O Papa é Pop e Algo Mais...
Todas as emissoras de televisão transmitiam com grande alegria e demasiado estardalhaço, o desfile do Santo Papa pela avenida central da cidade. Emocionados, os jovens peregrinos amontoavam-se nas calçadas em busca de um vislumbre de Sua Santidade. Procuravam naquele homem de vestes brancas simples, eleito por outros homens como o representante de Deus na terra, algo de celestial, de sagrado, embora nem sempre a busca, por mais pura e justa que seja, leve ao encontro.
A delegação papal aproximava-se de seu destino, a prefeitura da cidade, quando o Papa-Móvel parou para que o homem de face bondosa, que irradiava amor em suas palavras de misericórdia, descesse. A multidão estava incontrolável. Todos desejavam um pedaço de Deus, todos queriam experimentar a divindade, o paraíso. Com seus passos curtos e calmos, o papa aproximou-se de uma jovem mãe que carregava seu rebento nos braços, um menino recém-nascido. Como um sinal de Deus, como um sinal de milagre ou qualquer coisa que justifique uma sincronicidade oportuna, a criança sorrira para aquele velho que ela não sabia, era considerado sagrado por todos os outros que tendo vivido já mais do que ela, haviam sido ensinados sobre essas coisas que tornam algumas pessoas melhores do que outras.
-Que Deus lhe abençoe - disse o Papa, ao segurar o bebê nos braços. Os repórteres entram em extase. "Que cena linda!", diziam as pessoas no conforto acomodado de suas casas. Estaria na capa de todas as revistas no dia seguinte. Não havia mais dúvidas, este Papa era pop. Aí então, como se tomado de um desejo íntimo que realizasse com grande prazer, o Santo Papa umidificou os lábios e arreganhando os seus dentões amarelados e sedentos, abocanhou o topo da cabecinha da criança, retirando com grande violência o seu pequeno cérebro.
Agora, não havia mais dúvidas, o Papa era um zumbi. Mas as capas das revistas no outro dia continuariam sendo sobre aquele bebê, que mesmo tendo parte do corpo arrancado pelo velhote de dentes amarelados, sorria como se atingindo pela tão desejada divindade.