O DEMONIO DO 13 ANDAR
Pessoal, tentei escrever pro DTRL mas não deu tempo rs...Espero que gostem
- Você é incompetente! Só duvidava que fosse TÃO incompetente, a ponto de deixar uma faxineira sair daqui com quinhentos mil dólares, dentro de um saco de LIXO! - Bradava Ronaldo - Qual é o seu problema? Nasceu burro ou foram anos de aprendizagem?
- Grande merda! Antônia limpou o caixa dois, que você "deposita"-fez sinal de aspas com os dedos - dentro de sua gaveta de escrivaninha, e o burro sou eu? - diz Arnaldo,e um sorriso sarcástico, que lembra o gato psicodélico de Alice, modifica-lhe o semblante.
- Você nunca falou nesses termos comigo, seu bosta! Resolveu virar homem no meu pior dia! E quero essa grana de volta até as dez, senão arrancarei teu estômago pelo cú!
Arnaldo saca uma Glock .40 e alveja o gerente no joelho. Ronaldo solta um urro, desaba da cadeira e, metendo a cabeça na mesa de mogno escovado, rola no tapete persa caríssimo. Não parece muito preocupado com a mancha de sangue.
-Não hoje, hoje não...Minha festa, minha festiha particular, vai começar....
O escritório todo ( são 34, pensa Arnaldo, contando os estagiários e terceirizados) agora é um retrato fiel da raça humana:homens e mulheres com lindas roupas compradas na Oscar Freire e na Daslu, trombavam-se, pisavam-se, empurravam-se e, se pudessem, matariam-se, em nome da autopreservação. Tal brutalidade causaria inveja aos gladiadores, aos vikings ou aos invasores espanhóis. Arnaldo,porém, estava muito bem posicionado: entre eles e a saída. E aquela seria a noite sua noite, a noite da vingança, a noite de a morte rubra retirar a mácara, a noite do vermelho ( Vamos brincar de pique-esconde?)....
Mas, como não existe fim sem começo, vamos a ele: Arnaldo, homem (alguns duvidam que o seja) alto, magrelo, careca, branquelo e feio: o esteriótipo do solteirão mal amado que mora com a mãe e ama gatos, chegou a chefe da segurança desse renomado escritório de advocacia, localizado no 13 andar da Paulista, por dois méritos: tudo anotava e a todos corrompia. Quando criança, caçoavam dele, espezinhavam-no, maltratavam corpo e mente. Tornando-se adolescente, a tortura dobrou, e os hormônios triplicaram a dor. Acompanhando a idade, aumentou a maldade nos apelidos e, geometricamente, seu ódio pela maioria da raça humana.
Seu desenvolvimento intelectual, no entanto, era assombroso. Calado e sério, tudo sabia e tudo percebia. Conhecia os segredos e atalhos da alma humana como a palma de sua " magrela e horrível mão de macaco albino". Alguns o diziam bruxo, outros, iluminado; no entanto escondia para si tal dom, não revelando ao mundo o melhor ( ou pior) de si: era o belo sob a fera, o médico sob o monstro, a ovelha na pele do lobo. Era, entretanto, um homem de muitos planos e pouca açao, muitas idéias e poucas realizações.
(Vamos brincar de polícia e ladrão? Vocês podem correr, mas não podem se esconder...)
Há dois meses, com a mãe á beira da morte, por câncer, e os gatos envenenados pelo vizinho ( o que mostrava a ele que nem Deus poderia estar a seu favor), traçou seu plano maquiavélico, e desde então, pouco a pouco, realizava-o; e seu ápice seria agora, nesta noite....
Começou o dia ás quatro da manhã, invadindo a casa do vizinho matador de gatos, acrecentando uma pequena dose de cianureto no leite que as crianças levavam para o lanche escolar. Ops, contaminação na fábrica, coitados...Para o vizinho, um fim mais cruel: conviver com a morte dos filhos. E a grande noite chegou...
Depois de atirar no joelho de Ronaldo, o vingador acionou o alarme de incêndio, para evacuar o prédio e distrair os usuários das outras salas. Engatilhou a pistola, disparou duas vezes. Com todos ao chão, começou:
- Boa noite, seus filhos da puta! Bem vindos á minha festinha. Podem usar seu celulares para ligarem para mães, esposas, filhos, amantes, ou para o papa. Terão 5 minutos. Roberto, seu bastardo, já que você abandonou sua mãe naquele depósito de velhas, pode ligar para a polícia! O resto, não perca seu tempo, a despedida será rápida.
As orientações á polícia, transmitidas pela voz chorosa e incrédula de Roberto, foram poucas: Não invadam, não liguem e isolem a área em frente ao prédio, e ninguém de fora - repita "de fora!" - irá se machucar. Se infringirem qualquer regra, os explosivos espalhados pelo prédio os farão pensar melhor.
Depois dos telefonemas, Arnaldo arrasta Gabriela ( a "piranha secretária do bastardo"), até sua mesa, de onte retira dez túnicas pretas, de corpo inteiro; da prateleira de seu armário, tira uma caixa com dez máscaras de hóquei, iguais á de Jason e, da bolsa logo abaixo, o mesmo número de armas de plástico, bem realistas; e a manda distribuir aos homens mais altos. Ordena a eles que vistam as roupas, empunhem as armas e se movimentem pelo ambiente do escritório. Ele próprio veste uma delas.
Escuta uma pequena explosão no andar abaixo: uma de suas cargas havia sido detonada, mas não havia mal algum. A carga não era mortal, servia apenas de aviso e distração, e o policial perderia, no máximo, uma mão.
O prédio, agora, está cercado por uma multidão de curiosos, a escada frontal totalmente isolada. Curiosos se apertam e espiam, parentes e amigos dos reféns choram em desespero, espetinhos de gato são vendidos na esquina. Repórteres de jornais sensacionalistas lutam á dentadas pelo melhor ângulo, e os atiradores de elite tomam suas posições. Os vidros espelhados do prédio bloqueiam a visão, e dão privacidade ao assassino.
Com a pistola em punho, ordena a Roberto (já vestido com a túnica negra), que busque o gerente em sua sala. Quando sai, Ronaldo está apoiado sobre os ombros do empregado. Chora de dor, e implora pela vida.
- Muito bem! Agora jogue-o do parapeito!
- Jogá-lo? Você está louco?
- Ele ou sua amante. Escolha - Encosta a pistola na cabeça de Marta, uma das advogadas, que chora descontroladamente . - De qualquer modo, ele morrerá por hemorragia...
Roberto arrasta o chefe, aos berros, ao parapeito. Ronaldo tenta, em vão, convencê-lo a não jogá-lo: primeiro ordenando, depois implorando, e, finalmente, corrompendo. Não obtém resultado. A janela se abre, o corpo voa pela guarda do parapeito e se espalha pela escadaria do prédio. O sexto sentido de Roberto berra-lhe para que entre imediatamente, mas é tarde: um dos atiradores acerta-o em cheio na cabeça, e ele é arremessado escritório adentro. Está morto.
Ronaldo recosta-se na poltorna almofadada e regorgiza-se: pouco a pouco, seus carrascos vão, um a um, caindo. Dez anos naquela empresa, naquela maldita empresa, e só via-os olhando de rabo de olho, com seus sussurros maquiavélicos e seus sorrisos de lagarto, julgando-o, escrutinando-o, colocando-o a nível de verme. Mas ele se vingaria, ah, sim, se vingaria de todos, todos os malditos carrascos que o infernizaram desde a infância até aquela noite.
Arnaldo ordena a André ( também vestido como assassino), para arremessar o corpo de Roberto pela janela.
- Eles vão atirar em mim! Não quero morrer!
- Você ou seu filho - Aponta a arma a James, o estagiário - Tem 3 minutos.
Outro corpo arremessado, novo tiro, mais um morto. No terceiro arremesso, os atiradores não alvejam os arremessadores de corpos. Perceberam que os reféns estão vestindo os mantos. Começa, então, a segunda parte do plano de Arnaldo...
- Henrique, pegue a arma que está na segunda gaveta de minha mesa. Não tente nenhuma besteira, ela está descarregada. Coloque esta munição - joga-a sobre a mesa - e atire na cabeça de Gabriela!
- Não farei isso, seu bastardo. Estou pouco me fodendo pra você, e para qualquer um desta sala!
- Claro que está, não está! Egoísta imundo! - diz, pegando o celular e discando- Mas conheço alguém que o convencerá! Fale com sua amada esposa!
-Rico! Henrique, o que está acontecendo, meu amor? Porque estes homens estranhos estão em casa? Eles me dissem que você deve ajudá-los, não estou endendendo...E que ligação estranha era aquela, a meia hora? Estou preocupada!
- Não se preocupe, tudo acabará bem, amor...Cuidarei de tudo! Cuide de Joana e Maria Cláudia, está bem...E não e preocupe, são assuntos de trabalho... - diz Henrique, chorando.
Vai até a mesa, arrastando os pés, pega a arma, empurra a munição na câmara, engatilha, e aponta para a cabeça da mulher, que implora pela vida, ajoelhada. Como um relâmpago, no último instante, desvia a árma para a cabeça de Arnaldo, e puxa o gatilho. Anos de treinamento no clube de tiro haveriam de valer a pena...
A arma dispara, e o tiro sai...pela culatra. A arma explode, e o rosto de Henrique vira um chumaço fumegante de pêlos e carne. O homem cai de costas, estirado, o corpo todo tremendo em frenesi.
- Henrique sempre teve dificuldades em seguir ordens, não? - Disse ao resto do grupo. - Mas não se preocupem, a mulher dele está a salvo. Contei a ela dos casos de Henrique no escritório, e ela resolveu colaborar comigo. Sorte dela, ficará com o seguro.
Liberou, aos poucos, as faxineiras e os estagiários, despedindo-se tristemente de um por um. Os advogados gritavam, choravam e imploravam pela vida, o que causava em Arnaldo uma mistura de pena e de raiva. Durante anos, eles o trataram como um lixo, um nada, e de repente ele podia ser o vilão ou o herói de cada um deles.
Liberando o último estagiário, dirigiu-se a cada um dos seus ex companheiros, dizendo a eles o quanto eram vis, asquerosos e baixos, e que não valiam sequer as balas que os enviariam ao inferno.Avisou-os que deveriam ficar sentados e calados enquanto ele saísse da sala e se entregasse aos homens da lei, e saiu calmamente da sala, fechando atrás de si a porta.
Uma onda de alegria irradiou-se pela sala. Os homens e mulheres, que antes se amontoavam amedrontados, e que venderiam as almas de seus amigos por uma hora de vida, abraçavam-se, beijavam-se e prometiam mudar. Juravam cuidar mais das famílias, deixarem de trair maridos e esposas, voltar á academia, assumir a homossexualidade e todos os outros projetos guardados nas caixas sujas dos armários.
Isso até o gás venenoso começar a tomar a sala, vindo dos aspersores de água para prevenção de incêndio, e todos caírem mortos, pouco a pouco.
Arnaldo, preso e julgado, foi diagnosticado como louco, e internado em um hospital psiquiátrico, hospital esse cujo gerente era um dos que espezinhavam - no. Mas Arnaldo tinha mais um plano...