Amado e Eterno, Eis Me Aqui Em Teus Braços
Ela vagava incandescente no sopro noturno pelo cemitério municipal, segurava um terço curto e orava rituais ocultos, enquanto buscava por uma cova em especial.
Enfim, chega até as covas recentes, o céu acinzentado testemunha as palavras profanas pingarem de sua boca bonita... O cordão do terço se dissolve como água entre os dedos bem cuidados. As bolinhas de marfim despencam, caem na terra fofa e recém-coberta. Ela apenas chora, em sintonia com a gratidão.
Se ajoelha enquanto suas lagrimas pesadas se fundem com as bolinhas de marfim, contempla de olhos arregalados, as mãos brotarem da terra fresca... Ela em risos e louca, sorri ao ver o rosto pútrido brotar da cova:
— Amado e eterno, Eis me aqui Em Teus Braços
O corpo fresco a abraça e lhe promete que desta vez será para sempre... Para Sempre!
Os outros cadáveres libertos de seus sepulcros ignoram tal sentimento, ele apenas a protege com seus braços frios e quase descarnados pelo tempo de sepulcro... A protege o quanto pode...
Os mortos estão famintos, ignoram a força do amor, do espírito... A carne viva da moça os alimenta em suas ganas, e mesmo assim ela ainda apenas sorri a doce dor eterna, junto dele para o sempre... O sempre que os dois inventaram, conforme certo prometido.