o anfitrião

Quando acordou Fernando percebeu que não estava em seu quarto, era um lugar úmido e sem luz com tijolos aparentes em algumas partes das paredes descascadas e com manchas negras. Ele estava atordoado e tonto e não imaginava o que podia ter ocorrido antes., era uma situação em que ele era impotente e mais ainda quando percebeu que suas mãos estavam algemadas e os pés presos ao chão pelo medo. Pensava que talvez alguém lhe tenha drogado ou algo assim. Ficou tentando chamar alguém, gritar socorro, porém sua voz não saia e o desespero aumentava.

Ele não ouvia nada, nem som de carros ou qualquer tipo de som. Perecia um deserto então imaginou que podia estar em um sitio ou lugar isolado e imaginou o que poderia ter levado alguém a o seqüestrar: o passado, seqüestro por dinheiro? Impossível saber.

Pareciam horas de silêncio, então do nada se ouviu passos, um som se aproximando e trazendo um eco, ele ouviu o ranger do ferro de uma porta se abrindo as suas costas. Por medo preferiu não se virar e fechou os olhos apenas percebendo que aquela presença vinha em sua direção devagar e, se colocara a sua frente:

- está com medo? – ele não respondeu e nem abriu os olhos, sentiu que aquele homem estava tão próximo dele que poderia estar com uma arma na direção do seu rosto e então aquela voz rouca e que possuía um hálito de cigarro barato repetiu o que havia perguntado e o ameaçou:

-se você ficar calado não vai ter as respostas que precisa para saber por que está aqui.

-eu estou com medo sim, por favor, me solte, eu pago quanto for preciso. Por favor, não me machuca amigo!- e abriu os olhos vendo o homem alto, ali parado a sua frente como um arauto do fim

-machucar? O que me levaria a fazer isso? Eu não vou machucar você se você tiver o comportamento como deve ser

Ele tinha uma respiração profunda e tensão na face, aquele homem com um terno elegante preto e uma barba negra que cobria o rosto lhe dizia – é o fim- ele sabia que não iria mais ver a luz do dia de novo. aquelas mãos tremulas unidas pelas algemas diziam isso.

-você deve estar se perguntando por que esta aqui, eu poderia dizer mas acho que você já sabe

-olha como eu disse posso pagar quanto quiser, basta eu dar um telefonema e...

-eu não posso permitir que você fale com ninguém.

-eu juro que se você me deixar ligar para minha mulher ela não vai chamar a policia

-policia? Você não esta entendendo mesmo? Não é por dinheiro que você esta aqui

E Fernando ficou confuso com a situação, antes De poder perguntar o que queria o homem completou :

- e sua mulher não vai poder atender, pois esta morta!

O susto e desespero da noticia o abalaram e agora ele dizia que não acreditava.

-não pode ser, você não fez isso e se fez eu te mato!

-na situação em que estamos isso não e possível, se eu fosse você começaria a se acostumar com alguns fatos

-seu desgraçado, por que fez isso?

-fazer o que?

-seu filho da...

-sua mulher estava no carro errado e na hora errada, ela não devia ter usado o carro dele.

-o que?

-Foi isso, ela morreu no carro

-meu deus, o que você esta dizendo!

- realmente você não lembra o que aconteceu não é, eu vou te esclarecer se quiser

-me solta, eu preciso ir embora, eu te dou o que quiser, eu preciso de Débora

-eu já disse que ela morreu

-eu não acredito seu canalha, não acredito!

Nessa altura Fernando chorava como criança e o homem o observava.

-primeiro vou lhe contar o motivo de você estar aqui e depois vou esperar.

-seu desgraçado, eu não quero saber se você é o capanga ou o capo. Eu juro que se eu sair daqui eu te mato e arranco cada unha dos seus dedos com meus dentes!

-hahahahaha! Sério? Só que você não sairá daqui, não mesmo.

De pé, ele então começou a falar do passado e suas conseqüências:

-Éramos jovens, e não tínhamos dinheiro, a idéia era apenas entrar Lá e sair sem fazer nada demais, apenas roubar e sair sem tiros ou qualquer violência. E tudo estava dando certo até que você resolveu mudar o padrão das coisas.

-do que você esta falando?

-eu já tinha pegado tudo e só aguardava você sair do quarto da menina mais nova, os pais e a babá estavam amarrados e não nos reconheceriam mas você tirou a touca e trouxe a menina para a sala e atirou

-impossível, é você Ramiro?

-primeiro no cara, depois na babá e na menina

-como você pode saber disso?

-e queria estrupar a mulher, mas eu atirei antes de você fazer isso

-como você pode saber isso? Responde desgraçado!

-então nós saímos levando tudo que dava e não paramos mais. Cada vez ficou mais violento e sem controle. Você mudou minha alma.

Paralisado, Fernando ouvia o homem e não podia acreditar que fosse Ramiro ali a sua frente, somente ele sabia daquele passado. Sua sensação era de desespero pelo fato daquele ser Ramiro vivo, mas como? Ele cuidou de tudo e tinha certeza que não errou naquele caso. Fez tudo direito do modo a não deixar o detalhe escapar. Estava tão confuso e temeroso que não fazia perguntas para achar respostas, simplesmente as fazia pois era impossível ficar ali olhando uma vitima ter virado algoz depois de tanto tempo.

- viajamos por angra, santos, fortaleza e sempre do mesmo modo, derramando e deixando sangue para trás, até o dia em que eu quis parar e você não quis deixar.

-você não pode estar vivo, eu te enterrei !

-eu tentei parar e você não deixou, pegou aquela barra de ferro e acertou minha cabeça

O homem se afastou de Fernando e continuou de costas:

-então me algemou com estas algemas e me jogou na mala do carro

Fernando olhou para as algemas e percebeu a terra. Ele não acreditava naquilo, aquele homem não podia estar vivo

-Como você saiu de Lá?

-fez aquela cova rasa e me enterrou como se enterra um bicho, e quando terminou descarregou sua pistola em mim.

Quando se virou de volta, o rosto do homem era o de Ramiro claramente e Fernando rogou por deus

-por favor, não me faça sofrer

-eu acordei aqui e vi muitos como você e apenas esperei e agora, chegou a hora do acerto!

Ele vinha se aproximando e desesperado Fernando tentava se mover porém seu corpo não o obedecia. Ele então começou a notar conforme o ex companheiro se aproximava que seu rosto tinha furos de balas e um grande rasgo no crânio, ele sabia que havia feito aquele estrago. Ele olhou nos olhos de Ramiro e gritou ao perceber que eram dois buracos, um corpo sem vida com as janelas vazias que estava ali para que ele pagasse com o mesmo preço.

-meu deus!

Ele acordou em sua cama suando muito e deu um grito desesperado olhando para todos os lados e gritou por Débora que não respondeu. Ele saiu andando pela casa e chamou qualquer pessoa que pudesse ouvir, não obtendo resposta foi ao banheiro e lavou o rosto. Ao olhar no espelho viu seu filho as suas costas e aliviou-se

-Leandro!

-pai

-ai meu filho que pesadelo eu tive!

-por que pai?

-Por que tive um pesadelo?

-por que você fez isso?

Fernando não entendia do que o filho falava e ficou quieto então o filho puxou da cintura uma arma que era sua fazia vinte anos

-o que é isso meu filho?

-era pra mim não é?

-Do que você esta falando, pelo amor de deus abaixa isso?

-você colocou uma bomba no meu carro não foi?

-o quê?

-seu desgraçado, você queria me matar!

Fernando estava confuso e atordoado e tentava associar os fatos, quando o filho lhe falou o ocorrido na manhã passada

-você a matou. seu desgraçado

-do que você tá falando filho?

-do que eu to falando?

Ele parecia não saber de nada era tudo sem sentido, Leandro então perguntou:

-está com medo?

E ele teve um choque, como se houvesse ligado algo em sua memória. ele se lembrou do dia em que chegou a sua casa mais cedo do que o planejado e viu sua amada Débora com o filho, no quarto e se amando, sua raiva o levou a mandar fazer aquilo, uma bomba e seu filho seria mais uma vitima da guerra de poderosos, a culpa seria do inimigo. Mas ele não faria o mesmo com Débora, pois ela era seu maior troféu e a deixar viva seria o seu castigo. O inesperado foi ela pegar aquele carro naquele dia para deixar seus filhos, os três na escola e virar a chave e saber que ele os havia desintegrado era um castigo imperdoável, a maior das dores.

Ajoelhou-se em pranto enquanto seu filho o olhava com fúria no olhar. Apontando a arma em sua direção.

-o que eu fiz!

- você a matou e queria que fosse eu, você conseguiu me matar também !

-meu deus!

-não fale em deus desgraçado, você matou meus irmãos e a mulher que eu amava!

Ele estava de cabeça baixa e pediu perdão a Leandro que nada respondeu. Foi erguendo e pedindo perdão, viu aquela pistola, a mesma que matou aquelas pessoas e outras e que matou Ramiro em sua direção pela primeira vez. Seu filho, o disse uma ultima frase:

-não tem perdão para um demônio como você!

Colocou a mão a frente do rosto para defender e tudo se apagou, quando novamente abriu seus olhos estava naquela sala, porém as paredes e o cheiro eram de sangue e haviam siluetas de rostos deformados em toda parte, ele não se assustou e ficou mudo ao perceber que conhecia cada um deles, todos que aquela arma havia executado, viu um buraco na palma da própria mão e sentia um extremo frio e dor de cada uma daquelas almas, ele estava em casa.

A Sala era vista de outro modo agora, ele usava aquele terno preto e anéis nos dedos, e havia um homem jovem sentado chorando desesperadamente com a arma a sua frente e um buraco na têmpora direita e outro maior na esquerda, sim aquele era seu filho. o traidor e traído; o inicio e o fim.

Seria seu primeiro de muitos convidados.

abeljunior
Enviado por abeljunior em 31/07/2013
Reeditado em 31/07/2013
Código do texto: T4412683
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