Faz exatamente seis anos que minha esposa morreu, e faz cinco anos que ela voltou para a nossa casa. Ana sempre foi uma mulher alegre, carinhosa, e apaixonada por mim. Fomos casados durante dez anos. Era um bom relacionamento. Havia respeito e muito amor. Não tivemos filhos, apesar de desejarmos profundamente. De repente ela começou a sentir náuseas, dores no estomago, e a vomitar após se alimentar. O diagnóstico médico acusou câncer. Nessa época ela estava com trinta anos, e por ser ainda jovem, acreditamos que se curaria. Só que ela não se curou. Morreu seis meses depois de descoberta a doença. Sofri muita a sua perda, e seguindo os conselhos dos meus pais, viajei. Passei quase um ano em outra cidade, no sítio da minha avó materna. Uma manhã resolvi que já estava na hora de retornar. Eu tinha um pequeno comercio e precisava tocá-lo. Quando abri a porta de casa, a saudade me trouxe lágrimas aos olhos. Fui revendo as nossas coisas, Relembrando a forma como ela se enrolava no sofá para assistir televisão. O jeito que ela sorria e olhava para mim quando achava alguma coisa engraçada. Sua voz manhosa me pedindo algo. Ainda chorando, fui até o nosso quarto. Notei uma pequena bolsinha caída debaixo da cama. Nela havia moedas e um pequeno bilhete endereçado a mim. Ela dizia o quanto me amava, e o quanto eu era importante em sua vida. Solucei de dor, e em desespero comecei a dizer que queria que ela voltasse. A principio eram apenas murmúrios, mas logo passei a implorar alto pela sua volta. Abatido acabei adormecendo abraçado ao seu travesseiro. Acordei com o som da televisão. Fiquei confuso. Eu havia trancado a porta, e ninguém possuía a chave. Senti um formigamento na nuca enquanto me aproximava da sala. Um grito escapou de minha garganta quando a vi deitada no sofá entretida com a novela. _Oi amor ela disse docemente. Por que esse espanto? Não ficou feliz com a minha volta? _ Gaguejei algo em resposta enquanto a analisava. Estava usando o vestido rosa com o qual fora enterrada, e apesar da palidez estava bonita como sempre. Ana se levantou e pediu um abraço. Todo o meu corpo se arrepiava enquanto ela ia se aproximando. Pensei em gritar, correr, mas fiquei ali parado olhando fixamente para ela. Magoada pela minha atitude, ela ameaçou ir embora de novo. Apesar do medo, eu estava feliz em vê-la. Queria que ficasse. Abri os braços e deixei que se aconchegasse. Sua pele era gelada, e de seu hálito desprendia um cheiro de coisa podre, mas não importei. Era o meu amor que ali estava. Passamos aquela noite toda conversando. Ela me contou que nunca partiu para o outro lado, pois sabia que se o fizesse nunca mais voltaria para junto de mim. Passou bastante tempo vagando tristemente dentro do cemitério, até que ouviu o meu chamado. Estamos juntos de novo. Vou para o trabalho ansioso para que o dia acabe para poder estar com Ana. Dizem que estou louco, pois compro roupas, artigos, e perfumes femininos. Passo os fins de semana trancado em casa, e me recuso a receber visitas. Minha mãe é a que mais sofre com essa situação. Confessei a ela que minha esposa voltou para mim. Ela se desesperou, e prometeu me levar ao psiquiatra. Para tranquiliza-la e provar que estou dizendo a verdade, fotografei Ana enquanto assistia televisão. Acredito que a maquina deve estar com problema, pois no lugar da minha amada saiu apenas um borrão.
Faz exatamente seis anos que minha esposa morreu, e faz cinco anos que ela voltou para a nossa casa. Ana sempre foi uma mulher alegre, carinhosa, e apaixonada por mim. Fomos casados durante dez anos. Era um bom relacionamento. Havia respeito e muito amor. Não tivemos filhos, apesar de desejarmos profundamente. De repente ela começou a sentir náuseas, dores no estomago, e a vomitar após se alimentar. O diagnóstico médico acusou câncer. Nessa época ela estava com trinta anos, e por ser ainda jovem, acreditamos que se curaria. Só que ela não se curou. Morreu seis meses depois de descoberta a doença. Sofri muita a sua perda, e seguindo os conselhos dos meus pais, viajei. Passei quase um ano em outra cidade, no sítio da minha avó materna. Uma manhã resolvi que já estava na hora de retornar. Eu tinha um pequeno comercio e precisava tocá-lo. Quando abri a porta de casa, a saudade me trouxe lágrimas aos olhos. Fui revendo as nossas coisas, Relembrando a forma como ela se enrolava no sofá para assistir televisão. O jeito que ela sorria e olhava para mim quando achava alguma coisa engraçada. Sua voz manhosa me pedindo algo. Ainda chorando, fui até o nosso quarto. Notei uma pequena bolsinha caída debaixo da cama. Nela havia moedas e um pequeno bilhete endereçado a mim. Ela dizia o quanto me amava, e o quanto eu era importante em sua vida. Solucei de dor, e em desespero comecei a dizer que queria que ela voltasse. A principio eram apenas murmúrios, mas logo passei a implorar alto pela sua volta. Abatido acabei adormecendo abraçado ao seu travesseiro. Acordei com o som da televisão. Fiquei confuso. Eu havia trancado a porta, e ninguém possuía a chave. Senti um formigamento na nuca enquanto me aproximava da sala. Um grito escapou de minha garganta quando a vi deitada no sofá entretida com a novela. _Oi amor ela disse docemente. Por que esse espanto? Não ficou feliz com a minha volta? _ Gaguejei algo em resposta enquanto a analisava. Estava usando o vestido rosa com o qual fora enterrada, e apesar da palidez estava bonita como sempre. Ana se levantou e pediu um abraço. Todo o meu corpo se arrepiava enquanto ela ia se aproximando. Pensei em gritar, correr, mas fiquei ali parado olhando fixamente para ela. Magoada pela minha atitude, ela ameaçou ir embora de novo. Apesar do medo, eu estava feliz em vê-la. Queria que ficasse. Abri os braços e deixei que se aconchegasse. Sua pele era gelada, e de seu hálito desprendia um cheiro de coisa podre, mas não importei. Era o meu amor que ali estava. Passamos aquela noite toda conversando. Ela me contou que nunca partiu para o outro lado, pois sabia que se o fizesse nunca mais voltaria para junto de mim. Passou bastante tempo vagando tristemente dentro do cemitério, até que ouviu o meu chamado. Estamos juntos de novo. Vou para o trabalho ansioso para que o dia acabe para poder estar com Ana. Dizem que estou louco, pois compro roupas, artigos, e perfumes femininos. Passo os fins de semana trancado em casa, e me recuso a receber visitas. Minha mãe é a que mais sofre com essa situação. Confessei a ela que minha esposa voltou para mim. Ela se desesperou, e prometeu me levar ao psiquiatra. Para tranquiliza-la e provar que estou dizendo a verdade, fotografei Ana enquanto assistia televisão. Acredito que a maquina deve estar com problema, pois no lugar da minha amada saiu apenas um borrão.