“Eu, a lua e você”
Dedico este conto a todos os nossos colegas escritores e leitores, obrigado por lerem meus humildes contos, Beijo nos corações. Joel.
A lua cheia atormenta um homem condenado a se transformar em lobisomem toda vez que surgi entre as nuvens especas e tímidas estrelas.
Eu, a Lua e você; lamentavelmente teremos um encontro mortal nas noites de lua cheia.
O soneto “Versos Sombrios” que compõe este conto é da autoria de “Dora estrela” que com carinho me permitiu adornar o conto, que em borá revela um fenômeno imaginário do homem que se transforma em lobisomem na lua cheia, é também romântico.
“Eu, a lua e você”
1943 – A cidade de São Paulo recebe um ilustre viajante, trata-se de Jerônimo, um poeta e escritor que vem de uma pequena cidade do interior de Salvador Bahia para buscar inspiração numa grande cidade.
Jerônimo tem hábitos nada comuns, algumas pessoas em seu estado, pensas que ele agi estranho às vezes por ser um homem com a imaginação de poeta, muito ativa! Seus hábitos são peculiares.
Na cidade onde ele mora ninguém conhece seus familiares, seus atos, são misteriosos.
No bairro do Bixiga em São Paulo, ele alugou uma casa grande, embora morasse só, suas bagagens precisam de espaço.
São muitos livros, e há correntes de aço, ele não se aparta delas.
Ao conhecer Gracinha, uma linda jovem e estudante de letras, Jerônimo apaixonou-se, foi amor à primeira vista, assim que chegou à cidade grande.
Sentado sobre o degrau da escada na porta da frente de sua nova casa, ele campos sua primeira poesia, apaixonado.
Esta viria dizer pela primeira vez o seu verdadeiro sentimento, mas em poesia, a doce Gracinha, não o temeria.
“VERSOS SOMBRIOS”
Meus versos são sombrios desalentos
No silencioso ecoar das vozes
Ouço ao longe a agonia dos algozes
Tais fantasmas que marcham sonolentos.
Quem poderá entender os lamentos
Dessas almas que vagueiam a atrozes
Uivam vorazes quão lobos ferozes
E versam em seus ávidos tormentos.
Eu vejo a morte embalando o poeta
Na melodia lúgubre que o completa
O sorriso confunde-se com pranto.
Eles prosam, valsam com perfeição
Em que treva me estenderás a mão?
Grita o poeta em seu fúnebre canto.
Ao terminar o versejar apaixonado, embora com um tom de negro tormento, Gracinha o abraça com juras de amar aquele desconhecido poeta.
No inicio da noite Gracinha sai da casa de Jerônimo, onde estava com seu amado e sai a caminhar pelas ruas do Bixiga, ela vai em direção a sua casa.
Uma leve dor de cabeça a atormenta, ela para por um instante na calçada em frente ao portão de entrada, ate que passe a breve tontura, por certo ocasionada pela dor de cabeça.
Ao entrar em seu quarto, Gracinha abre a janela para apreciar a lua, esta noite a lua estará entrando em uma fase de fascínio, a lua cheia.
Em uma rápida e confusa visão, ela percebe um vulto que cruza o canteiro de pequenos arbustos no centro da rua.
Ela esfrega os olhos com as costas da mão, parece não entender a estranha visão. Parece um cão enorme; Gracinha – estou ficando maluca, deve ser efeito da dor de cabeça.
Ela vai a sua estante na sala, toma um analgésico.
E senta-se a beira de sua cama.
Tal lembrança da imagem vista, a perturba.
Gracinha vai mais uma vez a janela para ver se a tal visão se repete, mas tudo que ela vê, são as folhas ainda balançando.
Em pensamento; - será que foi mesmo um cão enorme? Mas... Muito grande! Gracinha fecha a janela, a cortina e se põe a preparar-se para dormir, em seu pensamento meio turvo, vem Jerônimo, ela se encanta com o romantismo e a graça do soneto versejado pelo amado, um breve sorriso desalinha seus lábios doces e carnudos, ela fecha os olhos abraçando seu travesseiro de cetim e dorme com desejo ardente de sonhar com o estranho de voz rouca, suave e carinhoso que conhecerá naquela tarde.
Jerônimo com gestos sutis, fez com que Gracinha se fosse para longe dele, pois a tarde deste dia já começava a fechar as cortinas da noite e a lua já exerce seu poder sobre a maldição que domina o poeta.
A partir dali em diante, ele não responde por seus atos.
Portanto, ele precisa adentrar em sua casa, acorrentar-se com sua inseparável corrente de grilhões em aço.
Ao adentrar o porão da casa, logo após sua amada ter partido; ele não encontra a corrente, devido à mudança, as coisas ficam meio perdidas.
Ele sente-se perdendo o domínio, Gracinha vem em sua memória de uma forma forte, sente como se uma cachoeira escorresse em seu cérebro.
Não encontra a corrente e a metamorfose tem inicio, a lua passa com sua graça e domínio sobre o homem, as nuvens se esvaem num céu escuro descobrindo a lua de forma graciosa e imponente, a transformação do belo para o terrível e amedrontador monstro das trevas rasgadas pela lua cheia, é inevitável.
Jerônimo sai nas ruas estreitas, ele vai se esgueirando pelos cantos das casas e becos, ele busca sua amada, ele tem o faro de um cão no cio, ele sente o perfume de Gracinha e a segue, bem próximo de sua casa, ele a vê adentrando e fechando o portão, seu instinto de lobo, o faz se esconder entre os arbustos, embora inconformado, decide cruzar a rua em direção a um bosque, onde teria sua fome saciada, vorazmente, embora inconsciente.
Mal sabe Jerônimo que sua amada o viu, mesmo sem ter clara certeza, apenas como a um vulto.
Esta noite; Gracinha estava à salva da morte atroz.
Na manha seguinte, gracinha sai em direção à praça, ela a travessa para ir a uma loja de chapéus, ela pensa em presentear seu amado com um belo chapéu de linhagem Italiano.
No centro da praça, um pequeno grupo de pessoas reunido em volta de algo que lhes chamavam atenção.
Gracinha aproxima-se.
E surpreende-se com a cena terrível, uma pobre jovem caída ao chão e seu corpo dilacerado com profundas marcas de mordidas de cão.
Gracinha se apressa a caminhar em outra direção, seu intuito é sair o mais rápido possível daquele local tenebroso.
Pobre moça – diz Gracinha, pobre moça, o que deve ter acontecido com ela? Por enquanto, pergunta sem resposta, ela esta chocada.
Após ela comprar o chapéu que desejava presentear seu amado.
Tomou um taxi e foi o mais breve possível à casa de Jerônimo.
Ao chegar a casa; percebeu a porta da frente com uma leve danificação nas dobradiças, como se estivesse sida arrombada.
Gracinha adentra a casa com cautela, ela caminha lentamente, abraçada com a caixa de chapéu e se ponha a prestar atenção no ambiente, um tanto misterioso.
Ela para em frente à porta do quarto de Jerônimo, a porta entre aberta, propicia uma visão parcial da cama do moço.
Ela percebe que seu corpo esta nu, ao aproximar da cama, ele tem ferimentos cicatrizados nas costas, e observa pelos grossos no lençol, como se ali, um cão enorme e preto tivesse dormido com o rapaz.
Ele acorda e ao perceber a moça em seu quarto, irrita-se, ele pede para ela sair. Gracinha para no centro da sala enorme da casa.
Jerônimo apareceu na porta de entrada, agora vestindo uma calça de linho preta e uma camisa de cetim marrom, levemente amarrotada.
Jerônimo preocupa-se com a moça e diz para ela não vir a sua casa sem antes avisá-lo.
Gracinha comenta com ele sobre o que presenciou na praça próxima a sua casa. Gracinha – uma jovem perdeu a vida de forma cruel e violenta perto de minha casa, eu venho aqui para conversar com você sobre este assunto, fiquei impressionada.
Jerônimo – quando eu estava na Bahia, ouvi dizer que São Paulo tinha muita morte violenta.
Não deste jeito, atacada por cachorros, diz Gracinha! Como assim? Cachorro. Jerônimo se assusta e se demonstra curioso, porem de uma forma discreta, sem deixar transparecer sua preocupação.
Jerônimo sente gosto de sangue na boca e discretamente se retira, vai ao banheiro da casa olhar seu rosto, principalmente seus dentes.
Gracinha o convida a um passeio as margens do rio Tiete, haverá uma competição de pequenos botes no rio.
Jerônimo aceita o convite, mas pede a moça para passar com ele na Igreja antes. Gracinha – vai se confessar? Sim, diz Jerônimo, sem maiores comentários.
No caminho ele pede ao taxista para deixá-los na Igreja, o Padre João esta no confessionário, lá, o rapaz faz uma confissão dramática, antes, ele se certifica se o Padre não o vê.
Padre João – fala meu filho, o que fez de errado para que eu possa perdoá-lo. Jerônimo – perdoar-me? Padre, não tem perdão para meu pecado, diz com uma voz meio embargada.
Como assim meu filho? Indaga o Padre.
Eu matei varias pessoas, a moça morta na praça ontem à noite, fui eu, quem a matei.
Um mórbido silencio toma aquele lugar santo, o Padre ameaça abrir a cortina, Jerônimo percebe e diz, com um tom ameaçador, não, não abra, eu não posso deixar que me veja, eu não tenho culpa, eu sou um monstro d noite, eu, não tenho culpa, reza por mim, reza Padre, só isso eu lhe peço.
Ao confessar, não esperou a benção do santo homem e partiu, pegou a moça pelo braço e saiu apreçado, ele não queria correr o risco de ser visto pelo Padre. Caminharam algumas quadras, Jerônimo esta em silencio, Gracinha também não lhe perguntou nada durante o trajeto.
Embora ao chegar ao clube, do rio tiete, ela lhe indagou; - o que confessou ao Padre? – nada, nada importante, mas de agora em diante, não vá a minha casa sem me avisar, por favor, eu a amo e não a quero mal falada.
Uma senhora ao lado deles, segurava um pequeno cachorrinho, Jerônimo olhou para o animalzinho e seus olhos brilharam, fato, que o cão, o estranhou, com gestos de submissão, apenas se encolhendo ao colo da senhora, sua dona.
Ao retornar a casa naquela tarde, Jerônimo deixa Gracinha em sua casa e vai logo embora, ele sente arrepios no corpo e teme a transformação na frente da moça. Naquela noite, Jerônimo encontra as correntes e se acorrenta a uma pilaste no porão da grande casa.
A meia noite a lua brilha terrivelmente, em quanto os casais apaixonados trocam juras de amor sob o luar, Jerônimo tem sua maldição presente, a transformação acontece, ele uiva desesperadamente, a ponto de chamar atenção da vizinhança, senhor Antenor e sua esposa Lidia, não seguram suas curiosidades e decide adentrar a casa para ver de perto o que causa tamanho pavor.
São surpreendidos por um enorme cão de dois metros de altura, a corrente longa, possibilita o ataque lamentável do lobo contra a senhora Lidia, Para salva-la, Antenor se lança sobre a fera, mas é estraçalhado sem piedade.
A pilaste se rompe, o grande lobo sai às ruas do bairro arrastando os grilhões da corrente de aço.
O barulho e ouvido pela vizinhança, que assustados trancam suas casas e passam a observar a lastimável cena pelas frestas das portas e janelas.
A cena é terrível, um lobo caminhando sobre as duas patas traseira, ensangüentado e arrastando enormes correntes.
Jerônimo não consegue retornar a casa, o lobisomem vagueia pelas ruas e becos, feito a um cão perdido na madrugada, durante estas caminhadas, fora deixando muitos corpos caídos e rastros de sangue por onde passava.
A noite que o atormenta separa dele a amada.
Uma comoção no bairro alarma os policiais que saem a caçar o lobisomem, Gracinha ouvindo o que os policiais falavam, ficou curiosa e pensou dividir com Jerônimo.
Ela foi a casa dele, mas não o encontrou.
Ela vê roupas rasgadas caídas ao chão e começa a recolher, quando se depara com algumas fotos.
São fotos de um terrível monstro, o lobisomem e em uma gaveta, ela encontra jornais com reportagem citando casos de lobisomem na cidade de onde vem Jerônimo. Ela descobre que seu amado é o lobisomem.
Gracinha sai em desespero para tentar encontrá-lo e salva-lo da morte certa.
Ao chegar num beco, ela vê vários carros da guarda nacional parado e policiais fazendo o cerco, a tensão é grande.
Gracinha ouve uivos desesperado de um lobo tentando uma fuga, à noite esta cortinada por uma neblina baixa, e de longe percebe um grande individuo se aproximando dela, ao se aproximar, gracinha sente a presença de Jerônimo, embora a visão seja aterrorizante, ela não sente medo e vai ao encontro do lobisomem.
Ela tenta chamar sua atenção; - Jerônimo é você? Pelo amor de deus, é você?
O que esta acontecendo meu amor? O lobisomem para, ele sente o cheiro da amada por alguns instantes, os policiais se aproximam. – moça, moça, afasta-se daí, nos vamos atirar.
O padre João segura ela pelo braço, vamos filha, vamos, este monstro não é seu amor, é uma aberração, deixa a policia cuidar dele. – não, exclama a jovem com piedade, ele é bom, eu o amo.
Num breve momento, ouvem-se vários tiros.
O Padre corre tentando proteger a jovem, muitos tiros são alvejados.
Num determinado momento; ouve-se um grito de voz humana; - deixa-me atirar, vocês estão gastando munição sem efeito.
O bicho só morre com bala de prata.
Gracinha não reconhece a voz, nem poderia, era um caçador que segue a trajetória de Jerônimo desde sua primeira transformação, o caçador é Valentim, o lobisomem matou sua esposa e dois filhos na Bahia há dez anos, desde este tempo, Valentim segue Jerônimo, ele tem certeza que é o lobisomem.
Valentim – agora eu pego você, o lobisomem parte em direção ao homem determinado a matá-lo.
Valentim corre no beco, ele tenta retornar, mas o lobisomem o pega, um segundo de silencio; ouve-se o tiro, uma bala de prata acerta em cheio o coração do Lobisomem.
Gracinha desespera-se e sai correndo ao encontro daquele enorme corpo peludo caído, ensangüentado no chão.
O lobisomem não reconhece à jovem, mas um olhar de suplica mira os olhos de Gracinha.
Ela se joga sobre o corpo dele, e o abraça, lamentando a cena, ela chora; - não, não, você é bom, é um poeta, carinhoso e eu o amo.
A metamorfose tem inicio inverso agora, o monstro começa a se destransformar bem na frente de seus algozes.
Em alguns minutos, um corpo nu surgiu por entre os enormes pelos grossos e negros.
A mão de gracinha esta sobre o ferimento da bala, ela tenta estancar o sangramento, embora inútil tentativa.
Ainda da tempo de uma breve declaração de amor de Jerônimo; Eu, eu a amo, amei você desde a primeira vez que a vi.
Perdoa-me, perdoa.
Levemente, Jerônimo eleva os olhos para a lua cheia, e diz; - porque não me salvaste? Tanta desgraça cometi por seu encanto.
Agora, estou caído diante da minha amada, sem poder fazê-la feliz.
Padre, Padre, me de sua benção, eu não quero ir para o inferno.
O padre João promete rezar por ele.
A lua cheia se esconde por entre as nuvens especas e por entre as tímidas estrelas.
Jerônimo fecha os olhos, por certo em direção a uma luz, que não é da lua cheia.
Gracinha é amparada pelo Padre e os policiais os levam embora.
Ao chegar a casa, Padre João; - Gracinha minha filhas, você esta sangrando, deixa me ver este ferimento.
Gracinha foi mordida momentos antes de o Lobisomem morrer. Mas agora, a vida precisa continuar.
Esta historia termina aqui, mas a lenda; continua viva!
Em breve mais um conto - “A floresta dos Horrores”
Fim