A ASSASSINA




Lisa, tinha 23 anos e era uma mulher bonita e interessante. Concluiu o curso técnico de auxiliar de enfermagem e através de concurso foi trabalhar no Hospital Público. Seu plano era fazer faculdade de Ciências Biológicas. Lisa ralou, sofreu, passou noites insones trocando plantões. O marido deleitava-se com a amante na ausência dela. Lisa decidiu dar o basta no casamento. Ela concluiu a Faculdade de Enfermagem...
Aos 29 anos era ambiciosa, independente, queria mais, era muito pouco ser a chefe do setor de enfermagem do hospital. Um dia, através do colega foi apresentada para uma pessoa de reputação duvidosa. Recebeu proposta pra ganhos extras na profissão. Foi uma oferta tentadora, mas ilegal.
Chegou a pensar que a ética não passava de teoria sobre a prática moral que rege o sistema. Ela estava nem aí com princípios morais e os bons costumes. O mais importante era ter a conta bancária abastecida regularmente. O dono da funerária saiu convencido que ela aceitaria a proposta e talvez pudesse ir além do combinado. Não demorou muito tempo para ter certeza. Lisa concordou. Sua nova missão era abreviar o tempo de vida de pacientes em estado crítico.
O esquema de propinas funcionava no hospital e no IML para liberação dos cadáveres. A funerária era acionada toda vez que o paciente falecia. Lisa se encarregava de aplicar injeções letais, desligar aparelhos de pacientes desenganados.Era a máfia do serviço funerário aproveitando o momento da fragilidade de famílias que perdiam parentes. Não bastava o caos no atendimento nos órgãos de saúde, havia outro lado que lucrava com ganhos vultosos. O hospital não suportava o número de pacientes quando eram internados com doenças graves, havia número insuficiente de leitos...com o esquema das funerárias, só por milagre regressavam para suas casas.
Era final de semana à noite e Lisa estava de plantão. O resgate chegou com um jovem em estado grave. Ladrões fugindo da polícia entraram na contramão chocando-se de frente com o carro do rapaz. Como o hospital que Lisa trabalhava era o mais próximo, foi prudente ser atendido ali. Lisa não queria saber se o paciente era criança, jovem ou velho, ela pensava na possibilidade de ter o lucro maior. Depois do atendimento médico o jovem ficou sob a responsabilidade dela. Lisa pensou: esse já era.
Houve denúncia da revista semanal falando sobre a máfia das funerárias. O MP (Ministério Público) se manifestou, a polícia iniciou investigação sobre o envolvimento de funcionários do IML e hospitais públicos. Lisa, achou por bem alegar problemas de saúde na família e pedir demissão. Sem o emprego e as propinas, as economias foram acabando...precisava agir.

Um dia sua colega Marli ligou comentando sobre o milionário de idade avançada que precisava de uma enfermeira para dormir no emprego oferecendo excelente salário. Lisa aceitou. Seu perfil agradou o empresário. O velho viúvo era paraplégico, morava numa mansão sozinho, os filhos viviam na Europa.
Depois de um mês no novo trabalho tinha saudado as dívidas, era hora de pensar em algo maior. Precisava de dinheiro, muito dinheiro. O velho pegou confiança em Lisa a ponto de revelar o segredo do cofre da casa. Certo dia, Lisa se aproveitando do sono do milionário abriu o cofre para vislumbrar a quantia de dólares que havia. Não pegou nada, mas elaborou o plano. Estava tudo na sua cabeça para execução. Tinha diminuido o sofrimento de tantos, mais um não faria diferença...
Tudo arquitetado, aproveitaria a folga dos empregados da casa no final de semana. Ela era residente, tinha tudo separado, passaporte, reservas em hotel, passagem comprada...Pelos notíciários sabia que seria chamada para depor sobre possível envolvimento na máfia das funerárias, era questão de tempo.



Crepúsculo da tarde e ela conduziu o velho na beira da piscina, ele não tinha forças para nada mesmo, não tinha como esboçar reação. Lisa agiu rápido, empurrou o velho com a cadeira de rodas pra dentro da piscina, viu-o afundar lentamente...
Voltou apressada para o quarto dele, abriu o cofre e pegou tudo que tinha dentro, botou na bolsa, tinha separado todas as jóias da falecida esposa do milionário. Foi para a piscina para o último adeus...Quando olhou no fundo a piscina estava vazia, não havia nada dentro dela...entrou em pânico.
Virou-se espantada... viu o milionário em pé estava com a arma apontada na sua direção...
_Surpresa, minha cara?
_Mas...você...-Lisa tentou dizer alguma coisa, mas estava tremendo...
_Cale a sua boca e não tente nada siga na frente vamos...
Lisa seguiu na direção da casa, depois de alguns passos sentiu a forte pancada na cabeça... seu corpo desabou.
Lisa acordou com forte dor na cabeça, estava com a boca tapada com fita adesiva, amarrada numa cama no porão...sem chances de qualquer movimento...ainda tonta viu o velho em pé, olhando para ela...
_Ora, ora, ora, até que enfim acordou, estava preocupado .Bem, vejamos, sei tudo a seu respeito, nunca te falei que sou cirurgião plástico aposentado. Sei da sua participação na máfia das funerárias, dos seus abusos, das mortes que cometeu. Você nunca teve piedade, ultrapassou todos os limites possíveis e inimagináveis, tirou a vida de muitos acreditando que jamais seria apanhada, enganou-se...
Eu fiz a denúncia pra revista sobre a máfia. Depois preparei tudo pra você trabalhar na minha casa. Passei de propósito a senha do cofre. Me fiz de inválido pra ter a chance de te pegar de jeito, e você se achando esperta, achando que eu era um inválido.
Ah, só um detalhe. Numa noite um jovem sofreu acidente de carro e chegou em estado grave e você estava de plantão, segundo o relatório médico o estado era grave, mas ele sobreviveria...e o que você fez, induziu-o a morte por parada cardíaca...
Sabe quem era esse jovem, você sabe quem era o jovem quevocê tirou a vida? Dr. Marcos Paulo falou gritando com voz nervosa...
Era meu filho caçula...Agora você terá a morte sem anestesia, vou te matar aos poucos, sua morte será lenta e com dor, vou tirar o adesivo da sua boca para ouvir os seus gritos de terror, a dor que sentirá, não vai se comparar com a dor que você deixou em tantas famílias, tantas mães que você fez chorar, prometo te retalhar bem na junção dos ossos (sem anestesia)...

Lisa viu o fim de todos os sonhos, não havia o que fazer, sentiu as
trêmulas mãos do cirurgião com o bisturi segurando a sua cabeça com força e cortando sua orelha...O médico colocou uma toalha para estancar o sangue, foi até o armário e pegou um machado que havia afiado meses atrás... Lisa desmaiou...
A enfermeira acordou grogue com dores horríveis pelo corpo, o pesadelo que tivera fora terrível, ela olhou ao redor, seu pesadelo estava apenas começando... com os braços amarrados e suspensos no ar...olhou...suas... mãos... foram amputadas...viu suas pernas
...só havia sangue escorrendo e a ausência dos pés, a dor que atingia a alma, ela não estava suportando mais, quando foi desferido mais um golpe de machado no joelho esquerdo...

Lisa adormeceu para sempre.





A polícia procurava por Lisa Andrade, ex enfermeira chefe do hospital público Carlos Queirós que tinha sido acusada de participar da máfia das funerárias, ela nunca foi encontrada, suspeitas indicavam que ela havia deixado o país.
Alberto SL
Enviado por Alberto SL em 19/08/2013
Reeditado em 05/11/2013
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