O DIABO SE DEU MAL 

A tua impiedade só poderá fazer mal ao homem, que é teu semelhante; e a tua justiça só poderá ser útil para os filhos do homem.” Jó, 35;8.


O que essa história de Jó nos ensina?
Que a natureza nunca faz julgamento,
E para o homem não evita a má sina
Mesmo que tudo ele faça a contento.
 
Pois esse Jó era um homem abastado,
Pessoa devota, virtuosa e muito séria,
Mas de repente ele se viu despojado,
Coberto de chagas, em abjeta miséria.
 
E ele aprendeu que não há bem e mal,
E o que pensamos ser cruel e injusto,
Talvez seja apenas aquela prova final,
 
Que se aplica aos que buscam mérito,
Para sair da vida com bastante lustro,
E entrar no céu com sobra de crédito.
 
 
Diz a Bíblia que um dia, numa reunião no céu, Deus reuniu todos seus anjos, e Satanás, um anjo rebelde e contestador por natureza, também estava presente. E Deus, que já tinha uma certa querela com ele, perguntou o que ele estava fazendo ali. Então o tinhoso respondeu que tinha andado pela terra observando os homens. E Deus lhe peguntou se ele não tinha aprendido nada com Jó, um homem íntegro e fiel, que servia a Deus com fidelidade e nunca praticava o mal. Satanás, sarcárstico como sempre, respondeu que Jó só era virtuoso porque Deus tinha abençoado sua vida com muitos bens e uma prolífica e saudável família. Com tantas bençãos assim, quem não seria?
Dessa forma, Satanás acusava Deus de comprar a fidelidade e a virtude dos homens com presentes e agrados, como fazem os homens com os animais e geralmente, com seus próprios filhos.
“Manda para ele um pouco de sofrimento, que eu quero ver se ele continuará virtuoso, bonzinho e fiel a Deus”, desafiou Satanás, com isso querendo dizer que todo homem era corrupto e Deus, um corruptor.
Deus então, permitiu que Satanás voltasse a terra para atormentar Jó com muitas dores e sofrimentos, para ver se essas acusações que o sinistro anjo das trevas lhe imputava eram verdadeiras ou não.
 
E assim começou os sofrimentos de Jó. Primeiro o tinhoso tirou todos os seus bens. Matou seus bois, jumentos e camelos, todos os animais que faziam a riqueza pecuária do pobre homem. A mesma coisa fez com seus servos. Depois deu um jeito de matar os proprios filhos do infeliz.  
Com toda essa desgraça, Jó não amaldiçoou o Senhor. Apenas se lamentou, rasgando as vestes e aspergi ndo cinzas sobre a cabeça, como era feitio daqueles tempos antigos.
Vendo que a pobreza não corrompia Jó, Satanás se propos a feri-lo na sua própria carne. Cobriu seu corpo de feridas, desde a cabeça até a planta os pés, de tal modo que Jó tinha que raspar o corpo com um caco de telha. Jó virou uma pústula só.
Ainda asssim, não maldisse a Deus, nem se corrompeu na sua alma. Tudo lhe serviu para desenvolver uma sólida filosofia de vida, baseada na confiança na Divina Providência, e de certeza no papel do homem sobre a terra.
Ele aprendeu que não há bem nem mal sobre a terra como prêmio pelas nossas ações. A bondade  e a maldade são conceitos puramente humanos e não devem ser atribuidos a Deus. O homem tende a ser bom quando tudo lhe é favorável e mau quando a desgraça o atinge. A verdadeira grandeza está em manter a virtude, mesmo quando a sorte nos é madrasta. Isso é mostrar fortaleza de espírito e capacidade de resistir ás inempéries.
A própria natureza nos mostra a veracidade desses pressupostos. São os organismos que vivem em condições mais desfavoráreis que sobrevivem e adquirem mais capacidade de evoluir. A dificuldade desenvolve a habilidade, a facilidade a atrofia.
Aprendeu que não existem prêmios nem castigos para o bem ou mal que fazemos na vida. Tudo são resultados bons ou maus que acontecem em razão da habilidade com que atuamos. Ás vezes, coisas ruins acontecem a pessoas que parecem boas, e pessoas reputamente ruins são contempladas com coisas que parecem boas. É preciso não ver injustiça nisso, mas apenas resultados. Justiça e injustiça são conceitos puramente humanos, que são valorados unicamente por critérios que o homem desenvolve. Deus não tem nada a ver com isso. Os homens sim.
Deus instrui o homem por meio de tribulações. Tribulações, aqui são entendidas como sendo as dificuldades que a tarefa de viver nos impõe. Quanto maior a dificuldade, maior o aprendizado que resulta da sua superação. O ímpio, pouco se lhe aproveita os bens que conquista com sua iniquidade, pois a sua conquista é feita sem aprendizado. Se vier a perdê-los não saberá como recuperá-los. Sofrerá as penas do inferno.
Nada pertence ao homem, sendo Deus o verdadeiro dono de tudo, e o que pensamos que temos, só o temos por empréstimo. Seja por que razão for, quando as coisas que pensamos ter nos são tiradas, só a paciência e confiança em Deus nos darão efetivo consolo. Se tivermos apego a elas nunca seremos, de fato, felizes.     
Só Deus sabe porque as coisas são como são e por que elas acontecem como acontecem. Tudo há uma razão para que ela aconteça daquela forma e naquele devido momento.
Jó chorou, reclamou, lamentou-se, mas confiou, acima de tudo, que a sua desgraça não vinha de Deus, mas da sua própria condição humana. E se vem da própria condição humana, se tudo é natural, tudo que vem vai, tudo que vai volta.

A história  de Jó é um belo poema de exortação á sabedoria de Deus e á confiança irrestrita que devemos ter no seu julgamento. Se tivermos mérito, nunca ficaremos em débito com a vida. Ela  nos dará tudo que merecemos. Ainda que o mundo pareça estar de cabeça para baixo, com os maus se dando bem e os bons se dando mal, como parece estar acontecendo atualmente, essa é só uma ilusão dos nossos sentidos. O mal só prospera quando o bem não se lhe opõe. Quer dizer: a omissão dos bons é que dá chance para o que os maus apareçam.

Com a prova de fidelidade que Jó lhe deu, Deus restituiu em dobro tudo o que Satanás lhe havia tirado. E o tinhoso ficou com aquela cara de bode velho com que a Igreja medieval se acostumou a pintá-lo. É assim mesmo. O devoto, o fiel, aquele que confia em Deus e tem em si mesmo a autoconfiança da própria força, desenvolvida na foma de uma sólida filosofia de vida, sempre terá a sua recompensa.
O homem não é naturalmente corrupto nem Deus o corrompe com recompensas materiais ou promessas de um futuro Porvir num lugar de delícias. Ao contrário, Ele nos convida a aprender cada dia mais, para com esse aprendizado ficarmos cada vez mais fortes. E com isso aperfeiçoar, cada vez mais a sua Criação.É para isso que Ele nos fez.   
Satanás perdeu a aposta e retirou-se para o inferno, onde continua a tentar desencaminhar a humanidade. Á vezes ele consegue, quando as pessoas se esquecem dessas coisas. Mas ele sempre perde quando o jogo não é viciado. E a vida, vivida com inocência e honestidade, e uma sólida fé em Deus, é a unica forma de derrotá-lo.