cima r? – Dizia Nádia – Opa! Entenderam isso? Vocês perceberam? – Ela perguntou.

 - Lu em cima r – Sim, entendi – disse Max – Ficou realmente fácil.

 - Meu pai do céu! Ela é... – Carla calou-se abruptamente ao ser interrompida por Nádia..

 - Lu em cima r, junta o “cima” com “r”, fica “cimar” Lu em cimar, Lucimar! Caramba, quem é ela, Carla? – Perguntou Nádia.

 - Ela é uma amiga, ou melhor, ela foi. Ele mora a dois quarteirões de casa – Carla ainda estava confusa.

 - Por que o espanto? – Perguntou, Max.

 - Por que ela se apaixonou pelo Fábio. Foi ela quem contou tudo! – Carla disse completamente chocada, enquanto as lembranças voltavam a sua mente.

Lembranças...

 - Oi meu amor? – Carla disse ao chegar a casa. Fábio estava sentado no sofá. Não entendia como sua esposa podia falar com ele como se nunca tivesse acontecido nada. Ele a olhava com o olhar severo. Ela sorriu para ele, fez-se de desentendida e abraçou-o.

 - Não vai trabalhar hoje? Pensei que tinha uma audiência? – Ela perguntou após dá-lo um beijo não correspondido.

 - Você é uma maldita traidora! Desgraçada de uma figa! Ele disse levantando-se do sofá.

 - Querido, o que foi, do que está falando? – Ela perguntava confusa.

 - Achou que ia me fazer de otário até quando? – Ele perguntou enquanto avançava para cima dela – responda sua cadela! – disse Fábio dando-lhe um tapa feroz no rosto de Carla.

 Só aí ela entendeu que ele havia descoberto tudo. Engoliu em seco e as queixas desceram pelos seus olhos. 

 - Querido? – Ela tentava falar algo, mas não conseguia.

 - Você me traiu? Me traiu todo esse tempo? Me fez achar que isso tudo era real? Que me amava? – ele estava incontrolável, começou a jogar tudo para o chão, a chutar cadeiras, derrubou a mesa de pedra que caiu e quebrou-se em três pedaços. Segurou Carla pelos ombros e a jogou contra a estante, as taças caíram junto de algumas bebidas e quebraram-se pelo chão.

 - Calma, eu posso explicar, vo.. – ela tentava dizer, mas ele a mandava calar a boca e se mostrava cada vez mais agressivo.

 - Cale a boca! Cale-se sua idiota! – Ele disse dando-a um soco, Carla caiu ao chão levando as mãos ao estômago e ele começou a chutá-la. Naquele dia ela conheceu um novo Fábio. Ela poderia ter morrido ali, mas sua mãe chegou há tempo, assim que Alessandra ligou para a ela, e em seguida para a polícia que o levou direto para cadeia. Fábio passou alguns dias na cadeia, mas Carla retirou a queixa, cheia de culpa pelo que tinha acontecido.  Eles se separaram e ele disse que nunca mais a perdoaria.

 

  O telefone tocou e ele atendeu com a voz calma e fria de sempre.

 - Olá? Já conseguiram? O tempo está se esgotando e minha ampulheta não tem areia, apenas água, e como ela está fria.

 - Do que está falando? – perguntou Max enquanto dirigia desesperado – O nome é Lucimar. 

 - Ah, sim. Vocês sempre acertam não é mesmo? Pena que nem sempre salvem – O assassino disse olhando para Lucimar que já quase não sentia mais seus pés, porém incrivelmente mantinha-se de pé. Os joelhos tremendo enquanto o gelo já chegava a ter cerca de apenas quatro centímetros e meio a cinco de espessura. Logo ele quebraria – Corra, Max! Fim de ligação.

 O assassino desligou o celular e ligou para outro número.

  - Olá, Alex, a próxima vitima é Lucimar Alves. Quer acabar logo com isso, pegue o Max antes que mais um inocente morra. O Max é um ótimo jogador, mas ele mata muito melhor do que salva, amigo. Já estou ficando entediado. Ah, e diga a ele que acabei de encontrar o garotinho dele. Será porque que tudo da certo para os vilões, eles podem até morrer no final, mas ainda assim morrem no auge de sua glória, já os mocinhos tem que morrer para virar heróis... Fim de ligação, Alex!

 

  O assassino a olhou nos olhos, viu a face melancólica da mulher. Ela era magra, mas sua aparência já havia tomado outros rumos. Seus olhos estavam afundados no vicio que adotou após a discussão que tivera com Carla. Eram amigas há anos, mas Lucimar havia ficado obcecada por Fábio.

  Nem mesmo ela entendia como passara a amar uma pessoa que nunca havia dado-a chance alguma. Fábio era um exemplo de marido e de pai. Porém ela sabia de todo o segredo que Carla guardava e isso cada vez mais a tornava confusa. Estava dividida entre o sentimento de amizade e uma paixão avassaladora que tomava seu ser.

  Lucimar não achava justo que aquela mentira fosse sustentada a vida inteira. Não podia concordar com aquilo. Lutou para esquecê-lo, para deixar de amá-lo, mas a cada gesto, a cada demonstração de amor pela família, ela o amava ainda mais. Foi então que ela se viu tomada pela inveja e decidiu revelar tudo para ele.

  O assassino passou a navalha próxima aos olhos da vitima. Lucimar sustentava-se como podia, o frio tomando seus pés, ela se esforçava, enquanto patinava levemente sobre o gelo que derretia cada vez mais rápido. O medo e a sensação de dor a tomavam enquanto a lâmina se aproximava de sua pele. Chegara a hora de mais um corte.

  - Sabe de uma coisa, Fábio queria te agradecer por tudo que fez por ele. Se você não tivesse o contado a verdade, ele estaria vivendo até hoje uma mentira – O assassino passou a lamina no rosto de Lucimar,porém apenas lateralmente sem fazer corte algum – Então, já era para você estar com o rosto mutilado, porém não o farei com você. Entretanto, torça para que eles cheguem logo – Ele disse e então se virou saindo dali.

  Lucimar acompanhou o andar do homem que saiu tranquilamente da casa deixando a mercê da sorte e de dois estranhos, além é claro da pessoa que ela traiu. Ela estava entregue as drogas a cerca de quatro longos anos, e arrependimento alguma a faria se sentir melhor. Porém agora o que ela queria era se ver livre dali. Suas costas jaziam apoiadas na parede. Ao seu redor Fábio havia escrito algo, como se tudo formasse um quadro pintado na parede. Lucimar sentia cada vez mais a corda a ameaçando e o gelo cada vez mais fino abaixo de seus pés.

 - Meu Deus, me perdoe!

 

  Max chegou até o endereço que Carla o havia passado, ele e Nádia desceram do carro. Cautelosos observaram que não havia ninguém ali. Chegaram até a porta, e Max girou a maçaneta. A mesma estava aberta, ele a empurrou devagar. Abriu-a e entraram na casa. Entrou na casa desarrumada, era como um antigo mausoléu. Havia uma mesinha de vidro no centro e uma carreira de um pó branco. Havia alguns instrumentos, seringas entre outras coisas. 

  - Afinal o que é isso tudo? – Max perguntou assustado.

  - É uma viciada daquelas. Essa gosta de cheirar um bom pó – observou Nádia. Eles continuaram andando, atravessaram o vão em arco da sala de visitas e entraram em uma sala maior, e foi ali que eles a viram, ela estava na parede lateral, que dividia os cômodos.

 - Que diabos é isso? – Exclamou Max olhando para a mulher a sua frente, mas ele se referia justamente as charadas que estavam escritas ao redor dela.

 - Vão me ajudar ou não! – Disse Lucimar quando de repente ouviu um estalo e em fração de segundos soube que não daria tempo de evitar a dor que a atingiria.

 - Aaaaaaaaaaaahh! – Gritou Nádia fechando os olhos abruptamente enquanto Máx saiu em disparada na direção da mulher que gritava em seu total desespero e agonia. Seus pés atravessaram o que restara do bloco de gelo e afundaram nas pontas dos pregos que penetraram em sua carne sem receio algum. A dor atravessou sua alma. Quase uma dúzia de pregos adentrando em seus pés, enquanto alguns atravessavam a parte da frente deles e outros cravaram em seu calcanhar. A unha do seu polegar esquerdo foi arrancada de uma maneira bisonha. A mulher sentia tanta dor que nem a grande quantidade de cocaína que havia cheirado poderia anestesiá-la. E o pior é que a medida que se moveu, os pés do banco se quebraram e ela ficou dependurada à parede, presa a corda que ao mesmo tempo que a sustentava de pé, também a estrangulava. 

  Max correu até ela e abraçou-a, fez força para cima, mas ela se debatia de tal forma que era quase impossível segurá-la. Ele pedia para ela se acalmar, mas Lucimar queria tirar os pés dos pregos a qualquer custo. Seus pés sangravam terrivelmente e a cada puxada, a cada investida dela, a dor era ainda mais perturbadora. 

 - Aaaahhhh!!! Tire isso de mim pelo amor de Deus!! Aaaaaahhhhh!!! – Ela gritava desesperada.

  Max não podia fazer nada. Nádia estava ainda de olhos fechados, porém nem aquilo podia evitar que ela sentisse parte de todo sofrimento que a mulher estava enfrentando. A mulher não estava agüentando de dor, e Max sozinho não conseguiria tirá-la dali, tampouco cortar a corda que a sustentava.

  - Uma faca, Nádia! Agora!! – Max disse.

  Nádia abriu os olhos e correu para cozinha, abriu a primeira gaveta e não encontrou nada. Ela ainda tremia só por ter visto aquela cena bizarra. Foi aí que olhou para o armário e viu uma faca, pegou-a e correu de volta para a sala.

 - Corte isso logo! Corta a corda ou ela vai morrer aqui! – Ele disse enquanto ela se esticava ao máximo para cortar a corda presa a barra. Por fim ela conseguiu. Max a carregou até o sofá, ela ainda se debatendo enquanto seus dedos ainda estavam presos a tábua do banco. Max olhou-a, mas não tinha certeza que aquela seria a melhor decisão.

 - Tire isso pelo amor de Deus!! – Lucimar disse aparentemente sem ar.

 - Sente-se sobre as pernas dela e a segure firme, Nádia – ele ordenou enquanto sua parceira parecia relutante – Ela está se ferindo cada vez mais, os pregos estão cravados na carne dela, temos que fazer algo! – ele disse.

 - Ok, ok! – ela disse subindo no sofá e prendendo as pernas de Lucimar.

 - No três, ok?? – ele falou.

 - Certo, anda logo! – implorou Lucimar – Ele respirou fundo e segurou a madeira, mas ao colocar a mão sobre ela Lucimar gritou em desespero.

 - Nãoooo! – A dor a atingiu de uma maneira absurda – pare!! – ela gritou como se ele tivesse feito algo.

  - Droga! Eu mal mexi, apenas encostei na madeira – Max se levantou e cainhou até ela. O suor escorrendo por seu corpo, e em seu pescoço as marcas da corda que queria roubar-lhe a vida – Isso vai doer muito, Lucimar, quer mesmo que eu faça? – ele perguntou.

  Ela olhou-o e sentiu uma sensação estranha. Como se o conhecesse de alguma forma. Aquilo a passou uma sensação de alívio.

 - Você se parece com ele – ela disse – Fábio era uma pessoa que faria de tudo para proteger sua família e seus amigos.

 - Não está falando do Fábio que eu conheci – Max ironizou.

 - Você não o conheceu – Ela disse olhando nos olhos dele e então a dor voltou cada vez mais forte à medida que seu sangue e seus pés esquentavam – Aaaaahhhh!!!Ta piorando!!! – Ela gritou.
Max olhou ao redor, se levantou e foi até a janela. Rasgou a cortina e enrolou um pedaço do tecido fazendo-o ficar mais espesso e resistente. Andou de novo na direção de Lucimar e pediu que ela abrisse a boca, ela logo entendeu e o fez desesperada para que o sofrimento chegasse ao fim.

  - Vamos no três, ok? – Ele disse preparando-se para puxar enquanto Nádia segurava as pernas de Lucimar com toda sua força – Um... –
Ele iniciou a contagem – dois... – seus olhos se estreitaram e ele apertou a tábua fortemente cerrando seus punhos – três!!! – ele puxou.

  Nádia pode ver os pregos sumindo nos pés de Lucimar, ouvia os gritos abafados da mulher enquanto a pele dela queria ir junto dos pregos. A dor chegava concupiscente enquanto o sangue escorria pelos buracos feitos pelos pregos. Lucimar tremia e gemia de dor enquanto Nádia saia de cima dela.

  Max amarrou outro pedaço de pano nos pés de Lucimar na tentativa de estancar o sangue e então se voltou para a parede, onde Lucimar há pouco estava dependurada.

  - Todas as charadas estão aqui – Ele observou surpreso, vendo que ao retirar Lucimar da forca uma charada foi revelada onde ela estava encostada. Ele começou a ler de novo uma a uma.

1ª - “Quando eu montei naquele cavalo, vi que a sela estava ao contrário. Não, isso é só o principio. Parei num bar, fui jogar baralho e encontrei uma letra a, mas tudo ainda estava ao contrário. Sentei-me e veio uma doutora para terminar com minha agonia, a dama abreviada resolverá essa charada. - Alessandra foi sua protetora. 

2ª - Você está cansado, Max. Recarregue suas energias, mas sem orgias, ok? No final ande, e a achará. A primeira coisa que precisa é ter fé. E não se esqueça de começar a rezar, pois isso tudo é uma verdadeira bagunça. – Fernanda era sua confidente

3ª - “Pra começar ganhei duas gêmeas de presente. Mas só queria uma. Saiba que não sou esse. Sou outro agora, mudei pra poder errar. Ah, depois, quem se importa. Farei o que for preciso para matar o seu rei, pois no fim se não será ele, então quem será?” – Rafaela é a mãe que aceitava tudo.

4ª - Aqui há um segredo, e juntos iremos desvendar. O sol já não brilha mais, pois agora é a vez dela. Tire-a dai antes que termine o ar. Ela não está em baixo, mas eu sempre minto. Eu repito, tire-a! – Essa é uma maldita traidora!

5º - Temos muito em comum, Max. Dois homens traídos. Dois excelentes pais de família. Dois ou um? Essa é a charada que você precisa decifrar, Max. Quanto ao nome, ele está no fim, bem no fundo do oceano. É apenas o começo dessa luta, pense bem, no meio dessa guerra si entrar, saiba que pode ser o fim de suas duvidas. Termina agora, Max. Afinal você é bom? E eu sou mau? Não há vilões nem heróis. Somos todos uma engrenagem, Max. Prepare-se para a verdade e bem vindo a fase V, o jogo ainda não acabou.

  - O que isso tudo significa? – Perguntou Nádia chegando do lado dele.

  - Não faço a mínima idéia – Ele respondeu – Mas sei quem pode saber – disse discando no celular.

 

  Alex chegou até a casa conforme o assassino havia lhe falado. Olhou e viu a porta aberta. Ele sabia que tinha que fazer uma escolha. Sacou a arma e decidido entrou. Ouviu a voz de Max, ele parecia estar gritando com alguém. O som da voz de uma mulher gemendo de dor chegou aos seus ouvidos.

 - Não vou permitir que continue com isso, Max! –Alex engatilhou a arma e preparou-se para entrar na sala principal. 

 
 
 - Max?? – Carla atendeu.

  - Afinal, o que você fez pra ele? Você o traiu? – A voz de Max chegava cortante aos ouvidos dela – Elas não são filhas dele não é mesmo? – Ele disse enquanto olhava para as charadas e lembrava-se de tudo o que viveu naquela noite – Se não me responder o que está acontecendo agora, eu juro, você vai morrer aí onde está! – Ameaçou aos berros, e de repente ouviu o som de um disparo vindo de trás dele.

 

Continua no dia 28 de Agosto de 2013 - Capítulo Final.
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 26/08/2013
Código do texto: T4452565
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