A Menina Que Cantarolava

Há 2 meses, me mudei para um condomínio no rio de janeiro, como todo adolescente qualquer, fiquei meio ansioso, até porque não conhecia ninguém, morava no 4° andar do bloco 7, com uma vista linda, porém distante, de uma rodovia movimentada, e mesmo tentando, não conseguia gostar daquele lugar, era calmo, silencioso, de dia fazia muito calor e de noite o vento era tão forte e tão gelado, que chegava a ressaltar a flores das árvores pela madrugada.

Todos as noites eu caminhava pelas praças que envolviam os prédios, a procura de companhia, eu sempre via uma ou duas pessoas correndo ou fazendo caminhada, mas em uma noite em especial, me deparei com uma bonita garota sentada na mesa de uma das praças, ela estava com os pés em cima de um baco, cantarolando o que me parecia uma canção de ninar, tive vontade de falar com ela, mas a timidez falou mais alto, segui com minha caminhada até em casa sem conseguir esqueçar a a garota em nenhum momento.

Alguns dias passaram e como de costume, resolvi caminhar novamente, fiz o mesmo caminho da ultima vez, prometendo a mim mesmo, que se visse aquela menina de novo, que eu iria falar com ela. Passei pelo lugar onde a vi da outra vez, mas não consegui achá-la, sentei onde ela estava e fiquei pensando em coisas do dia dia por um tempo, quando eu menos esperava, ela apareceu, e como da ultima vez, cantarolava a mesma música, eu não disse nada fiquei em estado de choque, e ela estava chegando mais perto de mim, resolvi não falar nada e deixar ela passar, mas quando abaixei a cabeça, para ignora-la ela me disse: "oi". Ela parecia pálida, e o frio de quase 8°, daquele setembro rigoroso de 2006, parecia não afeta-la.

Começamos a conversar e com conforme o assunto fluía eu ficava mais nervoso, ofereci a ela meu casaco, mas ela disse que o frio já não a afetava mais, eu não entendi direito, mas também não questionei.

De tanto eu reclamar de frio, ela me convidou para conversamos em sua casa, era tarde e eu não queria incomodar, mas mesmo assim aceitei sua proposta, chegando perto de seu apartamento ela me disse que de uns tempos até ali, a mãe dela não receberá muitas visitas, mas completou dizendo que ela não iria se zangar.

Em frente a sua porta ela me convidou a entrar, e disse para que eu não fizesse muito barulho, assim que entrei percebi que a casa tinha um clima triste e um pouco sombrio, parecia vazia, e um barulho de televisão ruía de um quarto que estava fechado, conversamos bastante e em um momento eu falei um pouco mais alto. Um mulher saiu do tal quarto, ela gritava e mandava eu sair de sua casa, sua filha gritava para ela se acalmar, mas ela parecia não ouvir, a gritaria chamou atenção dos vizinhos, que ameaçaram me bater, eu disse que podia explicar,que apesar de ser novo,eu sabia que não era certo entra na casa de alguém sem ser convidado, afirmei que a filha da mulher tinha me convidado. A mulher chorando disse pra mim que isso seria impossível, pois sua filha já havia falecido a anos, na hora eu congelei, e disse que isso era mentira, esticava o meu pescoço para achar a garota que até então estava na sala, a chamei por muitas vezes mas ninguém respondeu, eu chorava de medo, a mulher que também berrava me levou para fora de seu prédio, e conforme eu saia agarrado pelos braços por um dos vizinhos, ela disse:

-"Se isso foi uma brincadeira, foi de muito mau gosto, não se deve brincar com quem já não está mais entre nós..." - e chorando concluiu para um dos homens.

-"Ela era só uma garotinha, eu ainda cantarolava para ela dormir".

~ Lucas G.