O Médico Monstro

- E então, o que acha?

Eu examino o rosto do médico antes de responder. Olhos azuis, barba rala, cabelos curtos. A única indicação do monstro que se escondia por trás daquela figura simpática era a camisa de força que o imobilizava.

- O que eu acho? Acho que você é completamente louco.

- Louco? - Ele pareceu pensar um instante - não, eu não sou um louco, eu sou um gênio! - Gênio do mal, eu pensei, mas não falei nada.

Como eu não respondi, ele continuou - Você não concorda? Acha que estou me gabando? Eu mereço um Nobel pelo que consegui fazer. Quando a comunidade científica se der conta do que realmente significa minha realização, do novo mundo que eu abri sozinho, eu entrarei para a história como um dos grandes gênios da humanidade.

Sua risada macabra ecoou pelo cubículo em que nos encontrávamos. Eu quase perdi o controle novamente, isto era um pesadelo.

- Eles não dão prêmios Nobel para um doutor Mengele. Muito menos para um Frankenstein.

- Mengele pelo menos não era escravo de morais ridículas. Quanto a Frankenstein, você acha que me ofende comparando minhas realizações com tal história? Sim, eu sou o verdadeiro Doutor Frankenstein, e tenho orgulho disto. Eu criei uma nova vida, uma nova alma, eu fiz muito mais que juntar braços e pernas. Eu juntei mentes!

- Você criou uma monstruosidade! - desta vez eu berrei. A raiva com o que esta criatura fez tomando conta de mim.

- Monstruosidade? Chamar de monstruosidade é a maior prova de que estou anos à frente de meu tempo. Quando começaram a transplantar órgãos, rostos, braços, também havia quem chamasse de monstruosidades.

- Você quer comparar substituir um braço com juntar dois cérebros? Unir dois hemisférios de duas pessoas em uma nova criatura? Tudo que você fez foi criar um monstro insano com duas mentes.

- Eu fiz o que fiz pelo progresso da ciência!

- Mentira - minha vontade era apertar o pescoço daquele homem com minhas mãos, arrancar o sorriso arrogante que podia ver em seu rosto - você só fez para salvar sua vida miserável.

- E o que há de errado nisto? Acaso eu deveria morrer? Ou virar um retardado, provavelmente um vegetal? Quando havia uma forma de continuar vivo, apesar do tumor que se espalhava pelo meu cérebro.

- Vivo? você chama isto de viver?

- Mas é claro, meu amigo! Isto é viver, esta é a minha nova vida - na minha frente, o doutor sorria, a insanidade escondida por um rosto simpático, que olhava tranquilamente para mim na imagem no espelho - e a sua.

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Ashur
Enviado por Ashur em 12/08/2013
Código do texto: T4431604
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