PRECIPÍCIO
Ele sentiu o corpo desabando no precipício outra vez, muito prazer:
o Pânico.
Não se trata do temor de barata, nem de ratos. A fobia que se fala é aquela que causa terror, descontrole emocional, medo mórbido ou patológico de algo específico. Tem gente que tem medo de multidões, morte, lugares fechados, campo aberto. O que para alguns é deleite, para outros é agonia. Verdadeira cilada de tirar o fôlego.
Paulo morava no 21° andar, detestava. Colocou grades nas janelas e área de serviço. O receio dele antes era ter pesadelo, sair andando pelo apartamento abrir a janela e pular, só de pensar sentia náuseas.
Não podia desfazer do imóvel, era herança e estava em processo de inventário. Paulo buscou ajuda por causa da fobia do medo de altura, era perseguido por pesadelos, passava semanalmente por sessões de psicoterapia...
Era tortura pegar elevador, mas não tinha outro jeito. Na saída para o trabalho, na volta. Quando precisava descer pra comprar alguma coisa. Ir à algum passeio... A razão de procurar psicólogo foram os sonhos aterradores. Sempre estava na montanha. no topo. Enquanto os outros se divertiam ele se encostava na parede sem olhar para baixo, golfando o medo e sendo ameaçado de morte pelo desfiladeiro. No pesadelo recebia convites, lutava contra os fantasmas que falavam, pula, pula, pula...
Quem nunca sonhou despencando no vazio, sem encontrar o chão, no ápice da vertigem cruel, sem conseguir respirar direito, sem voz para pedir ajuda, sentindo o coração apertado, sufocado, os olhos buscando um ponto para fugir da agonia. Nem adianta tentar se não há no que se apegar, a mercê do perigo prolixo, refém do medo do corpo que não encontra forças para reagir, voz sufocada que não sai. Inevitável queda no precipício sem fim, tudo apaga, sem ação, não há o que fazer, tudo foge ao controle da racionalidade, a aflição se faz presente, tudo é horror, o coração acelera porque não há segurança, a morte se insinua pela vertigem que insiste. A velocidade aumenta, não há o que pensar quando tudo é trevas, solidão, e o fim se aproxima na escuridão de um sonho angustiante que veio para ceifar a vida.
Como o medo pode causar a fragilidade do ser, quando todos os pensamentos indicam o fim, o corredor frio, escuro e vazio, o túnel lúgubre que puxa para as profundezas do desconhecido. A voz não sai, o movimento cessa, o corpo se entrega à fobia. O que resta é o coração que ainda bate, esperando o momento de dizer adeus, a mente silencia, com o clamor soturno, sem solução, sem saída, a morte bate à porta...
Notamos que quando o sono vem perdemos o domínio total do corpo, o que faz que ele continue respirando é o fôlego de vida, nossa essência, mas quando vemos o horror, não há como se desvencilhar, falta o ar, e o terror se instala e a ansiedade intensa da morte por asfixia, na despedida atroz.
O despertar acontece na menor variação possível num estímulo, suscitando a sensação de alívio de volta a vida depois de estar diante da morte. Acordamos suados e o pulsar do coração acelerado diminui emergindo das trevas tortuosas, onde a angústia é irmã da vertigem. A escuridão do quarto a testemunha do pesadelo.
Paulo acordou assustado mais uma vez, olhou para o relógio que não despertou. Estava atrasado. Tomou um banho rápido, não havia tempo para fazer o café, ele apressado se enxugou, se aprontou, saindo rapidamente para o corredor. Chamou o elevador, aguardou impaciente, abriu a porta deu um passo rapidamente e despencou...o precipício outra vez, agora tinha voz, mas foi inútil gritar, sua mente na montanha, o medo de altura, não olharia para baixo, a fobia, a náusea, a vertigem, a angústia terminou quando o túnel chegou ao fim.
A morte nunca mais se insinuaria. Paulo nunca mais sentiria fobia, nem pavor, nunca mais teria pesadelos...
Naquela manhã o funcionário da W.T. Elevadores Ltda estava consertando um defeito nas cabines do elevador. O profissional esqueceu de travar a porta no 21° andar após os trabalhos técnicos. Paulo acabou caindo no fosso. Só foi encontrado quando os colegas de trabalho e a família sentiram a falta dele.
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Ele sentiu o corpo desabando no precipício outra vez, muito prazer:
o Pânico.
Não se trata do temor de barata, nem de ratos. A fobia que se fala é aquela que causa terror, descontrole emocional, medo mórbido ou patológico de algo específico. Tem gente que tem medo de multidões, morte, lugares fechados, campo aberto. O que para alguns é deleite, para outros é agonia. Verdadeira cilada de tirar o fôlego.
Paulo morava no 21° andar, detestava. Colocou grades nas janelas e área de serviço. O receio dele antes era ter pesadelo, sair andando pelo apartamento abrir a janela e pular, só de pensar sentia náuseas.
Não podia desfazer do imóvel, era herança e estava em processo de inventário. Paulo buscou ajuda por causa da fobia do medo de altura, era perseguido por pesadelos, passava semanalmente por sessões de psicoterapia...
Era tortura pegar elevador, mas não tinha outro jeito. Na saída para o trabalho, na volta. Quando precisava descer pra comprar alguma coisa. Ir à algum passeio... A razão de procurar psicólogo foram os sonhos aterradores. Sempre estava na montanha. no topo. Enquanto os outros se divertiam ele se encostava na parede sem olhar para baixo, golfando o medo e sendo ameaçado de morte pelo desfiladeiro. No pesadelo recebia convites, lutava contra os fantasmas que falavam, pula, pula, pula...
Quem nunca sonhou despencando no vazio, sem encontrar o chão, no ápice da vertigem cruel, sem conseguir respirar direito, sem voz para pedir ajuda, sentindo o coração apertado, sufocado, os olhos buscando um ponto para fugir da agonia. Nem adianta tentar se não há no que se apegar, a mercê do perigo prolixo, refém do medo do corpo que não encontra forças para reagir, voz sufocada que não sai. Inevitável queda no precipício sem fim, tudo apaga, sem ação, não há o que fazer, tudo foge ao controle da racionalidade, a aflição se faz presente, tudo é horror, o coração acelera porque não há segurança, a morte se insinua pela vertigem que insiste. A velocidade aumenta, não há o que pensar quando tudo é trevas, solidão, e o fim se aproxima na escuridão de um sonho angustiante que veio para ceifar a vida.
Como o medo pode causar a fragilidade do ser, quando todos os pensamentos indicam o fim, o corredor frio, escuro e vazio, o túnel lúgubre que puxa para as profundezas do desconhecido. A voz não sai, o movimento cessa, o corpo se entrega à fobia. O que resta é o coração que ainda bate, esperando o momento de dizer adeus, a mente silencia, com o clamor soturno, sem solução, sem saída, a morte bate à porta...
Notamos que quando o sono vem perdemos o domínio total do corpo, o que faz que ele continue respirando é o fôlego de vida, nossa essência, mas quando vemos o horror, não há como se desvencilhar, falta o ar, e o terror se instala e a ansiedade intensa da morte por asfixia, na despedida atroz.
O despertar acontece na menor variação possível num estímulo, suscitando a sensação de alívio de volta a vida depois de estar diante da morte. Acordamos suados e o pulsar do coração acelerado diminui emergindo das trevas tortuosas, onde a angústia é irmã da vertigem. A escuridão do quarto a testemunha do pesadelo.
Paulo acordou assustado mais uma vez, olhou para o relógio que não despertou. Estava atrasado. Tomou um banho rápido, não havia tempo para fazer o café, ele apressado se enxugou, se aprontou, saindo rapidamente para o corredor. Chamou o elevador, aguardou impaciente, abriu a porta deu um passo rapidamente e despencou...o precipício outra vez, agora tinha voz, mas foi inútil gritar, sua mente na montanha, o medo de altura, não olharia para baixo, a fobia, a náusea, a vertigem, a angústia terminou quando o túnel chegou ao fim.
A morte nunca mais se insinuaria. Paulo nunca mais sentiria fobia, nem pavor, nunca mais teria pesadelos...
Naquela manhã o funcionário da W.T. Elevadores Ltda estava consertando um defeito nas cabines do elevador. O profissional esqueceu de travar a porta no 21° andar após os trabalhos técnicos. Paulo acabou caindo no fosso. Só foi encontrado quando os colegas de trabalho e a família sentiram a falta dele.
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